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23/06/2006 - 10h02

Conchas são "jóia" mais velha do mundo

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

As jóias mais importantes da história da humanidade têm 100 mil anos, 25 mil a mais do que se achava até agora. Qualquer criança poderia fazê-las hoje --são conchinhas furadas para uso em colares. Mas, feitas por homens ou mulheres pré-históricos, elas sinalizam o momento em que o ser humano passou a ser culturalmente moderno. E por isso são valiosas.

Reprodução/Science
Conchas de colar achadas em Israel
Conchas de colar achadas em Israel
Dois anos atrás, uma equipe internacional de cinco pesquisadores havia achado na caverna de Blombos, na África do Sul, uma coleção de conchas furadas que interpretaram como tendo pertencido a um colar de contas de 75 mil anos de idade.

A equipe era chefiada por Christopher Henshilwood, professor da Universidade de Bergen, Noruega e da Universidade Estadual de Nova York. "Existem apenas 41 conchas, e cada uma delas é uma conta de colar, com furos no mesmo lugar", disse ele, respondendo a céticos que achavam que as conchas poderiam ter sido furadas por processos naturais.

Desde então, os pesquisadores continuaram à procura de mais jóias semelhantes --só que nas prateleiras dos museus. E acharam três conchas parecidas nos sítios arqueológicos de Skhul, em Israel, e de Oued Djebbana, na Argélia. As conchinhas, todas da espécie Nassarius gibbosulus, estavam em museus em Londres e Paris.

"O material estava guardado aqui por mais de setenta anos, mas até há pouco ninguém pensaria que esse tipo de comportamento poderia estar presente 100 mil anos atrás, por isso ninguém procurou", diz um dos autores do estudo, Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres.

"Mas a evidência da caverna de Blombos nos alertou para a possibilidade, e por isso eu convidei pesquisadores desse trabalho para ver as poucas conchas preservadas das escavações de Skhul", diz Stringer.

O estudo foi publicado na edição de hoje da revista científica norte-americana "Science".

"Nosso artigo apóia um cenário no qual os seres humanos modernos na África desenvolveram comportamentos que são considerados modernos bem cedo", afirma Francesco d'Errico, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, co-autor do estudo.

Uma visão oposta afirma que o homem só se tornou culturalmente moderno há cerca de 40 mil anos, quando teria havido uma "explosão simbólica", por exemplo refletida nas belas pinturas de caverna na Europa. O sítio em Israel, a 3 km ao sul de Haifa, foi escavado de 1931 em diante. O sítio argelino, a 200 km do mar Mediterrâneo, foi descrito a partir de 1919 e escavado nos anos 1940.

A distância dos sítios do mar é um fator importante na avaliação das conchas, especialmente no caso do sítio argelino. "Mas quando você combina isso com a evidência existente de Skhul de um enterro simbólico, de um homem segurando a mandíbula inferior de um javali, eu acho que é tão convincente quanto os achados de Blombos em termos de comportamento complexo", diz Stringer.

Para ele, as inovações na história recente da humanidade são raramente perdidas. "Mas, no passado, pequenas populações eram vulneráveis à extinção ou a adaptação relativamente rápida para sobreviver, e isso poderia levar a uma perda de inovações que poderiam ser úteis a longo prazo", afirma.

Isso fica claro quando se nota que inovações importantes --como armas-- surgem em lugares e em épocas diferentes.

Os pesquisadores responsáveis por escavações pioneiras no começo do século 20 usavam pás e picaretas, pois estavam à procura de grandes ossos e ferramentas de pedra. Não passava então pela sua cabeça que simples conchinhas pudessem ter tanto valor científico.

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