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09/01/2002 - 08h04

Supernova teria causado extinção marinha

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Uma covardia. Enquanto dinossauros, com todo aquele tamanho, precisaram enfrentar só um asteróide, microrganismos marinhos encararam nada menos que a explosão de uma estrela - segundo estudo de um trio de pesquisadores espanhóis trabalhando nos Estados Unidos.

Eles propõem que uma supernova tenha causado uma extinção de plâncton há 2 milhões de anos. E, para quem acha que esses organismos não fizeram falta, vale lembrar que eles estão na base da cadeia alimentar dos mares.

Asteróide é a moda quando se fala de ameaça alienígena à vida (anteontem mesmo se comentava um que havia passado "do lado" da Terra, a cerca de duas vezes a distância da Lua), mas uma supernova é bem mais assustadora.

O fenômeno acontece quando a estrela esgota seu combustível (o hidrogênio, que ela transforma em hélio ao fundir átomos uns com os outros) e explode, produzindo uma enxurrada de elementos pesados, como ferro e urânio.

Os habitantes da Terra hoje em dia podem se sentir seguros. A estrela mais próxima capaz de se tornar supernova a curto prazo, a Antares, fica a seguros 500 anos-luz de distância. Encontrar o astro que poderia ter feito o estrago com a fauna marinha há 2 milhões de anos não foi nada fácil - não havia candidatos.

O Sistema Solar está no meio de uma espécie de bolha oca. Há pouquíssimas estrelas nas redondezas. Uma possível explicação para isso foi apresentada por Jesús Maíz-Apellániz, um dos autores do estudo, no ano passado.

Ele sugere que uma série de explosões de supernovas em tempos passados tenha servido de "limpa-trilho", esvaziando a vizinhança estelar. Agora, em colaboração com Narciso Benítez, da Universidade Johns Hopkins, ele sugere que pelo menos uma dessas cerca de 20 explosões nos últimos 11 milhões de anos teria ocorrido onde poderia causar a tal extinção.

A estrela assassina pertenceria ao agrupamento conhecido como associação Scorpius-Centaurus OB, que hoje está a cerca de 430 anos-luz, mas que estava muito mais perto na época. O trio especula que a explosão possa ter ocorrido a 130 anos-luz da Terra.

O fenômeno teria danificado a camada de ozônio terrestre, expondo o plâncton a quantidades letais de raios ultravioleta do Sol.

Para corroborar a idéia, os cientistas usaram como referência amostras de solo retiradas do leito oceânico. Elas mostram que a Terra sofreu um "enriquecimento" com ferro em época próxima à extinção. "A hipótese parece razoável", diz Amauri de Almeida, astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. "A presença desses elementos pesados deve estar ligada a supernovas."

Entretanto, os dados parecem ainda vagos para confirmar a hipótese. "Será muito interessante obter dados da crosta com resolução 'temporal' melhor para identificar explosões de supernova", escrevem os cientistas no estudo que apresentaram ontem em reunião da Sociedade Astronômica Americana, em Washington.
 

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