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08/11/2001 - 07h04

Efeito químico desconhecido favorece homeopatia

ANDY COGHLAN
da "New Scientist"

Uma descoberta ocasional pode desafiar crenças e ameaça reacender o debate sobre se existe base científica para acreditar que a homeopatia de fato funciona. Um grupo na Coréia do Sul descobriu uma dimensão inteiramente nova no processo que é talvez o mais simples dos livros de química: o que acontece quando se dissolve uma substância em água e então se adiciona mais água.

O saber convencional diz que as moléculas dissolvidas simplesmente se espalham, afastando-se mais e mais umas das outras à medida que a solução é diluída. Mas dois químicos descobriram que algumas delas fazem exatamente o contrário: elas se agrupam, primeiro como aglomerados de moléculas, depois como grandes agregados.

A descoberta impressionou os cientistas e poderia fornecer o primeiro indício científico sobre como os remédios homeopáticos funcionam. Os homeopatas diluem sucessivas vezes os medicamentos, acreditando que quanto mais alta a diluição mais potente o remédio se torna.

Alguns diluem "infinitamente", até que não sobre nenhuma molécula no remédio. Eles acreditam que a água mantenha uma memória do ingrediente ativo, que seria mais potente que a molécula em si. Outros usam soluções menos diluídas _geralmente diluindo um remédio seis vezes. O estudo coreano pode finalmente abrir as portas para a reconciliação da potência dessas soluções menos diluídas com a ciência normal.

O químico alemão Kurt Geckeler e seu colega Shashadhar Samal esbarraram no efeito enquanto investigavam fulerenos no seu laboratório no Instituto de Ciência e Tecnologia de Kwangju, Coréia do Sul. Eles descobriram que essas moléculas, também conhecidas como "buckyballs", continuaram a se agregar em solução.

Geckeler, então, pediu a Samal que procurasse formas de controlar a formação dos aglomerados. O que se descobriu foi um fenômeno novo para a química. "Quando ele diluiu a solução, o tamanho das partículas de fulereno aumentou", diz Geckeler. "Era totalmente contra-intuitivo", diz.

Estudos posteriores mostraram que não era coincidência. Moléculas orgânicas, como a de ciclodextrina e a de DNA, e inorgânicas, como a de cloreto de sódio, se comportavam do mesmo jeito.

A diluição normalmente fazia as moléculas se juntarem em agregados 5 a 10 vezes maiores que os da solução original. O crescimento não era linear e dependia da concentração do original.

"O histórico da solução é importante. Quanto mais diluída ela começa, maiores são os agregados", diz Geckeler. Outra coisa: o efeito só funcionou para solventes polares, como a água, em que uma ponta da molécula tem uma pronunciada carga positiva e a outra, uma carga negativa.

O achado poderia fornecer uma explicação para o suposto funcionamento de alguns remédios homeopáticos _algo que tem desafiado a explicação científica. Diluir um remédio poderia aumentar o tamanho das partículas até torná-las biologicamente ativas.

A descoberta também ecoa as afirmações do imunologista francês Jacques Benveniste. Em 1988, Benveniste relatou na revista "Nature" que uma solução que antes contivera anticorpos ainda ativava células humanas. Ele dizia que a solução ainda funcionava porque continha "lembranças" na estrutura da água em que os anticorpos haviam estado.

Outros pesquisadores não conseguiram reproduzir os achados de Benveniste, mas os homeopatas ainda acreditam que ele tenha esbarrado em algo.

O próprio Benveniste não acha que a nova descoberta ajude a explicar seus resultados, porque a solução não estava diluída o suficiente. "Esse fenômeno não se aplica à alta diluição", diz.

Para o químico Jan Enberts, da Universidade de Groningen, Holanda, "dizer que o fenômeno tem importância biológica é especulação". Mas ele não duvida de que Samal e Geckeler descobriram algo novo. "É surpreendente."

O estudo saiu na revista especializada "Chemical Communications" (www.rsc.org).

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