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19/12/2005
-
09h44
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo
Poucas coisas seriam mais esquisitas que um álbum de família dos plateosauros, dinos herbívoros que viveram há 200 milhões de anos. Alguns bichos poderiam ter até o dobro do tamanho de seus "primos" da mesma idade, acaba de descobrir uma dupla de cientistas alemães --uma observação que pode revirar diversas idéias sobre o metabolismo e a evolução dos dinossauros.
Explica-se: até agora, a maioria dos paleontólogos assumia que todos os membros do grupo dos dinos tivessem um desenvolvimento relativamente rápido e uniforme, que culminava num tamanho adulto também pouco variável, tal e qual as aves (suas muito prováveis descendentes) e os mamíferos de hoje.
Por outro lado, os répteis modernos crescem de forma bem mais vagarosa e podem atingir tamanhos "finais" variáveis, dependendo de fatores como clima e falta (ou abundância) de comida. Ora, os ossos fossilizados do Plateosaurus engelhardti, como é conhecido formalmente, sugerem que ele era, digamos, do modelo antigo nesse quesito.
Lagartos de araque
A idéia pode parecer estranha para quem sempre considerou os dinossauros apenas uma variedade supercrescida de lagarto, mas o fato é que, pelo menos segundo as evidências desenterradas até agora, o grupo desenvolveu cedo um metabolismo bem diferente do de seus ancestrais reptilianos. É o que explica o paleontólogo Martin Sander, da Universidade de Bonn, que assina junto com Nicole Klein o estudo sobre o plateossauro que está na última edição da revista americana "Science" (www.sciencemag.org).
Segundo Sander, virtualmente todos os dinossauros estudados até hoje possuem um tipo de tecido conhecido como complexo fibrolamelar em seus ossos longos (os dos patas, por exemplo). "Ele não é depositado em camadas finas, mas como se fosse uma moldura solta que depois é preenchida gradualmente", conta Sander.
Apressadinhos
Essa característica permite que o complexo fibrolamelar cresça muito mais rápido que qualquer outro tipo de osso. Nos dias atuais, bichos de sangue quente (aves e mamíferos) o possuem, enquanto crocodilos, lagartos e tartarugas não o têm. "Esse é um bom argumento para afirmar que os dinossauros tinham uma taxa metabólica muito mais alta que a dos répteis mais primitivos", ou seja, também tinham sangue quente, afirma o paleontólogo.
Até aí tudo bem. Afinal, os plateossauros, herbívoros pescoçudos e meio bípedes que podiam alcançar até 10 m e viveram na Europa Central, pareciam apresentar o tipo adequado de osso.
Mas o panorama mudou um bocado quando a dupla alemã se pôs a examinar em detalhe, ao microscópio, a estrutura externa dos ossos longos. Eles descobriram que a marca do fim do crescimento --um outro tipo de tecido ósseo, com pouco ou nenhum sinal de vasos sangüíneos-- aparecia nos mais variados tamanhos. Tanto bichos de 5 m quanto de 10 m apresentavam esse tipo de osso.
Embaralhando a árvore
Essa plasticidade de desenvolvimento, como os cientistas costumam chamá-la, pode derrubar a idéia de que o ancestral comum dos dinos e dos pterossauros (grupo de répteis voadores) já tinha sangue quente e metabolismo apressadinho, diz Sander.
"Os nossos resultados, assim como algumas outras evidências, podem indicar que uma taxa metabólica elevada se originou várias vezes, de forma independente, nos pterossauros, nos sauropodomorfos [grupo que inclui o Plateosaurus], nos terópodes [os dinos carnívoros] e nos ornitísquios [outro grupo de dinos herbívoros]. É uma hipótese bastante herética, mas é possível testá-la se examinarmos outros dinossauros", afirma o paleontólogo.
Outra explicação possível é que a plasticidade dos plateosauros seja apenas o resultado de uma característica mais primitiva que se manifestou de novo. Sander especula que talvez os bichos misturassem características "avançadas" e "antigas": taxa elevada de metabolismo (sugerida pelo complexo fibrolamelar) e plasticidade de crescimento em resposta às variações do ambiente.
Independente do que for encontrado em outros dinos primitivos, a mensagem é clara: os bichos ainda guardam surpresas.
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Poucas coisas seriam mais esquisitas que um álbum de família dos plateosauros, dinos herbívoros que viveram há 200 milhões de anos. Alguns bichos poderiam ter até o dobro do tamanho de seus "primos" da mesma idade, acaba de descobrir uma dupla de cientistas alemães --uma observação que pode revirar diversas idéias sobre o metabolismo e a evolução dos dinossauros.
Explica-se: até agora, a maioria dos paleontólogos assumia que todos os membros do grupo dos dinos tivessem um desenvolvimento relativamente rápido e uniforme, que culminava num tamanho adulto também pouco variável, tal e qual as aves (suas muito prováveis descendentes) e os mamíferos de hoje.
Por outro lado, os répteis modernos crescem de forma bem mais vagarosa e podem atingir tamanhos "finais" variáveis, dependendo de fatores como clima e falta (ou abundância) de comida. Ora, os ossos fossilizados do Plateosaurus engelhardti, como é conhecido formalmente, sugerem que ele era, digamos, do modelo antigo nesse quesito.
Lagartos de araque
A idéia pode parecer estranha para quem sempre considerou os dinossauros apenas uma variedade supercrescida de lagarto, mas o fato é que, pelo menos segundo as evidências desenterradas até agora, o grupo desenvolveu cedo um metabolismo bem diferente do de seus ancestrais reptilianos. É o que explica o paleontólogo Martin Sander, da Universidade de Bonn, que assina junto com Nicole Klein o estudo sobre o plateossauro que está na última edição da revista americana "Science" (www.sciencemag.org).
Segundo Sander, virtualmente todos os dinossauros estudados até hoje possuem um tipo de tecido conhecido como complexo fibrolamelar em seus ossos longos (os dos patas, por exemplo). "Ele não é depositado em camadas finas, mas como se fosse uma moldura solta que depois é preenchida gradualmente", conta Sander.
Apressadinhos
Essa característica permite que o complexo fibrolamelar cresça muito mais rápido que qualquer outro tipo de osso. Nos dias atuais, bichos de sangue quente (aves e mamíferos) o possuem, enquanto crocodilos, lagartos e tartarugas não o têm. "Esse é um bom argumento para afirmar que os dinossauros tinham uma taxa metabólica muito mais alta que a dos répteis mais primitivos", ou seja, também tinham sangue quente, afirma o paleontólogo.
Até aí tudo bem. Afinal, os plateossauros, herbívoros pescoçudos e meio bípedes que podiam alcançar até 10 m e viveram na Europa Central, pareciam apresentar o tipo adequado de osso.
Mas o panorama mudou um bocado quando a dupla alemã se pôs a examinar em detalhe, ao microscópio, a estrutura externa dos ossos longos. Eles descobriram que a marca do fim do crescimento --um outro tipo de tecido ósseo, com pouco ou nenhum sinal de vasos sangüíneos-- aparecia nos mais variados tamanhos. Tanto bichos de 5 m quanto de 10 m apresentavam esse tipo de osso.
Embaralhando a árvore
Essa plasticidade de desenvolvimento, como os cientistas costumam chamá-la, pode derrubar a idéia de que o ancestral comum dos dinos e dos pterossauros (grupo de répteis voadores) já tinha sangue quente e metabolismo apressadinho, diz Sander.
"Os nossos resultados, assim como algumas outras evidências, podem indicar que uma taxa metabólica elevada se originou várias vezes, de forma independente, nos pterossauros, nos sauropodomorfos [grupo que inclui o Plateosaurus], nos terópodes [os dinos carnívoros] e nos ornitísquios [outro grupo de dinos herbívoros]. É uma hipótese bastante herética, mas é possível testá-la se examinarmos outros dinossauros", afirma o paleontólogo.
Outra explicação possível é que a plasticidade dos plateosauros seja apenas o resultado de uma característica mais primitiva que se manifestou de novo. Sander especula que talvez os bichos misturassem características "avançadas" e "antigas": taxa elevada de metabolismo (sugerida pelo complexo fibrolamelar) e plasticidade de crescimento em resposta às variações do ambiente.
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