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27/12/2006
-
09h44
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
A menor molécula genética que existe nos humanos tem papel fundamental na determinação das diferenças biológicas encontradas entre homens e outros animais. Principalmente, se o assunto for inteligência.
Cientistas da Universidade de Utrecht, na Holanda, descobriram uma infinidade de novos segmentos pequenos de RNA (molécula prima do DNA) que podem estar relacionados com o aumento da capacidade cognitiva humana. A investigação foi realizada em cérebros de pessoas e de chimpanzés.
Liderado pelo geneticista Ronald Plasterk, o grupo achou no cérebro de primatas 447 novos tipos de microRNAs, moléculas extremamente pequenas, mas de função crucial no organismo. Essas estruturas nanicas correspondem a um trecho de DNA com apenas 20 bases (letras "químicas"), mas são capazes de desligar genes de qualquer tamanho, com até dezenas de milhares de bases.
O estudo dos holandeses, publicado em outubro na revista "Nature Genetics", reforça a idéia de que o genoma esconde muitos tesouros além dos genes. O DNA que não codifica as proteínas também tem bastante importância em todo o processo celular.
"Os microRNAs permitem uma sintonia fina da expressão de genes específica para cada tecido, cada lugar no organismo e cada momento", disse Plasterk à Folha. "O fato de que há tantos microRNAs no cérebro significa que eles estão regulando genes lá."
Essas moléculas têm o potencial de aumentar a diversidade de características entre os neurônios do cérebro, algo que cientistas enxergam como pré-requisito para habilidades cognitivas humanas sofisticadas.
Complexa e bela
O biólogo brasileiro Alysson Muotri, do Instituto Salk (EUA), defende essa idéia. Segundo ele, o estudo dos microRNAs trará muita informação nova, mas ainda não há uma maneira prática de descobrir quais são os genes que eles afetam. "Isso está sendo feito hoje em dia por tentativa e erro", diz. "A beleza dos microRNAs está na complexidade: em geral eles não regulam só um gene cada um. Podem ser centenas."
Os 447 microRNAs descobertos por Plasterk dobram o número de variedades conhecidas dessa molécula, encontrada em humanos pela primeira vez em 2001. Cerca de 8% delas existem só nos humanos e em nenhuma outra espécie. Pode parecer pouco, mas a diferença dos genes codificadores de proteínas entre humanos e chimpanzés, por exemplo, é de 1,5%.
Plasterk diz que seria um exagero dizer que toda a receita para "transformar" um chimpanzé num humano está nos microRNAs, mas não há mais dúvida de que eles exercem papel fundamental. "As diferenças entre os cérebros de chimpanzés e de humanos são de gradação: não acho que os chimpanzés tenham qualquer estrutura ou tecido que não exista no nosso cérebro", diz.
"Como nós gostamos de ler livros e tocar piano, acabamos acreditando que existe uma diferença enorme entre um cérebro que pode ler um livro e outro que não pode."
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a molécula de DNA
"Primo anão" do DNA regula genes ligados à inteligência
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da Folha de S.Paulo
A menor molécula genética que existe nos humanos tem papel fundamental na determinação das diferenças biológicas encontradas entre homens e outros animais. Principalmente, se o assunto for inteligência.
Cientistas da Universidade de Utrecht, na Holanda, descobriram uma infinidade de novos segmentos pequenos de RNA (molécula prima do DNA) que podem estar relacionados com o aumento da capacidade cognitiva humana. A investigação foi realizada em cérebros de pessoas e de chimpanzés.
Liderado pelo geneticista Ronald Plasterk, o grupo achou no cérebro de primatas 447 novos tipos de microRNAs, moléculas extremamente pequenas, mas de função crucial no organismo. Essas estruturas nanicas correspondem a um trecho de DNA com apenas 20 bases (letras "químicas"), mas são capazes de desligar genes de qualquer tamanho, com até dezenas de milhares de bases.
Nigel Fraser/Universidade da Pensilvânia |
Vírus usa RNAs para infectar neurônios (manchas escuras) |
"Os microRNAs permitem uma sintonia fina da expressão de genes específica para cada tecido, cada lugar no organismo e cada momento", disse Plasterk à Folha. "O fato de que há tantos microRNAs no cérebro significa que eles estão regulando genes lá."
Essas moléculas têm o potencial de aumentar a diversidade de características entre os neurônios do cérebro, algo que cientistas enxergam como pré-requisito para habilidades cognitivas humanas sofisticadas.
Complexa e bela
O biólogo brasileiro Alysson Muotri, do Instituto Salk (EUA), defende essa idéia. Segundo ele, o estudo dos microRNAs trará muita informação nova, mas ainda não há uma maneira prática de descobrir quais são os genes que eles afetam. "Isso está sendo feito hoje em dia por tentativa e erro", diz. "A beleza dos microRNAs está na complexidade: em geral eles não regulam só um gene cada um. Podem ser centenas."
Os 447 microRNAs descobertos por Plasterk dobram o número de variedades conhecidas dessa molécula, encontrada em humanos pela primeira vez em 2001. Cerca de 8% delas existem só nos humanos e em nenhuma outra espécie. Pode parecer pouco, mas a diferença dos genes codificadores de proteínas entre humanos e chimpanzés, por exemplo, é de 1,5%.
Plasterk diz que seria um exagero dizer que toda a receita para "transformar" um chimpanzé num humano está nos microRNAs, mas não há mais dúvida de que eles exercem papel fundamental. "As diferenças entre os cérebros de chimpanzés e de humanos são de gradação: não acho que os chimpanzés tenham qualquer estrutura ou tecido que não exista no nosso cérebro", diz.
"Como nós gostamos de ler livros e tocar piano, acabamos acreditando que existe uma diferença enorme entre um cérebro que pode ler um livro e outro que não pode."
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