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15/10/2000 - 10h50

Animais presos podem desenvolver estereotipia

JOSÉ REIS
especial para a Folha de S.Paulo

Animais presos em locais estreitos e sem atrativos (gaiolas, jaulas etc.) ou limitados a pequenos espaços naturais (zôos) tendem a desenvolver persistentes movimentos repetitivos chamados estereotipias, que variam com a espécie animal.

Vacas enrolam a língua, porcos mordem as grades, cavalos e carneiros mastigam os cochos, ratos correm de um lado para outro e caminham nas rodas de atividade, o urso polar caminha de lá para cá, abanando o corpo etc.

Jonathan Cooper e Christian Nicol descrevem com minúcia o comportamento do arganaz, pequeno roedor (ficar ereto num canto da gaiola, caminhar de um lado para outro, saltar do teto para o chão).

Há muito tempo os zoólogos pensam que esses movimentos ajudam o animal a enfrentar a pobreza do ambiente. Estudos fisiológicos confirmam a impressão intuitiva de que a estereotipia se acha associada a uma situação de estresse.

Uma prova disso é que as vacas que enrolam a língua são menos propensas a adquirir úlcera gástrica e que, em animais em que se evita aquele comportamento, os níveis de corticosteróides (hormônios que os cientistas associam ao estresse) sobem no sangue.

O que causa esse estresse? Muitos ligam-no ao tédio do cativeiro, porém Michael Appleby e Alistair Lawrence ("New Scientist", 1762, 34) entendem, após observação em animais domésticos, que o motivo é a frustração da perda da liberdade de procurar o próprio alimento.

A pesquisadora holandesa Françoise Wemelfelder, que se tem dedicado ao estudo do tédio dos animais, acha que existe no desenvolvimento da estereotipia todo um contínuo que começa na frustração, passa pelo tédio e termina na apatia.

A estereotipia seria "curável" na primeira fase mas, quando muito arraigada, torna-se irreversível. Um urso que passa muito tempo confinado continua a caminhar de lá para cá como se estivesse confinado, e o cavalo, mesmo depois de solto, continua a morder o cocho. Há quem pense que a fixação da estereotipia com o tempo decorra de alterações neurofisiológicas permanentes.

Cooper e Nicol realizaram experimentos interessantes com arganazes. Puseram à disposição deles, na gaiola, duas câmaras, uma vazia e outra cheia de feno. Entre três e quatro semanas de idade, a maioria dos roedores passava o tempo na câmara cheia e poucos se dedicavam a estereotipias.

Mas, com o tempo, alguns dos arganazes passaram a mudar de comportamento, ficando menos tempo na câmara cheia. Três meses depois, mais da metade desenvolveu estereotipias, e estes foram precisamente os que começaram a portar-se de maneira diferente em relação aos dois compartimentos ("Animal Behaviour", 41, 971).

Ao fim de algum tempo, os animais não manifestavam preferência alguma por qualquer dos compartimentos, ao passo que os que não desenvolveram estereotipia continuavam a procurar a câmara cheia de feno.

Para Cooper e Nicol, à medida que desenvolvem estereotipias, os arganazes acabam modificando a própria percepção das mudanças do ambiente, deixando de achá-lo pobre e sem atrativos ou, pelo menos, achando-o tolerável.

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