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10/03/2006 - 11h36

Ilha de Páscoa teve "civilização-relâmpago"

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Pelo visto, os exploradores polinésios que colonizaram a ilha de Páscoa, o terreno habitável mais isolado do planeta, não gostavam de perder tempo. Segundo um novo estudo, eles teriam chegado ao lugar cerca de 400 anos depois do que se imaginava, construindo uma das civilizações mais impressionantes do Pacífico no espaço de pouco mais de um século.

Se estiver correto, o trabalho de Terry Hunt e Carl Lipo, da Universidade do Havaí em Manoa (Estados Unidos), também sugere que a devastação ambiental na ilha, chamada de Rapa Nui por seus nativos, começou no momento em que o primeiro ser humano pôs os pés lá. A dupla de arqueólogos, no entanto, diz que a destruição das espécies típicas da ilha não tem a ver com o colapso da civilização que a habitou, batendo de frente com a interpretação da maioria dos cientistas hoje.

Não é à toa que até seres alienígenas donos de tecnologia avançada já foram invocados para entender a civilização da ilha de Páscoa. Quando os primeiros europeus puseram os pés no local, que está a 3.600 km da costa do Chile e a mais de 2.000 km da ilha mais próxima, acharam centenas de estátuas (os "moai") com 10 m de altura e várias toneladas, em meio a um povo que usava instrumentos de pedra e cujas canoas, de tão ruins, mal conseguiam se afastar alguns quilômetros da ilha. Como explicar uma coisa dessas?

Ao longo do século 20, escavações arqueológicas começaram a contar uma história menos maluca. Embora o atual solo de Rapa Nui seja um descampado só, os cientistas encontraram restos de uma palmeira extinta com dezenas de metros de altura (a maior do mundo, na verdade), bem como de uma rica floresta subtropical que teria coberto a ilha. Isso teria fornecido aos ilhéus matéria-prima abundante para suas canoas e meios de carregar e montar suas estátuas gigantes.

O problema, diz Hunt, é que as datas obtidas inicialmente para o início da colonização não casam bem com os primeiros sinais de desmatamento, que aparecem por volta do ano 1200. "Os polinésios trouxeram plantas agrícolas e ratos com eles. É difícil imaginar que eles mantivessem por tanto tempo uma população pequena, sem um impacto imediato sobre a ilha", afirmou Hunt à Folha.

Com isso na cabeça, os arqueólogos voltaram a escavar o sítio de Anakena. "É o único ancoradouro da ilha com uma praia arenosa grande, além de ser considerada pelos nativos o seu local tradicional de desembarque", diz Hunt, o que sugere que se trata de uma das primeiras áreas ocupadas.

Eles dataram material orgânico ligado à chegada dos humanos --ossos de ratos, de mamíferos marinhos caçados e de palmeiras derrubadas, por exemplo-- e avaliaram as datas obtidas por outros pesquisadores. O resultado é que as novas datas caem todas por volta do ano 1200; já nas antigas não dá para confiar, segundo Hunt, porque elas não levam em conta coisas como a contaminação por carbono de origem marinha, "que fazem o peixe que você comeu ontem parecer ter 300 anos de idade", afirma ele.

Hunt, porém, vai mais longe. Muitos pesquisadores associam a destruição dos "moai" e histórias sobre guerras, fome e canibalismo na ilha à devastação ambiental, que teria deixado o solo pobre. "Acho que não sabemos tanto sobre a ilha quanto pensávamos que sabíamos", afirma. Para ele, o colapso da sociedade ali teria vindo só com a chegada dos europeus.

O estudo está na edição de hoje da revista americana "Science".

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