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26/11/2001 - 22h43

Experimento dos EUA acelera legislação anticlone

da Folha de S.Paulo

O anúncio da obtenção do primeiro embrião humano clonado, feito ontem pela empresa americana ACT (Advanced Cell Technology), despertou críticas no mundo inteiro e deverá acelerar a aprovação de leis proibindo qualquer tipo de clonagem humana nos Estados Unidos.

O presidente dos EUA, George W. Bush, condenou o experimento da ACT, dizendo que clonar seres humanos é "moralmente equivocado". Bush afirmou: "Nós não devemos, como sociedade, criar vida para destruí-la, e é exatamente o que está acontecendo".

O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, declarou hoje que Bush esperava que o Senado aprovasse um projeto de lei já chancelado pela Câmara dos Representantes que proíbe totalmente a produção de cópias genéticas de seres humanos.

A Lei de Proibição da Clonagem Humana foi aprovada pelos representantes em 31 de julho e, desde então, está parada no Senado. "O presidente espera que, diante dessa primeira transgressão, o Senado se pronuncie sobre o projeto de lei", disse Fleischer.

Os oponentes da clonagem naquela Casa já estão se mexendo para garantir o banimento. Sam Brownback, um republicano do Kansas, pedirá uma moratória de seis meses à clonagem para dar ao Senado tempo de debater o tema.

Reino Unido

O feito da empresa americana também repercutiu no Reino Unido, país que, até ontem, procurava fechar as brechas da própria legislação. O Parlamento britânico deu hoje o primeiro passo para a aprovação de uma lei em caráter de emergência para proibir a clonagem de embriões humanos com fins reprodutivos.

A nova regulamentação, introduzida pelo governo na semana passada, foi aprovada em segunda leitura na Câmara dos Lordes e deve ser ratificada na Câmara dos Comuns (dos deputados) na quinta-feira.

A pressa tem uma justificativa: na semana passada, a Alta Corte de Justiça havia determinado que, devido a problemas com a definição do que deve ou não ser considerado um embrião, a legislação existente não proibia na prática a clonagem reprodutiva.

Diferentemente da dos EUA - que quer banir por completo a clonagem humana -, a nova lei britânica continuará apoiando procedimentos com fins terapêuticos e de pesquisa, como os realizados pela ACT nos EUA.

O Canadá também prepara uma legislação que proíbe a clonagem e a criação de embriões humanos para pesquisa mas, segundo o primeiro-ministro Jean Chrétien, permitiria a pesquisa com células-tronco usando embriões criados para outros fins.

A Comissão Européia também manifestou hoje sua oposição à clonagem humana. Segundo o comissário europeu de Investigação, Philippe Busquin, Bruxelas se opõe à criação de embriões humanos e não financiará nenhuma pesquisa nesse terreno. "Nem tudo que é cientificamente possível é necessariamente admissível."

Na Europa, três países (Espanha, Itália e Grécia) já ratificaram uma que proíbe a pesquisa sobre clones humanos.

Numa rara demonstração de concordância entre doutrinas normalmente divergentes, pesquisadores e líderes religiosos também criticaram o experimento da ACT, que produziu os clones. Num comunicado duro, o Vaticano condenou o experimento, dizendo que os cientistas da ACT haviam manipulado vida humana, não meras células.

"Apesar de terem declarado intenções humanísticas que anunciam grandes curas (...), isso pede uma apreciação calma mas resoluta, que mostre a gravidade moral desse projeto e peça sua inequívoca condenação", diz a nota divulgada pela Santa Sé.

Os pesquisadores do Instituto Roslin, da Escócia, que usaram com sucesso a técnica da transferência nuclear (adotada pela ACT) pela primeira vez para criar a ovelha Dolly, em 1996, também criticaram a equipe americana - não suas motivações éticas, mas seus resultados científicos. Segundo Harry Griffin, um dos "pais" de Dolly, o trabalho da ACT é uma pesquisa preliminar. "É mais um marco político e ético do que científico e, certamente, não é uma revolução", disse.

Antinori reclama

No meio da avalanche de críticas sobrou espaço até para o médico italiano Severino Antinori, que trouxe o assunto à baila ao anunciar suas polêmicas intenções de produzir em 2002 um clone humano com finalidade reprodutiva.

Segundo Antinori, o líder da pesquisa da ACT, José Cibelli, usou seu procedimento. "Eu ensinei a metodologia a Cibelli", disse Antinori, que anunciou que clonaria um embrião em seis meses e que esperava fazê-lo no Reino Unido. "Ele roubou minha idéia."

Até a seita dos raelianos, que acredita em extraterrestres e também tem um projeto de clonagem humana, aproveitou o embalo. "Nós estamos muito felizes, porque fizemos isso [clonar um embrião] algum tempo atrás", disse o líder da seita, Claude Vorilhon - aliás, Rael.

Com agências internacionais. Colaborou Marcelo Starobinas, de Londres

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