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17/06/2002 - 06h37

Estrela mais próxima poderia ter planetas

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A estrela mais próxima do Sol, Alfa Centauri, pode ter ao seu redor planetas similares à Terra. A conclusão, que alimenta ainda mais a esperança de que astros como esses sejam comuns no Universo, é de astrônomos do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, a agência espacial norte-americana.

O trabalho não vem de observações, até porque planetas parecidos com a Terra são muito pequenos para serem detectados com as técnicas atuais de investigação - que envolvem a observação do bamboleio da estrela induzido pela presença de objetos grandes e maciços girando em torno dela.

Com essa carta fora do baralho, a única forma de estudar planetas como a Terra fora do Sistema Solar sem esperar anos até o lançamento da nova geração de telescópios espaciais - hoje viva só em pranchetas de engenheiros - é recriar a formação dos sistemas planetários no computador.

Com a ajuda de uma simulação, a astrônoma Elisa Quintana resolveu observar como um sistema planetário poderia ter evoluído em Alfa Centauri, que está a 4,3 anos-luz da Terra. O local é atraente porque "é o que está mais próximo", ela diz, além de ter uma estrela quase idêntica ao Sol, com massa apenas 10% maior.

Mas as diferenças terminam por aí. Enquanto o Sol é uma estrela solitária, Alfa Centauri é um sistema trinário, ou seja, composto por três estrelas. Alfa Centauri A, que é igual ao Sol, é a maior e mais simpática. Alfa Centauri B tem massa também comparável à solar (91%), mas é de um tipo diferente, emitindo um brilho laranja, em vez de amarelo. Nenhuma gira em torno da outra: ambas contornam o centro de gravidade do sistema (o ponto em que o puxão gravitacional de uma estrela "empata" com o da outra).

Para completar o quadro, uma terceira estrela (Alfa Centauri C, ou Proxima Centauri) orbita as outras duas em um traçado oval. Mas essa é uma mera anã vermelha, que possui só 10% da massa do Sol. Nem incomoda.

O problema mesmo é o par A e B. Na sua proximidade máxima, B chega a estar quase tão perto de A quanto Saturno está do Sol. A aproximação da estrela, suspeitam alguns, poderia perturbar qualquer órbita de planeta na região mais próxima de A, tornando o sistema instável -forma eufemística de dizer "catástrofe" (imagine planetas sendo atirados sem rumo para o espaço exterior e outros mergulhando no sol).

Apesar das inconveniências, quando Quintana colocou em seu computador as estrelas e uma nuvem de gás e poeira similar à que formou o Sistema Solar há 4,5 bilhões de anos (elemento que já foi observado em vários sistemas jovens compostos por múltiplas estrelas), descobriu que o sistema evoluía muito bem, obrigado, dando origem a de três a cinco planetas rochosos, como a Terra, orbitando Alfa Centauri A.

As órbitas se mostraram bem estáveis com o passar do tempo, evitando o caos e preservando os planetas por um longo período.

Planetas estéreis
Em compensação, devido à presença de Alfa Centauri B, o sistema não forma planetas gigantes gasosos, como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, nem o equivalente à região exterior do Sistema Solar - de onde a maior parte da água e dos compostos orgânicos que alimentaram a vida na Terra provavelmente vieram.

"Alfa Centauri, deve, portanto ter planetas terrestres secos, livres da vida baseada em carbono e água que floresce na Terra", escreveram os autores, em estudo que deve ser publicado em uma próxima edição da revista "The Astrophysical Journal" (www.journals.uchicago.edu/ApJ/).

As simulações conduzidas por Quintana, uma física nascida no Novo México, reproduziram várias circunstâncias diferentes, para ver que possibilidades se abririam para o sistema planetário hipotético. A constatação foi que planetas se formam principalmente quando o disco protoplanetário - a massa de poeira e gás que gera esse tipo de astro- se distribui próximo ao plano que contém as estrelas.

Só não foram feitas mais simulações porque não deu tempo. "Cada uma dessas simulações leva mais ou menos um mês para ser concluída", conta.

Por mais que no computador Alfa Centauri já tenha seus planetinhas bem configurados, ainda fica a pergunta: quando for para valer, os cientistas vão mesmo achar planetas por lá? A resposta não é nada categórica.

"Baseados nos modelos atuais, concluímos que é possível que planetas tenham se formado. O que acho?", indaga Quintana. "Eu acho que vamos descobrir se estamos certos ou não quando missões como a Kepler [um dos futuros telescópios projetados para observar planetas extra-solares" forem lançadas. Acho que nossos modelos podem complementar essas missões e vice-versa."
 

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