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08/03/2007
-
11h00
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
Um mutirão envolvendo 60 cientistas --norte-americanos, europeus e chineses-- revela hoje, de uma vez só, a descoberta de 120 mutações (defeitos no DNA) apontadas como potenciais causadoras de câncer. A lista, feita pela maior varredura genética já realizada num estudo de câncer, amplia o número de "alvos" para pesquisas de drogas contra a doença.
A estratégia usada pelos cientistas foi procurar, em 200 amostras de tumores, as mutações do DNA envolvido na produção de moléculas chamadas quinases, envolvidas na regulação do funcionamento das células. As quinases funcionam como "interruptores" celulares, "ligando" as proteínas para que estas possam participar de reações dentro das células.
Por terem esse papel crucial, essas substâncias já eram foco de outras pesquisas e já haviam até sido implicadas em alguns cânceres. Mas nem os próprios cientistas imaginavam que o estudo delas poderia encontrar tantas mutações importantes.
"Particularmente, para as quinases, eu teria apostado que o número não passaria de algumas dezenas", disse o biólogo molecular Andrew Futreal, do Instituto Sanger, na Inglaterra, um dos líderes da pesquisa.
Passageiros e condutores
Uma das estratégias que permitiram a descoberta foi uma maneira que os cientistas conceberam para diferenciar mutações genéticas "condutoras" ("drivers", em inglês) de mutações "passageiras".
"Chamamos as primeiras de condutoras porque elas fazem as células pararem de se comportar normalmente e as conduzem a um comportamento de células tumorais", disse Michael Stratton, do Sanger, outro coordenador do estudo. As mutações passageiras, por outro lado, não são determinantes na origem da doença, mas vão se acumulando ao longo do desenvolvimento de um câncer.
O problema é que, ao analisar um tumor já formado, é difícil diferenciar "condutoras" de "passageiras". Com uma técnica estatística desenvolvida para o novo trabalho, porém, os cientistas conseguiram separar umas das outras com grande precisão. Um estudo sobre as mutações sai hoje na revista "Nature" (www.nature.com).
Além de oferecer novos alvos, o novo estudo pode ajudar a criar medicamentos mais adequados a cada paciente. "Este trabalho é um passo em direção a um futuro no qual tratamentos específicos serão utilizados para subgrupos de pacientes com câncer", diz Jorge Reis-Filho, especialista em genética do câncer do Centro Breakthrough, de Londres.
Apesar de o trabalho liderado pelo Sanger ter identificado dezenas de mutações relevantes, a maior parte delas ("dezenas de milhares", diz Reis-Filho) ainda é desconhecida.
Outro grupo de pesquisa, também na "Nature", divulgou ontem uma técnica para vasculhar quase todo o genoma de células de um câncer específico e achar mutações-chave.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o câncer
Grupo de cientistas estrangeiros liga 120 novas mutações a câncer
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da Folha de S.Paulo
Um mutirão envolvendo 60 cientistas --norte-americanos, europeus e chineses-- revela hoje, de uma vez só, a descoberta de 120 mutações (defeitos no DNA) apontadas como potenciais causadoras de câncer. A lista, feita pela maior varredura genética já realizada num estudo de câncer, amplia o número de "alvos" para pesquisas de drogas contra a doença.
A estratégia usada pelos cientistas foi procurar, em 200 amostras de tumores, as mutações do DNA envolvido na produção de moléculas chamadas quinases, envolvidas na regulação do funcionamento das células. As quinases funcionam como "interruptores" celulares, "ligando" as proteínas para que estas possam participar de reações dentro das células.
Por terem esse papel crucial, essas substâncias já eram foco de outras pesquisas e já haviam até sido implicadas em alguns cânceres. Mas nem os próprios cientistas imaginavam que o estudo delas poderia encontrar tantas mutações importantes.
"Particularmente, para as quinases, eu teria apostado que o número não passaria de algumas dezenas", disse o biólogo molecular Andrew Futreal, do Instituto Sanger, na Inglaterra, um dos líderes da pesquisa.
Passageiros e condutores
Uma das estratégias que permitiram a descoberta foi uma maneira que os cientistas conceberam para diferenciar mutações genéticas "condutoras" ("drivers", em inglês) de mutações "passageiras".
"Chamamos as primeiras de condutoras porque elas fazem as células pararem de se comportar normalmente e as conduzem a um comportamento de células tumorais", disse Michael Stratton, do Sanger, outro coordenador do estudo. As mutações passageiras, por outro lado, não são determinantes na origem da doença, mas vão se acumulando ao longo do desenvolvimento de um câncer.
O problema é que, ao analisar um tumor já formado, é difícil diferenciar "condutoras" de "passageiras". Com uma técnica estatística desenvolvida para o novo trabalho, porém, os cientistas conseguiram separar umas das outras com grande precisão. Um estudo sobre as mutações sai hoje na revista "Nature" (www.nature.com).
Além de oferecer novos alvos, o novo estudo pode ajudar a criar medicamentos mais adequados a cada paciente. "Este trabalho é um passo em direção a um futuro no qual tratamentos específicos serão utilizados para subgrupos de pacientes com câncer", diz Jorge Reis-Filho, especialista em genética do câncer do Centro Breakthrough, de Londres.
Apesar de o trabalho liderado pelo Sanger ter identificado dezenas de mutações relevantes, a maior parte delas ("dezenas de milhares", diz Reis-Filho) ainda é desconhecida.
Outro grupo de pesquisa, também na "Nature", divulgou ontem uma técnica para vasculhar quase todo o genoma de células de um câncer específico e achar mutações-chave.
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