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02/10/2001 - 21h14

Estudo põe relógio molecular em xeque

MENNO SCHILTHUIZEN
da "Science Now"

Para apontar a idade de um ancestral extinto comum a duas espécies vivas, uma das opções mais usadas pelos cientistas é tomar o mesmo gene nas duas e contar as diferenças no DNA. Divide-se o resultado pela velocidade com que o DNA sofre mutações e pronto, missão cumprida. Biólogos adoram esse relógio molecular e o têm aplicado por décadas. Mas novas pesquisas dizem que ele pode não estar marcando as horas corretamente.

Em 1965, bioquímicos chocaram biólogos clássicos ao mostrar que as mutações em genes se acumulavam em um ritmo constante. Daí o número de mutações entre duas espécies poder ser usado para dizer quando as espécies divergiram, mesmo sem que houvesse evidência fóssil.

Desde então, os cientistas vêm usando esses relógios moleculares em vários genes para traçar a evolução de espécies, do HIV (vírus da Aids) a pássaros, passando por baleias. Embora exceções tenham surgido, a maioria dos biólogos permanecia fiel a seu marcador de tempo favorito.

Mudança de passo

Em um estudo publicado na última edição da "Proceedings of the National Academy of Sciences", ou "PNAS" (www.pnas.org), revista científica da Academia Nacional de Ciências dos EUA, o geneticista Francisco Rodriguez-Trelles e seus colegas da Universidade da Califórnia em Irvine (EUA) mostram que o relógio molecular pode já estar pronto para se transformar em uma peça de antiquário.

Eles obtiveram do GenBank (banco de dados públicos contendo sequências genéticas de laboratórios do mundo inteiro) as sequências de três genes bem conhecidos, chamados Gpdh, Sod e Xdh. Usaram genes similares de 78 espécies, de pinheiros a seres humanos. Os dados foram utilizados para traçar uma árvore evolutiva. Para fins de calibragem e controle, ela já incluía alguns ramos feitos por paleontólogos.

Quando os cientistas começaram a contar o número de mutações em cada ramo da árvore, eles descobriram taxas de mutação bastante diferentes, até para espécies próximas. Por exemplo, nas moscas Drosophila obscura, o relógio do gene Sod bate dez vezes mais rápido do que em sua prima Drosophila willistoni, enquanto o relógio Xdh mantém um sincronismo quase perfeito.

Da mesma maneira, a mutação do gene Gpdh em mamíferos é dez vezes mais rápida que em moscas-das-frutas.

Relógios moleculares em geral são muito mais "erráticos" do que antes imaginado e praticamente inúteis para manter uma linha do tempo evolutiva precisa, concluem os pesquisadores. Eles atribuem isso a caprichos da seleção natural, que pode às vezes limitar mutações genéticas específicas em certas linhagens.

Boas e más notícias

Biólogos evolucionistas ficarão infelizes por saber que uma correlação tão valorizada pode estar equivocada. David Mindell, da Universidade de Michigan, Ann Arbor (EUA), diz que é "má notícia que as estimativas de datas precisem ser vistas como altamente propensas ao erro".

Por outro lado, ele aponta que, em última análise, é uma boa notícia que, ao descartar a teoria do relógio molecular, o entendimento da evolução em uma enorme variedade de organismos possa caminhar para algo mais abrangente e completo.
 

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