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12/04/2006
-
10h12
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo
O álbum de família dos dinossauros brasileiros acaba de ganhar dois novos membros. É uma dupla de titãs --aliás, titanossauros, para ser mais exato. São duas espécies recém-descritas de grandes dinos de pescoço longo e comedores de plantas, que viveram em Peirópolis, perto da atual cidade mineira de Uberaba, há cerca de 70 milhões de anos.
A "certidão de nascimento" dos novos bichos, batizados de Baurutitan britoi e Trigonosaurus pricei, está na revista científica "Arquivos do Museu Nacional", publicada, como o nome indica, pelo Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O B. britoi foi descrito por Alexander Kellner e Marcello Trotta, do Museu Nacional, e Diógenes de Almeida Campos, do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral).
Já a paternidade científica do T. pricei pertence a Reinaldo José Bertini e Rodrigo Santucci, ambos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro, e também a Kellner e Campos, que assinam o outro estudo.
Gigantes tamanho P
Embora sejam maiores que qualquer animal terrestre moderno --com comprimento estimado entre 9,5 m e 12 m e entre 10 e 12 toneladas--, ambos os dinossauros são relativamente modestos se comparados a alguns de seus parentes. Há quem fale em titanossaurídeos com mais de 30 m de comprimento, como algumas formas argentinas.
"Além da diferença de idade, já que esses animais argentinos são mais antigos, no Sudeste a quantidade de vegetação disponível provavelmente era menor, o que talvez explique o tamanho menor dos titanossauros aqui", avalia Bertini. Tudo indica, segundo o paleontólogo da Unesp, que os titanossauros fossem o tipo de herbívoro dominante no ambiente semi-árido que existia no interior mineiro e paulista.
Apesar do estado incompleto dos fósseis, Kellner diz que a preservação do material é "fenomenal". "Os ossos não estão compactados nem sofreram distorção, o que é muito importante para que a gente consiga separar uma espécie da outra", afirma Kellner, que acaba de lançar o livro "Pterossauros - Os Senhores do Céu do Brasil", sobre seu trabalho com répteis voadores pré-históricos.
Um detalhezinho das vértebras caudais do Baurutitan, por exemplo, ajuda a diferenciá-lo, explica Kellner. Na região que estaria mais próxima da bacia, o bicho tem projeções laterais mais robustas, os chamados processos laterais transversos --possível sinal de uma musculatura mais forte.
"É curioso como essas vértebras de saurópode [classificação geral dos dinos pescoçudos] alcançaram uma diversidade morfológica fascinante. Com uma só delas você consegue fazer ilações bastante apropriadas sobre a classificação do animal", diz Bertini. A função dessa diversidade ainda não está clara, mas talvez tenha a ver com as diferentes posturas que cada espécie podia assumir --alguns dos grandalhões, especula-se, poderiam até se apoiar só nas patas traseiras para comer.
Os nomes pricei e britoi homenageiam duas figuras históricas da paleontologia brasileira: Llewellyn Ivor Price (que coletou boa parte dos fósseis de Peirópolis) e Inácio Machado Brito. "O Brito foi meu professor e ajudou a formar muita gente. Tinha muita habilidade para passar os conceitos --era aquele professor que não complicava a vida de ninguém", recorda-se Campos.
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da Folha de S.Paulo
O álbum de família dos dinossauros brasileiros acaba de ganhar dois novos membros. É uma dupla de titãs --aliás, titanossauros, para ser mais exato. São duas espécies recém-descritas de grandes dinos de pescoço longo e comedores de plantas, que viveram em Peirópolis, perto da atual cidade mineira de Uberaba, há cerca de 70 milhões de anos.
A "certidão de nascimento" dos novos bichos, batizados de Baurutitan britoi e Trigonosaurus pricei, está na revista científica "Arquivos do Museu Nacional", publicada, como o nome indica, pelo Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O B. britoi foi descrito por Alexander Kellner e Marcello Trotta, do Museu Nacional, e Diógenes de Almeida Campos, do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral).
Murilo de Oliveira/Divulgação |
Escultura mostra como seria o Trigonosaurus pricei |
Gigantes tamanho P
Embora sejam maiores que qualquer animal terrestre moderno --com comprimento estimado entre 9,5 m e 12 m e entre 10 e 12 toneladas--, ambos os dinossauros são relativamente modestos se comparados a alguns de seus parentes. Há quem fale em titanossaurídeos com mais de 30 m de comprimento, como algumas formas argentinas.
"Além da diferença de idade, já que esses animais argentinos são mais antigos, no Sudeste a quantidade de vegetação disponível provavelmente era menor, o que talvez explique o tamanho menor dos titanossauros aqui", avalia Bertini. Tudo indica, segundo o paleontólogo da Unesp, que os titanossauros fossem o tipo de herbívoro dominante no ambiente semi-árido que existia no interior mineiro e paulista.
Apesar do estado incompleto dos fósseis, Kellner diz que a preservação do material é "fenomenal". "Os ossos não estão compactados nem sofreram distorção, o que é muito importante para que a gente consiga separar uma espécie da outra", afirma Kellner, que acaba de lançar o livro "Pterossauros - Os Senhores do Céu do Brasil", sobre seu trabalho com répteis voadores pré-históricos.
Um detalhezinho das vértebras caudais do Baurutitan, por exemplo, ajuda a diferenciá-lo, explica Kellner. Na região que estaria mais próxima da bacia, o bicho tem projeções laterais mais robustas, os chamados processos laterais transversos --possível sinal de uma musculatura mais forte.
"É curioso como essas vértebras de saurópode [classificação geral dos dinos pescoçudos] alcançaram uma diversidade morfológica fascinante. Com uma só delas você consegue fazer ilações bastante apropriadas sobre a classificação do animal", diz Bertini. A função dessa diversidade ainda não está clara, mas talvez tenha a ver com as diferentes posturas que cada espécie podia assumir --alguns dos grandalhões, especula-se, poderiam até se apoiar só nas patas traseiras para comer.
Os nomes pricei e britoi homenageiam duas figuras históricas da paleontologia brasileira: Llewellyn Ivor Price (que coletou boa parte dos fósseis de Peirópolis) e Inácio Machado Brito. "O Brito foi meu professor e ajudou a formar muita gente. Tinha muita habilidade para passar os conceitos --era aquele professor que não complicava a vida de ninguém", recorda-se Campos.
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