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16/04/2002 - 08h01

Genoma vira arma contra males do cérebro

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP está usando conhecimentos do genoma para diagnosticar e combater doenças mentais como a esquizofrenia e a epilepsia, além do mal de Alzheimer.

Num estudo previsto para durar três anos, eles estão buscando as raízes genéticas dessas três moléstias, que respondem por 50% das doenças neurológicas no Brasil. E já encontraram variações em dois genes que podem indicar propensão a esses males.

O alvo dos pesquisadores nessa peneirada no DNA humano, conforme explica o coordenador do projeto, Emmanuel Dias Neto, são os chamados polimorfismos de nucleotídeos únicos, conhecidos pela sigla em inglês SNP. Trata-se de variações mínimas nos genes, nas quais uma das quatro "letras" químicas do DNA (C, T, A e G) é trocada num determinado trecho da cadeia.

Uma mudança numa única base pode parecer pouco -afinal, o genoma humano tem 3 bilhões de pares delas. Acontece, porém, que uma letrinha trocada pode mudar a proteína cuja produção o DNA codifica, causando efeitos que podem ser prejudiciais à célula.

Segundo Dias Neto, o projeto vai analisar os genes que estão ligados à enzima (proteína que acelera reações químicas) fosfolipase A2. O alvo não podia ser melhor: já se sabe que a dita cuja tem culpa no cartório nos casos de mal de Alzheimer (nos quais ela está em falta) e de esquizofrenia (nos quais ela sobra no organismo).

A fosfolipase A2 está envolvida no metabolismo de substâncias na membrana celular. Essa zona é estratégica para as células do sistema nervoso, que recebem e transmitem impulsos justamente por ela. Perturbações nesse processo são o caminho para o surgimento de doenças neurológicas.

Vilões genéticos
A idéia de Dias Neto e de seus colegas do Instituto de Psiquiatria, como o médico Wagner Gattaz, descobridor do papel pouco honroso da fosfolipase A2, é encontrar SNPs nos genes que carregam a receita para a produção da enzima ou são ativados por ela.

"O instituto atende uns 8.000 pacientes por ano com problemas neurológicos. Com um grupo grande como esse, é possível comparar os perfis genéticos de muitas pessoas e ver como eles influem no surgimento da doença", afirma Dias Neto.

Os pacientes, informados da pesquisa, têm a opção de ceder uma amostra simples de tecido -um fio de cabelo, por exemplo. Os cientistas, então, podem examinar a existência dos tais polimorfismos genéticos, verificando a repetição deles em quem tem determinado problema.

Desde o início do ano, Dias Neto e seus colegas já encontraram SNPs em dois genes (vimentina e alox, nunca estudados antes) que estão envolvidos no ciclo da fosfolipase A2 e, consequentemente, no metabolismo da membrana celular dos neurônios.

"Claro que um polimorfismo só não basta para provocar a doença", explica Dias Neto, ressaltando que sempre há uma conjunção de causas em males complexos como os neurológicos, envolvendo também fatores ambientais.

"Mas a presença deles pode aumentar a predisposição para o problema. E, se nós soubermos qual a função daquele gene, será possível não apenas saber quem tem tendência a ter a doença, mas também quem responde melhor a um dado medicamento", diz.

É aí que entra o outro lado do projeto: ver quais genes estão realmente ativos nas células, produzindo proteínas, usando para isso uma molécula chamada mRNA (RNA mensageiro), que transmite as "ordens" para a fabricação das substâncias.

Os primeiros resultados do estudo, que é financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), vão ser apresentados no Sétimo Congresso Brasileiro de Biomedicina, em Recife, no final deste mês. "Ainda não conhecemos bem o genoma, mas já sabemos o suficiente para começar a desvendá-lo", afirma Dias Neto.
 

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