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13/01/2002 - 08h40

Brasil completa 20 anos na Antártida em impasse sobre pesquisa

CLAUDIO ANGELO
enviado especial da Folha de S.Paulo à Antártida

O comandante Jorge Guimarães Dias não consegue conter uma praga quando os dois botes Krill que haviam partido minutos antes rumo à ilha Elefante desaparecem entre as ondas diante de seus binóculos. Passam das 23h, o céu está claro e o navio Ary Rongel, que realiza a vigésima expedição brasileira à Antártida, acaba de ser surpreendido por uma frente fria que atingiu em cheio a ilha.

A sensação térmica lá fora é de -15C e os ventos chegam a 50 km/h. A bordo dos botes estão os pesquisadores Fernanda Piza e César Martins, que tentariam coletar sedimentos do fundo do mar na costa de Elefante, e o repórter fotográfico Toni Pires, da Folha, que acompanha a coleta.

No passadiço, Guimarães parece à beira de um ataque. A água do mar de Weddell, a -3C, mataria um ser humano desprotegido em menos de um minuto. Por isso a Marinha proíbe que alguém saia para trabalho em botes sem os macacões flutuantes Mustang, que garantem proteção contra o frio e aumentam a sobrevida em meia hora. Mas nem isso tranquiliza o comandante.

Pelo rádio, ele chama o capitão-tenente Antônio Trovão, que coordena a missão dos botes. Está tudo "safo" (seguro, no jargão naval), diz o oficial, exceto pelo fato de que a pequena sonda metálica a bordo do Krill-1 não conseguiu recolher as amostras de solo, mesmo após sete tentativas -a correnteza a arrastava antes que conseguisse tocar o fundo.

Novato na Antártida, Guimarães, 41, prefere não arriscar. "Trovão, vamos abortar esse negócio", ordena. A coleta é cancelada. O navio levanta ferros e zarpa para o sul, rumo às águas mais tranquilas do estreito de Bransfield.

O Proantar (Programa Antártico Brasileiro), que completou 20 anos ontem, também está no seu ponto de virada. Um novo conjunto de diretrizes para a pesquisa antártica do país, em preparação pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, deverá entrar em vigor a partir deste ano. O governo percebeu que a ciência antártica chegou perto demais do ponto de congelamento e que, sem uma guinada, corre o risco de submergir.

"Precisamos sair de um modelo arcaico de pesquisa básica para algo que tenha associação forte com ambiente e clima", diz o glaciologista Jefferson Cardia Simões, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que ajuda a elaborar a nova política. "Não vejo como justificar o modelo atual para o contribuinte."

Apesar de ser considerada superior à de outros países sul-americanos, a pesquisa antártica brasileira é essencialmente descritiva, e não explicativa. "A nova política envolve a busca por aplicações práticas", diz o geólogo Antônio Carlos Rocha-Campos, da USP, ex-presidente do Scar (Comitê Científico para Pesquisa Antártica), órgão internacional que gerencia a ciência no continente.

Segundo Simões, 43, o Proantar padece da falta de objetivos científicos claros. Atualmente, mais de 30 projetos disputam a verba anual de R$ 1 milhão do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) sem uma definição de prioridades. O resultado é uma pulverização do financiamento que acaba deixando a ciência antártica à deriva.

"Já houve caso de pesquisadores que vieram sem conversar com outros de sua área e, ao chegar aqui, foram surpreendidos por gente que já tinha realizado estudos semelhantes com uma metodologia melhor", conta o capitão-de-mar-e-guerra Miguel Magaldi, 45, coordenador da primeira fase da Operação Antártica 20. A primeira avaliação científica do programa só começou a ser feita em 2001 pelo CNPq.

A falta de rumo acaba emperrando a logística das operações, a cargo da Marinha. Em duas décadas, o Brasil ainda não conseguiu avançar para dentro do continente antártico. O país mantém suas atividades concentradas no tépido arquipélago das Shetlands do Sul, onde estão a Estação Antártica Comandante Ferraz e quatro refúgios.

As temperaturas geralmente positivas no verão renderam ao arquipélago o apelido de "cinturão de bananas". Ali, na ponta da península Antártica, é possível observar muito pouco dos fenômenos que influenciam o clima brasileiro. É como tentar compor uma idéia melhor da América do Sul a partir de dados coletados no arquipélago de Fernando de Noronha.

A ilha Rei George, onde está a estação Ferraz, é um local estratégico. Ali está a maior densidade de estações científicas e bases militares de todo o continente. Na vizinhança da base do Brasil há chilenos, poloneses, chineses, uruguaios, russos, argentinos, peruanos e sul-coreanos. Na base chilena Presidente Frei, a maior de Rei George, há um aeroporto usado pelos outros países, onde aviões brasileiros pousam durante o verão para levar e trazer pessoal e carga para Ferraz e para o Ary Rongel.

Ferraz é considerada uma das melhores estações de pesquisa da península Antártica. Com 63 módulos, abriga hoje 45 pessoas no verão e um terço disso no inverno, a maioria militares do grupo-base da Marinha. Seu sistema de gerenciamento ambiental causa um impacto virtualmente nulo e já recebeu elogios até da severa ONG ambientalista Greenpeace. Um estudo do oceanógrafo César Martins, da USP, não conseguiu detectar traços de poluição por esgoto a mais de 50 metros da descarga da estação, o que é considerado um sucesso.

Mas a estação, assim como o Proantar, não basta mais, na avaliação de alguns cientistas. "A superfície da Antártida é 99,6% gelo, e é preciso avançar no continente para fazer pesquisa de ponta", diz Simões. Magaldi concorda: "Eu vejo Ferraz hoje como uma grande escola e como um futuro ponto de apoio e de treinamento para o Brasil poder estender suas operações na Antártida. Que há necessidade de estender, já há". Mas, para isso, segue, é preciso manter investimentos em logística. "E isso só se justifica se eu tiver ciência para apoiar."

As palavras de Magaldi ecoam a quase 5.000 km de distância da ilha Elefante, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. Ali o geofísico Jandyr Travassos, do Observatório Nacional, arruma as malas para as férias de verão. O programa é de fazer inveja a qualquer escoteiro: ele parte amanhã para um acampamento de um mês sobre uma geleira na baía Marguerite, sul da península Antártica, a 68 de latitude Sul. Se o campo de gelo marinho que circunda perenemente a região permitir a passagem do Ary Rongel, que só consegue romper campos glaciais de até 50 cm, será a primeira vez que cientistas brasileiros acampam abaixo do Círculo Polar Antártico, a linha definida pelo paralelo 67S, que separa a zona polar (a maior parte do continente) da subpolar (formada pela península Antártica e ilhas).

Radiografia de geleira
Travassos e colegas da UFRGS vão realizar um estudo sobre a dinâmica e a estratigrafia do glaciar McClary, um rio de gelo de 120 km2 e 700 metros de espessura que desemboca na baía. Em termos leigos, eles vão fazer uma radiografia da geleira usando um aparelho de radar. O objetivo é avaliar o chamado balanço de massa de McClary, ou seja, a diferença entre o que ela perde por derretimento e o que ganha por precipitação, na forma de neve. "Esse balanço está diretamente ligado à variação de parâmetros ambientais", diz Travassos. Mais especificamente, o que ele busca são indicadores do aquecimento global. Se a geleira estiver perdendo água mais depressa do que recebe, ela pode estar sendo afetada por um aumento na temperatura. Em algumas regiões da Antártida, ele foi de 3C nos últimos 50 anos.

O rebaixamento das geleiras antárticas tem sido o maior pesadelo dos glaciologistas. Não sem razão. Ele é um dos responsáveis pela temida elevação no nível dos mares decorrente do aquecimento global, prevista para até 88 cm pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) para os próximos cem anos.

Essa elevação média, aparentemente pequena, já bastaria para inundar regiões costeiras do mundo todo (do Brasil inclusive) e fazer submergir boa parte das nações-ilhas do Pacífico (se você não conhece Kiribati, aproveite enquanto ainda existe). Se todos os 33 milhões de km3 do manto de gelo da Antártida -que representam 80% da água doce do planeta-, derretessem de uma vez, os mares subiriam nada menos que 70 metros.

Os estudos climáticos são um dos pontos-chave da nova política de ciência e tecnologia da Antártida. "O clima do planeta é gerado nos pólos", diz Travassos. Mais ainda o da América do Sul, uma região climática totalmente vinculada à Antártida. É o oceano Austral que influencia as correntes da costa brasileira. O manto de gelo é o maior sorvedouro de calor da Terra e, de um jeito ou de outro, define as temperaturas no Brasil. Há, ainda, uma questão controversa entre meteorologistas -a origem das massas de ar frio que atingem o país.

O meteorologista Alberto Setzer, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), explica que as massas de ar polar que cruzam a península Antártica não são necessariamente as responsáveis pelas baixas temperaturas no Brasil. "Você nunca vê um sistema de baixa pressão [que traz mau tempo" subir daqui para o norte", afirma Setzer, um dos pioneiros da pesquisa antártica brasileira. "Os nossos sistemas são oceânicos, vindos do Pacífico Sul."

Outro meteorologista antártico veterano, Rubens Junqueira Villela, 70, discorda. Segundo Villela, primeiro brasileiro a pisar no pólo Sul (em 1961), alguns sistemas atmosféricos polares levam, sim, ar frio para a América do Sul. Só que esses sistemas são gerados em outras regiões, como o mar de Ross e o mar de Bellingshausen. "Não fosse a extensão grande de Oceano Pacifico livre de gelo entre Antártida e América do Sul, que modifica rapidamente a massa polar, teríamos um clima glacial também na América do Sul e neve todo ano em São Paulo."

O clima ameaça esquentar para a Operação Antártica 20 na manhã do dia 7 de dezembro. O Ary Rongel se aproxima da baía Chile, na ilha Greenwich, ao sul de Rei George. Ali, na chamada ponta Hardy, será montado um acampamento de um mês de pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Sul e do Ceará, que realizarão um levantamento geológico da ilha. A ponta fica próxima à base chilena Arturo Pratt, e o navio brasileiro é interceptado pelo rádio.

Os chilenos pedem ao navio que se identifique e informe o que vai fazer na ilha. Uma leve tensão é sentida no passadiço: o Chile é um dos sete países que reclamam para si porções da Antártida e pode não gostar de gente acampando na sua praia. O Ary Rongel se identifica e recebe uma saudação que dissipa as nuvens: "Ary Rongel, Brasil. Bem-vindos. Se precisarem de apoio meteorológico para o acampamento, estamos à disposição". Chega a ser emocionante ouvi-la ali, no fim do mundo.

A gentileza não é pura formalidade entre Marinhas amigas, que fazem intercâmbio de oficiais. Ela faz parte do espírito do Tratado Antártico, pelo qual todos os países que operam na região têm livre acesso a qualquer lugar do continente e se comprometem a dar apoio irrestrito uns aos outros. "O tratado é um dos maiores triunfos da cooperação internacional da história", elogia Ronald Mendes Júnior, secretário da Divisão do Mar, da Antártida e do Espaço do Ministério das Relações Exteriores. "É o único acordo multilateral que sobrevive há 40 anos sem nenhuma contestação."

O tratado foi assinado em 1958, influenciado pelo sucesso do Ano Geofísico Internacional de 1957 e pelo temor dos EUA de que a Guerra Fria chegasse à Antártida. Doze países firmaram o documento original, inclusive a então União Soviética. Hoje o clube em cujas mãos está o destino dos 13,6 milhões de km2 do continente já tem 47 membros. Pelo acordo, a Antártida é dedicada a usos pacíficos, especialmente à pesquisa científica. Qualquer manobra militar ou teste de armamento fica proibida.

O sucesso do tratado se deve à engenhosidade de seu artigo 4º, que suspende, sem anular, todas as reivindicações territoriais sobre o continente. Basta ver as camisetas e chaveiros do "Território Antártico Chileno" em qualquer loja de "recuerdos" em Punta Arenas para se dar conta de que elas permanecem vivas, apesar de a divisão da Antártida estar cada vez mais distante.

Quando o governo federal criou o Proantar, em 1982, a Antártida era vista como uma potencial mina de ouro. Os membros do tratado apostavam em ganhar dinheiro com a futura exploração das jazidas de petróleo, carvão, gás natural e outros minérios da região. No início dos anos 80, quando uma convenção que regulamentaria a exploração mineral começou a ser negociada, o número de adesões ao tratado pulou de 24 para 39. Até a Petrobras andou fazendo levantamentos no continente.

A situação começou a mudar no final daquela década. A revisão do tratado estava prevista para 1991, e Austrália e França começaram a pressionar pela transformação do continente antártico em santuário ecológico.

A idéia foi aceita por unanimidade e, em 1991, em Madri, era assinado o Protocolo sobre Proteção Ambiental ao Tratado Antártico, ou Protocolo de Madri. Pelas regras do acordo, que vigora até 2048, atividades humanas no continente devem buscar impacto ambiental zero. Plantas e animais não podem ser levados ao continente, todo o lixo produzido pelas estações de pesquisa deve ser recolhido e devolvido aos países de origem, e a frágil flora antártica deve ser preservada -o que explica em parte a obsessão do chefe de Ferraz, Sérgio Magalhães, em não deixar ninguém pisar nos musgos em volta da estação. Desnecessário dizer que a convenção sobre exploração mineral foi engavetada.

Impacto zero também é o que busca a arquiteta Cristina Engel de Alvarez, da Universidade Federal do Espírito Santo. Chacoalhando a bordo do Ary Rongel, ela está de volta à Antártida após dez anos, para visitar seu filho preferido: o refúgio Emílio Goeldi, na ilha Elefante. Alvarez, 40, é especialista em arquitetura em áreas de preservação ambiental e de difícil acesso. Ela coordena o único projeto de tecnologia do Proantar: a construção dos refúgios e o planejamento de ampliações em Ferraz.

Alvarez veio parar na Antártida em 1986, por birra. Um concurso na universidade onde estudava tinha por tema a contribuição de estudantes para o programa antártico, mas excluía a arquitetura -que não era considerada uma ciência. "É lógico que eu fiquei uma fera." Escreveu uma monografia sobre arquitetura na Antártida e acabou ganhando o concurso. Tornou-se a primeira arquiteta brasileira no continente gelado.

O Goeldi foi o primeiro refúgio brasileiro a ter água (que desce por uma mangueira de uma área de degelo ali perto) e esgoto, e a primeira obra brasileira na região toda construída em madeira. "É o único material realmente renovável da construção civil. E usar madeira na Antártida é uma forma de divulgar a idéia", diz. Para construir o Goeldi, em 1988, Alvarez e o engenheiro Júlio Melo, do Laboratório de Produtos Florestais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), usaram madeira tropical de apreensão. O material se mostrou tão bom que o Ibama resolveu usá-lo depois, para construir casas populares na Amazônia. Quem se perguntar sobre o retorno social do Proantar já tem ao menos uma resposta.

Se por um lado o Protocolo de Madri jogou um balde de gelo sobre o interesse econômico na Antártida (fazendo o continente despencar da lista das prioridades nacionais do país), por outro ele estimulou mais ainda a pesquisa ambiental. E o ambiente antártico guarda tesouros que mal começaram a ser entendidos.

Um desses tesouros é o lago Vostok, um corpo de água doce -e líquida- sete vezes maior que a cidade de São Paulo, sepultado 3.740 metros abaixo do gelo no chamado pólo da Inacessibilidade, onde está a estação russa de Vostok. Descoberto em 1996, o lago preserva 500 mil anos de história. A coleta de testemunhos de gelo do manto glacial que o encobre, que custou US$ 10 milhões -o Proantar inteiro custa cerca de R$ 10 milhões por ano, conforme apurou a Folha- está fornecendo aos cientistas informações preciosas sobre as mudanças climáticas globais.

O Vostok também é um modelo para a cooperação científica internacional. Estudando-o há russos, britânicos, americanos, franceses -e brasileiros. Desde 1999 o grupo de Jefferson Simões, da UFRGS, associado ao Centro Nacional da Pesquisa Científica da França, analisa as micropartículas contidas na camada de gelo mais antiga de Vostok, que vai de 3.300 a 3.623 metros.

Tesouros microscópicos
Aprisionadas no gelo sobre o lago foram encontradas bactérias, o que faz os cientistas suspeitarem que Vostok possa abrigar um ecossistema de microrganismos altamente resistentes, chamados extremófilos. Isso dá esperança a quem crê existir vida bacteriana no mar líquido que há sob o gelo da lua Europa de Júpiter.

Num bote Krill que desce rumo à ilha Deception às 21h da "tarde", sob sensação térmica de escorchantes -17C, a microbiologista Vivian Pellizari, do Instituto de Biociências da USP, também está à caça de extremófilos. Ela vai procurá-los na lama das fontes termais de Deception, um vulcão ativo cuja caldeira, em forma de ferradura, forma uma enseada onde navios ficam invisíveis ao radar. Daí o nome da ilha (engodo, em inglês).

Pellizari e seus colegas estudam a biodiversidade de micróbios na Antártida, em busca do que ela chama de um flagrante da evolução: organismos degradadores de compostos de origem industrial, como derivados do petróleo e bifenis policlorados -os infames PCBs, do grupo dos poluentes orgânicos persistentes.

O trabalho da equipe é isolar microrganismos em amostras de água e sedimentos. Depois, usando marcadores - "etiquetas" genéticas que permitem identificar sequências de DNA-, eles procuram genes que codifiquem enzimas capazes de degradar esses poluentes. Até agora, o grupo já encontrou oito desses genes na região das Shetlands do Sul -algo espantoso, para a bióloga. A introdução de derivados de petróleo na Antártida é recente: começou na década de 50, com o estabelecimento das primeiras bases. Os PCBs, hoje banidos, nunca entraram no continente, mas já foram detectados em níveis baixos na fauna antártica, devido ao ciclo de dispersão global. "E já existem microrganismos capazes de degradá-los, o que sugere uma resposta muito rápida do ambiente ao impacto."

Pellizari diz que dois extremófilos degradadores dessas substâncias alienígenas já foram identificados, fora da Antártida. Como o continente é rico nesse tipo de micróbio, ela aposta em achar genes degradadores nas águas quentes e sulfurosas de Deception. O que pode ser importante para a biorremediação (limpeza biológica) de uma área antártica onde ocorra um vazamento de óleo diesel, por exemplo, já que na Antártida nenhum organismo alienígena pode ser introduzido.

A pesquisadora da USP, que trabalha num módulo em frente a uma praia visitada por pinguins, se diz atraída pelo grande laboratório que é a Antártida. "É o único lugar onde eu me sinto parte integrante de um nicho ecológico, dentro de um habitat", conta. Mesmo quando as coletas não dão certo, como a de seus colaboradores na ilha Elefante. "É um laboratório onde a natureza parece não permitir que o homem interfira."

A mesma impressão, sem tanto encantamento, foi relatada pelo britânico James Cook em 1775. Primeiro homem a cruzar o Círculo Polar Antártico e a circunavegar o continente austral, Cook, que sofreu com o frio e quase morreu esmagado por icebergs, escreveu: "Terras condenadas à eterna frigidez e a jamais sentirem o calor dos raios do sol, cujo aspecto horrível e selvagem não tenho palavras para descrever; tais são as que descobrimos e as que podemos imaginar existirem mais ao sul". A quem se aventurasse a seguir mais para o sul, Cook deseja boa sorte. E alerta: "A viagem não me causará inveja pela honra da descoberta, mas atrevo-me a dizer que o mundo não se beneficiará dela".

Cook não imaginava o que a futura humanidade reservaria à Antártida. No ponto de virada do Proantar, o Brasil deverá decidir se põe os dois pés nesse futuro.

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Os jornalistas Claudio Angelo e Toni Pires viajaram à Antártida a convite da Secirm (Secretaria da Convenção Interministerial para os Recursos do Mar)

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