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02/03/2006
-
09h51
RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo
O plantio de milho é pelo menos mil anos mais antigo do que se achava na região andina da América do Sul, berço de civilizações importantes, como a dos incas. E, mesmo nesse passado distante, já havia alguma forma de comércio de produtos agrícolas entre regiões, segundo a mesma pesquisa, relatada na edição de hoje da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com).
A pesquisadora Linda Perry, do Instituto Smithsonian, e mais seis colegas de instituições dos EUA, Peru e Panamá, escavaram os restos de uma casa de 4.000 anos de idade no sítio arqueológico de Waynuna, no sul do Peru.
A casa fica a uma altitude de 3.625 metros, justamente em uma área de transição entre duas zonas ecológicas com diferentes potenciais para o cultivo de plantas.
De 2.300 m a 3.600 m fica um vale temperado onde se pode produzir milho intensivamente com a ajuda da irrigação. E de 3.600 m a 4.000 m não é mais possível plantar a gramínea, mesmo irrigando o solo: a área é dedicada a tubérculos como a batata.
Como o ambiente é úmido, a preservação de restos de plantas é prejudicada. Perry e colegas tiveram de procurar por restos microscópicos, como grânulos de amido. Foram identificados 1.077 grânulos, dos quais 970 com certeza provêm de espigas e folhas de milho. Uma quantidade bem menor era de batata e araruta.
A batata era previsível. Já a araruta, nem tanto --trata-se de uma planta típica de zonas baixas do continente, da floresta tropical, não podendo ser produzida acima de 1.000 m de altitude.
Que restos de araruta tenham sido achados ali prova que alguma forma de comércio havia entre as zonas altas e baixas dos Andes e da Amazônia --segundo os autores, trata-se da prova mais antiga dessa conexão.
A região de Waynuna também está próxima a locais onde pode ser minerada a rocha obsidiana, muito usada na pré-história para fabricação de instrumentos de pedra. A presença de água no local também tornou o sítio um local desejável para grupos de camponeses, antigos e atuais.
A revolução agrícola foi fundamental para o desenvolvimento de civilizações e sociedades complexas em vários pontos do planeta, como a China, o Egito e o Crescente Fértil do Oriente Médio (no atual Iraque e adjacências).
Não há consenso entre os historiadores sobre o local preciso em que começou a cultura do milho, mas há poucas dúvidas de que tenha sido em regiões montanhosas do México. De lá é que ele teria chegado lentamente aos Andes.
A evidência mais antiga de milho cultivado nas Américas foi encontrada na caverna de Guilá Naquitz, em Oaxaca, México, e datada em 6.250 anos atrás por Dolores Piperno e K. V. Flannery. Piperno é também co-autora do estudo de hoje na "Nature".
Além disso, trabalhos anteriores da pesquisadora sugerem que o primeiro vegetal domesticado na América do Sul foi uma espécie de abóbora, há quase 10 mil anos.
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O plantio de milho é pelo menos mil anos mais antigo do que se achava na região andina da América do Sul, berço de civilizações importantes, como a dos incas. E, mesmo nesse passado distante, já havia alguma forma de comércio de produtos agrícolas entre regiões, segundo a mesma pesquisa, relatada na edição de hoje da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com).
A pesquisadora Linda Perry, do Instituto Smithsonian, e mais seis colegas de instituições dos EUA, Peru e Panamá, escavaram os restos de uma casa de 4.000 anos de idade no sítio arqueológico de Waynuna, no sul do Peru.
A casa fica a uma altitude de 3.625 metros, justamente em uma área de transição entre duas zonas ecológicas com diferentes potenciais para o cultivo de plantas.
De 2.300 m a 3.600 m fica um vale temperado onde se pode produzir milho intensivamente com a ajuda da irrigação. E de 3.600 m a 4.000 m não é mais possível plantar a gramínea, mesmo irrigando o solo: a área é dedicada a tubérculos como a batata.
Como o ambiente é úmido, a preservação de restos de plantas é prejudicada. Perry e colegas tiveram de procurar por restos microscópicos, como grânulos de amido. Foram identificados 1.077 grânulos, dos quais 970 com certeza provêm de espigas e folhas de milho. Uma quantidade bem menor era de batata e araruta.
A batata era previsível. Já a araruta, nem tanto --trata-se de uma planta típica de zonas baixas do continente, da floresta tropical, não podendo ser produzida acima de 1.000 m de altitude.
Que restos de araruta tenham sido achados ali prova que alguma forma de comércio havia entre as zonas altas e baixas dos Andes e da Amazônia --segundo os autores, trata-se da prova mais antiga dessa conexão.
A região de Waynuna também está próxima a locais onde pode ser minerada a rocha obsidiana, muito usada na pré-história para fabricação de instrumentos de pedra. A presença de água no local também tornou o sítio um local desejável para grupos de camponeses, antigos e atuais.
A revolução agrícola foi fundamental para o desenvolvimento de civilizações e sociedades complexas em vários pontos do planeta, como a China, o Egito e o Crescente Fértil do Oriente Médio (no atual Iraque e adjacências).
Não há consenso entre os historiadores sobre o local preciso em que começou a cultura do milho, mas há poucas dúvidas de que tenha sido em regiões montanhosas do México. De lá é que ele teria chegado lentamente aos Andes.
A evidência mais antiga de milho cultivado nas Américas foi encontrada na caverna de Guilá Naquitz, em Oaxaca, México, e datada em 6.250 anos atrás por Dolores Piperno e K. V. Flannery. Piperno é também co-autora do estudo de hoje na "Nature".
Além disso, trabalhos anteriores da pesquisadora sugerem que o primeiro vegetal domesticado na América do Sul foi uma espécie de abóbora, há quase 10 mil anos.
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