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02/08/2006
-
11h10
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
O corte seletivo de árvores na Amazônia é o prenúncio da devastação total da área explorada, revela um estudo publicado ontem por um grupo de brasileiros e americanos. Segundo os pesquisadores, 32,7% das terras que sofrem extração das árvores de interesse comercial acabam completamente devastadas em quatro anos.
A estimativa foi feita por meio de um método de análise de imagens de satélite desenvolvido pelo grupo do biogeólogo Greg Asner, da Universidade Stanford (EUA), em parceria com José Natalino Silva, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Os dois já haviam publicado um estudo importante em 2005, revelando um volume oculto da exploração madeireira. Segundo seus dados, a área de corte é hoje bem maior (possivelmente o dobro) do que se achava.
Agora, em estudo publicado na revista PNAS, Asner, Natalino e colegas analisaram um histórico de dados entre 2000 e 2004 para demonstrar uma relação de causa e efeito entre a exploração madeireira e o desmatamento em si. "Descobrimos que o corte [seletivo] não está sendo tratado como alternativa ao desmatamento, como foi proposto antes", diz Asner.
A porcentagem levantada pelo grupo mostra a probabilidade de uma área de floresta explorada por madeireiros ser ocupada --provavelmente por grileiros-- e convertida em pastagem ou plantação. "É uma causa indireta", diz Natalino. "A exploração florestal, bem ou mal, não desmata, mas promove a exploração desregrada."
O trabalho revela que a área de floresta amazônica afetada pela atividade madeireira foi de 17.200 km2 --equivalente a cerca de três quartos do Estado de Sergipe--, dos quais 5.600 km2 acabaram sendo devastados posteriormente. Os números ajudam a elucidar a dinâmica que se instala na região do Arco do Desmatamento --linha que cruza Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre-- após uma área ser explorada para madeira.
O corte seletivo, sozinho, é quase invisível aos satélites, mas as estradas feitas pelos madeireiros acabam abrindo caminho para os grileiros e a expansão da agropecuária sobre a floresta. Para curar essa "cegueira" dos satélites, Asner criou um método para identificar sinais do corte seletivo escondidos nas imagens --clareiras, estradas e áreas com o dossel da floresta fragmentado. Comparando esses marcadores com dados colhidos em terra, conseguiu validar um método de análise confiável.
Inicialmente, a técnica foi controversa, porque não chegava aos mesmos resultados que outro método, criado pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os dois grupos, porém, estão em conversação para se chegar a um método consensual.
"Nas áreas mais exploradas, os métodos chegam a números parecidos", diz Carlos Souza Júnior, do Imazon. A técnica do instituto deve ser usada para incorporar o corte seletivo à conta geral do desmatamento, divulgada anualmente.
No novo trabalho, Asner também conseguiu quantificar o impacto das estradas sobre o desmatamento de áreas que sofreram corte seletivo. A maior parte concentrou-se num raio de 25 km das vias: a probabilidade das florestas exploradas nesse corredor serem derrubadas foi quatro vezes maior do que a de florestas intactas. "Há uma ligação forte da exploração com o desmatamento, e a madeira pode servir de capital para financiar [a conversão da floresta]", diz Natalino.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre desmatamento na Amazônia
Corte seletivo alimenta desmatamento na Amazônia
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da Folha de S.Paulo
O corte seletivo de árvores na Amazônia é o prenúncio da devastação total da área explorada, revela um estudo publicado ontem por um grupo de brasileiros e americanos. Segundo os pesquisadores, 32,7% das terras que sofrem extração das árvores de interesse comercial acabam completamente devastadas em quatro anos.
A estimativa foi feita por meio de um método de análise de imagens de satélite desenvolvido pelo grupo do biogeólogo Greg Asner, da Universidade Stanford (EUA), em parceria com José Natalino Silva, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Os dois já haviam publicado um estudo importante em 2005, revelando um volume oculto da exploração madeireira. Segundo seus dados, a área de corte é hoje bem maior (possivelmente o dobro) do que se achava.
Agora, em estudo publicado na revista PNAS, Asner, Natalino e colegas analisaram um histórico de dados entre 2000 e 2004 para demonstrar uma relação de causa e efeito entre a exploração madeireira e o desmatamento em si. "Descobrimos que o corte [seletivo] não está sendo tratado como alternativa ao desmatamento, como foi proposto antes", diz Asner.
A porcentagem levantada pelo grupo mostra a probabilidade de uma área de floresta explorada por madeireiros ser ocupada --provavelmente por grileiros-- e convertida em pastagem ou plantação. "É uma causa indireta", diz Natalino. "A exploração florestal, bem ou mal, não desmata, mas promove a exploração desregrada."
O trabalho revela que a área de floresta amazônica afetada pela atividade madeireira foi de 17.200 km2 --equivalente a cerca de três quartos do Estado de Sergipe--, dos quais 5.600 km2 acabaram sendo devastados posteriormente. Os números ajudam a elucidar a dinâmica que se instala na região do Arco do Desmatamento --linha que cruza Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre-- após uma área ser explorada para madeira.
O corte seletivo, sozinho, é quase invisível aos satélites, mas as estradas feitas pelos madeireiros acabam abrindo caminho para os grileiros e a expansão da agropecuária sobre a floresta. Para curar essa "cegueira" dos satélites, Asner criou um método para identificar sinais do corte seletivo escondidos nas imagens --clareiras, estradas e áreas com o dossel da floresta fragmentado. Comparando esses marcadores com dados colhidos em terra, conseguiu validar um método de análise confiável.
Inicialmente, a técnica foi controversa, porque não chegava aos mesmos resultados que outro método, criado pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os dois grupos, porém, estão em conversação para se chegar a um método consensual.
"Nas áreas mais exploradas, os métodos chegam a números parecidos", diz Carlos Souza Júnior, do Imazon. A técnica do instituto deve ser usada para incorporar o corte seletivo à conta geral do desmatamento, divulgada anualmente.
No novo trabalho, Asner também conseguiu quantificar o impacto das estradas sobre o desmatamento de áreas que sofreram corte seletivo. A maior parte concentrou-se num raio de 25 km das vias: a probabilidade das florestas exploradas nesse corredor serem derrubadas foi quatro vezes maior do que a de florestas intactas. "Há uma ligação forte da exploração com o desmatamento, e a madeira pode servir de capital para financiar [a conversão da floresta]", diz Natalino.
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