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17/04/2006 - 09h50

Fósseis viram piso em shoppings paulistas

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Os fósseis mais antigos do Brasil são pisoteados diariamente por várias centenas de pessoas. Não se trata, porém, de mais um caso de desrespeito ao patrimônio: os restos pré-históricos fazem parte do mármore que pavimenta dois shoppings de São Paulo, e registram a existência de bactérias por aqui há 2 bilhões de anos.

A rigor, os resquícios, conhecidos como estromatólitos, não são as próprias bactérias mas resultam da ação delas. "A gente já sabia da presença deles no mármore faz bastante tempo, mas acabou tendo a idéia de trazer isso a público, porque é algo que as pessoas nem imaginam que esteja tão perto", disse à Folha o geólogo William Sallun Filho, 32, do Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Juntamente com Thomas Fairchild, da USP, ele percebeu a presença dos estromatólitos nos shoppings Eldorado e Ibirapuera.

Segundo Sallun Filho, não foi difícil reconhecer o local de origem do mármore que contém os fósseis: uma pedreira em Minas Gerais, na região de Ouro Preto, que ele e Fairchild costumavam visitar para estudos de campo. Os estromatólitos ali datam do Paleoproterozóico, uma era na qual grandes quantidades de oxigênio foram injetadas na atmosfera da Terra pela primeira vez.

Por trás dessa grande mudança estão justamente organismos como os que criaram as estruturas laminadas vistas hoje no mármore dos shoppings. As cianobactérias são micróbios muito simples, com um papel geoquímico vital: elas usam a luz do Sol para alimentar seu metabolismo e, como subproduto, liberam oxigênio.

"Elas formavam uma colônia, cuja existência dependia da luz e de um ambiente de praia", explica o geólogo. Em grego, "estromatólito" quer dizer algo como "tapete de pedra", e uma olhada mais atenta nas estruturas ajuda a explicar o porquê.

As cianobactérias usavam o substrato debaixo da água rasa para se multiplicar, formando uma espécie de tapete microbiano, cheio de muco. Partículas que flutuam na água e o carbonato de cálcio dissolvido nela tendem a ser capturados por esse limo, afundando quando os microrganismos morrem. Novas gerações bacterianas voltam a crescer por cima desse sedimento, formando nova lâmina de crescimento. Esse processo, repetido ao longo de milhões de anos, deu origem a verdadeiras colunas de calcário, criadas pela ação das bactérias.

Em alguns lugares do mundo, como Shark Bay, na costa australiana ou a Lagoa Salgada, no litoral do Rio de Janeiro, o processo ainda está acontecendo. As formas que podem aparecer são variadas, incluindo ramificações intrincadas, mas uma das mais características é a de abóbadas. Segundo Sallun Filho, essa é provavelmente a que assumiam os estromatólitos brasileiros de 2 bilhões de anos atrás. Eles deviam ser modestos, "com um máximo de cinco centímetros, como se fossem vários cocorutozinhos", compara.

Seres vivos mais complexos, como fungos ou algas "verdadeiras", também podem dar origem a estromatólitos. Ambientes marinhos rasos ou lagoas salinas são mais favoráveis ao estabelecimento deles, mas outros contextos (como águas termais, por exemplo) também são possíveis.

Os visitantes do Shopping Eldorado, pelo visto, não têm idéia de onde estão colocando os pés quando passeiam pelo primeiro andar do prédio. "Eu não acreditaria se me dissessem que eu estou pisando nos fósseis mais antigos do Brasil", afirmou a dona-de-casa Claudia Pacheco, 37. "Eu acredito!", intrometeu-se a filha de Pacheco, Carolina, 7. "É uma coisa histórica. Eles deveriam fazer um museu", opinou o advogado Francisco Sigoia, 40.

O shopping estuda a criação de um estande explicativo no local. Para Sallun Filho, a exploração de mármore na pedreira de origem dos estromatólitos ainda não representa problemas, já que os fósseis são extremamente abundantes naquele local.

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