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21/03/2001
-
03h28
Centenas de cientistas se reuniram ontem em uma conferência na cidade de Darmstadt, Alemanha, para discutir um assunto quente, agora que a estação espacial russa Mir está para cair sobre a Terra. Eles temem que a região próxima do planeta esteja se tornando um "ferro-velho espacial" e que o futuro da exploração do espaço esteja sob ameaça.
O grupo apontou que há cerca de 8.500 objetos feitos pelo homem orbitando a Terra. Apenas 600 deles estariam sob controle. Se contados pedaços menores, o número pode chegar a 150 mil.
Na semana passada, durante uma caminhada espacial do lado de fora da ISS (Estação Espacial Internacional), o astronauta Jim Voss havia deixado cair uma ferramenta no espaço. O objeto passou a girar em torno da Terra e exigiu que a estação tivesse sua órbita elevada, só para evitar uma colisão, que poderia abrir um rombo no seu casco.
"É um problema muito sério", diz Sergei Kulik, da Rosaviakosmos (agência espacial russa). "Na metade deste século a contaminação pode ser tão grande que não haverá meio de ir ao espaço."
O lixo espacial não é ameaça séria aos terráqueos, contudo. A maioria dos objetos não resiste à reentrada na atmosfera. Apenas coisas grandes -como a estação Skylab, que matou uma vaca ao cair sobre a Austrália em 1979, ou a Mir, o maior objeto em órbita a ser derrubado (veja quadro)- podem ferir humanos.
Entretanto, no espaço, o lixo pode ser fatal. E quanto menor, pior. "Os grandes objetos são rastreados por satélite, permitindo que as naves sejam manobradas para evitar colisões", disse à Folha Alexander Sukhanov, da Academia de Ciências da Rússia. "Mas há objetos pequenos que não podem ser detectados", adverte.
Um pequeno corpo, como um parafuso, poderia se chocar com um satélite, danificando-o. Colidindo com uma estação, poderia perfurar o casco e atingir humanos em seu interior.
Mesmo que ninguém se ferisse, o ar escaparia pela brecha. Se o vazamento não fosse contido, seria morte certa para os astronautas.
Por sorte, a vida dessas peças minúsculas é curta. O arrasto atmosférico (atrito causado pelas camadas mais altas do ar) atira essas partículas contra o planeta, desintegrando-as. A ferramenta deixada por Voss, por exemplo, deve queimar em um mês. "O espaço próximo à Terra é autolimpante", afirma Sukhanov.
Resta saber se a atividade humana conseguirá sujar o espaço mais rápido do que ele é capaz de se reciclar, como temem os pesquisadores reunidos na Alemanha. É a questão ambiental chegando à era espacial.
(SALVADOR NOGUEIRA)
Lixo ameaça futuro da exploração espacial
da Folha de S.PauloCentenas de cientistas se reuniram ontem em uma conferência na cidade de Darmstadt, Alemanha, para discutir um assunto quente, agora que a estação espacial russa Mir está para cair sobre a Terra. Eles temem que a região próxima do planeta esteja se tornando um "ferro-velho espacial" e que o futuro da exploração do espaço esteja sob ameaça.
O grupo apontou que há cerca de 8.500 objetos feitos pelo homem orbitando a Terra. Apenas 600 deles estariam sob controle. Se contados pedaços menores, o número pode chegar a 150 mil.
Na semana passada, durante uma caminhada espacial do lado de fora da ISS (Estação Espacial Internacional), o astronauta Jim Voss havia deixado cair uma ferramenta no espaço. O objeto passou a girar em torno da Terra e exigiu que a estação tivesse sua órbita elevada, só para evitar uma colisão, que poderia abrir um rombo no seu casco.
"É um problema muito sério", diz Sergei Kulik, da Rosaviakosmos (agência espacial russa). "Na metade deste século a contaminação pode ser tão grande que não haverá meio de ir ao espaço."
O lixo espacial não é ameaça séria aos terráqueos, contudo. A maioria dos objetos não resiste à reentrada na atmosfera. Apenas coisas grandes -como a estação Skylab, que matou uma vaca ao cair sobre a Austrália em 1979, ou a Mir, o maior objeto em órbita a ser derrubado (veja quadro)- podem ferir humanos.
Entretanto, no espaço, o lixo pode ser fatal. E quanto menor, pior. "Os grandes objetos são rastreados por satélite, permitindo que as naves sejam manobradas para evitar colisões", disse à Folha Alexander Sukhanov, da Academia de Ciências da Rússia. "Mas há objetos pequenos que não podem ser detectados", adverte.
Um pequeno corpo, como um parafuso, poderia se chocar com um satélite, danificando-o. Colidindo com uma estação, poderia perfurar o casco e atingir humanos em seu interior.
Mesmo que ninguém se ferisse, o ar escaparia pela brecha. Se o vazamento não fosse contido, seria morte certa para os astronautas.
Por sorte, a vida dessas peças minúsculas é curta. O arrasto atmosférico (atrito causado pelas camadas mais altas do ar) atira essas partículas contra o planeta, desintegrando-as. A ferramenta deixada por Voss, por exemplo, deve queimar em um mês. "O espaço próximo à Terra é autolimpante", afirma Sukhanov.
Resta saber se a atividade humana conseguirá sujar o espaço mais rápido do que ele é capaz de se reciclar, como temem os pesquisadores reunidos na Alemanha. É a questão ambiental chegando à era espacial.
(SALVADOR NOGUEIRA)
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