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25/09/2006 - 09h00

Dinos brasileiros passam por "explosão demográfica"

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Faz 65 milhões de anos que eles se extinguiram, mas, paradoxalmente, os dinossauros brasileiros estão passando agora por uma explosão demográfica, pelo menos em número de espécies descritas. E, entre eles, nenhum grupo está florescendo tanto, em termos de conhecimento científico, quanto o dos titanossauros, herbívoros pescoçudos que foram os maiores animais terrestres de todos os tempos.

Recentemente, a lista passou bem perto de ficar ainda maior, com um gigante mais avantajado que todos os já conhecidos. Não se trata do já célebre Maxakalisaurus topai, um titanossauro apresentado ao público há menos de um mês por pesquisadores do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O M. topai ganhou, além do nome científico, o apelido de maior dinossauro brasileiro, com 13 m de comprimento. Mas um conterrâneo e "primo" dele tinha pelo menos 15 metros de comprimento (e talvez chegasse a 20), revela uma dupla de paleontólogos paulistas.

A existência do monstro foi relatada por Rodrigo Miloni Santucci, do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), e Reinaldo José Bertini, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro, em artigo na revista científica alemã "Neues Jarbuch für Geologie und Paläontologie".

A região de origem do bicho, o distrito de Peirópolis, perto de Uberaba (MG), é a mesma do M. topai. Um dos revisores anônimos do estudo, no entanto, considerou que o material fossilizado --duas vértebras-- não era suficiente para, pelo menos por enquanto, dar à criatura um nome de espécie.

"Foi muito frustrante. As vértebras são completamente distintas, únicas e muito diagnósticas", declarou à Folha Reinaldo Bertini, que já é "pai" de duas outras espécies de titanossauro. Ele e Santucci haviam planejado batizar o gigante, que também é um titanossauro, de Uberabasaurus magnificens ("lagarto magnífico de Uberaba"). Por enquanto, diz o paleontólogo, a dupla ficará em compasso de espera em relação ao material. "Talvez formalizemos algo breve, em outra revista. O mais importante foi dizer que estudamos o material, que traz alguns pontos interessantes para discussão", afirma.

Apesar de estar representado por apenas duas vértebras portentosas, o bicho revela alguns detalhes interessantes. A óbvia robustez dos ossos sugere um andar lento e pausado, como o de um elefante, e os paleontólogos encontraram uma estranha assimetria nas vértebras. "Seria algo patológico? Se o fosse, poderia trazer seqüelas à coluna vertebral do animal", especula Bertini, ressaltando que esse tipo de assimetria não era incomum em saurópodes (o nome genérico para os dinos herbívoros pescoçudos). Como os demais bichos de Uberaba, ele deve ter vivido há cerca de 70 milhões de anos.

Família numerosa

Com mais esse achado, um "boom" tupiniquim de titanossauros parece estar definitivamente configurado. Max Cardoso Langer, paleontólogo da USP de Ribeirão Preto, lembra que, até 1996, só duas espécies de dinossauro (uma delas incerta) tinham sido descritas no país. De lá para cá, a conta saltou para 15, um terço das quais são titanossauros.

O que esses bichos, que apresentavam grande variedade de tamanho (alguns eram relativamente pequenos, com uns 10 metros) e tinham grandes escudos ósseos no couro, podem ter tido de especial?

"O nicho de grandes herbívoros no Cretáceo [a fase final da Era dos Dinossauros] da América do Sul era basicamente ocupado, e muito bem, por titanossauros", diz o pesquisador. "Dos 90 gêneros conhecidos de saurópodes, algo como 30 são titanossauros, e se você se restringe ao Cretáceo, eles passam a ser 30 dos 45. Fica claro que eles eram, em geral, diversos como um todo", explica Langer. Some-se a isso o fato de que talvez não houvesse competidores de outras famílias por aqui na época, e fica explicado porque tantas espécies desses herbívoros andam saindo das rochas do Triângulo Mineiro.

Por outro lado, o paleontólogo Ismar de Souza Carvalho, da UFRJ, diz acreditar que o "boom" de titanossauros pode ser uma ilusão criada pela área mais estudada, a bacia Bauru (que inclui os Estados de São Paulo e Minas Gerais, entre outros), e pela idade que a acompanha. "Se os trabalhos forem mais diversificados geograficamente e temporalmente, os grupos de dinossauros serão outros", avalia.

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