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29/12/2006 - 09h54

Brasil esquentou quase 1ºC em 50 anos

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CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

As temperaturas médias no Brasil cresceram 0,7ºC nos últimos 50 anos e podem subir mais de 6ºC em algumas regiões da Amazônia no fim deste século. As conclusões são de pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que desenvolveram um novo modelo para tentar descobrir como o aquecimento global afetará o país.

Os primeiros resultados serão apresentados em fevereiro ao Ministério do Meio Ambiente. Apesar das incertezas, os pesquisadores do Inpe, liderados por José Marengo, afirmam que a previsão é que no período de 2071 a 2100 a maior parte do país esteja mais seca e mais quente do que hoje.

O quadro é especialmente grave para a Amazônia: mesmo no cenário mais otimista, as médias na região devem ficar mais de 3ºC mais altas no período 2071-2100. Nesse quadro, com maiores temperaturas e menor precipitação, é grande o risco de que parte da floresta se converta em cerrado.

Com base em observações coletadas em estações meteorológicas, o grupo do Inpe também pôde estimar o aumento médio de temperatura no país nos últimos 50 anos. O Brasil esquentou um pouco mais nesse período (0,7ºC) que o planeta inteiro esquentou em um século (0,6ºC). "As temperaturas mínimas subiram aproximadamente 1ºC, e as máximas, cerca de 0,5ºC", disse o climatologista Carlos Nobre, do Inpe.

"Porém um fator que nos atrapalha demais neste tipo de análise observacional é a falta de séries históricas climáticas longas para o país."

Já com a modelagem há bem menos problemas. O modelo regional do Inpe (que só abrange a América do Sul) tem uma resolução bem melhor do que a dos modelos climáticos globais usados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) em suas previsões sobre o clima no futuro.

Modelos climáticos são programas de computador que simulam as condições futuras da Terra após serem alimentados com informações como temperatura, nuvens, aerossóis na atmosfera e oceanos. Para fazer seus cálculos, eles dividem o mundo em várias células. Como o clima é algo complexo, eles diferem muito entre si no resultado de suas simulações.

Os modelos globais usados pelo IPCC usam células de 200 km por 200 km --ou seja, processos que acontecem numa escala menor não aparecem. E isso é uma fonte de incerteza.

O modelo regional do Inpe usa células de até 40 km. "Nessa escala dá para detectar circulações atmosféricas que têm a ver com a topografia (por exemplo, brisas marítimas devidas ao contraste oceano-continente). Isso é importante para estudos sobre os impactos das mudanças climáticas em setores como agricultura e energia e em sistemas naturais e modificados", disse Nobre.

Também foi possível resolver uma questão que atormentava os cientistas: o aquecimento global faz aumentar ou diminuir as chuvas no Nordeste? Até agora os modelos davam resultados divergentes. O novo modelo crava a má notícia: a região deve ficar ainda mais seca.

Nobre faz um alerta, no entanto: para chegar a seus resultados, o grupo do Inpe precisou unir seu modelo a um modelo global --afinal, o clima é global e não regional. O escolhido foi o do Hadley Centre, no Reino Unido, que tende a calcular um mundo mais seco.

"Isso condiciona a observação", diz o cientista. Na próxima fase de seu estudo, o grupo do Inpe deve tirar a teima usando três modelos globais em vez de um único.

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