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24/08/2002 - 04h50

Rio +10 deve focar o uso da energia alternativa

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Nenhum dos pesadelos ambientais do planeta é tão grande quanto o aquecimento global, que poderá ser de até 5,8ºC em 2100. E nada tem gerado tanta confusão quanto as soluções internacionais -como o Protocolo de Kyoto -propostas para controlar os gases que o causam, produtos da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo. Para superar o impasse, a Rio +10 deve atacar o problema por outro flanco: lançando os holofotes sobre as energias limpas alternativas ao petróleo.

É o que argumenta José Goldemberg, secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e idealizador da principal proposta do Brasil para Johannesburgo. A idéia é que os governos do mundo se comprometam a chegar a 2012 com 10% de suas fontes de energia baseadas em recursos renováveis (hoje, o total é de 2,2%). Um adeus parcial a petróleo, energia nuclear e grandes hidrelétricas.

Segundo o secretário, a meta de 10% até 2012 não deveria ser vista como um bicho-papão. "No Brasil, o álcool [que deve voltar a receber subsídios no país com recursos do governo alemão] já nos permitiu atingir esse nível. A Alemanha, que tem grande quantidade de energia eólica [produzida pela captação dos ventos" já tem 6% de sua base energética constituída por fontes renováveis", diz.

Na definição de "renováveis" de Goldemberg entram apenas a energia geotérmica (calor vindo da Terra), a eólica, a solar e a marinha, além do processamento de biomassa. Mas o secretário garante que muitas dessas fontes já têm tecnologia madura o suficiente para competir com o petróleo.

Energia eólica
A energia eólica, por exemplo, já está sendo bem explorada na Europa. Os alemães esperam que até 2030 essa tecnologia forneça um terço do total necessário ao país. No Brasil, as turbinas eólicas ainda são pouco difundidas (o custo dessa energia é 70% superior ao de hidrelétricas), mas o potencial estimado para geração de energia por vento, especialmente no Nordeste, é muito superior ao da Alemanha -algo como dez vezes a capacidade de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo.

"A única [fonte renovável] que talvez ainda esteja aquém é a fotovoltaica", diz Goldemberg.

Não é o que pensa David Faiman, da Universidade Ben-Gurion do Negev, em Israel. O pesquisador trabalha com a produção de energia a partir de painéis solares no deserto e acredita no potencial da tecnologia.

"Ela poderia ter um papel bem importante, porque eu acredito saber como gerar energia elétrica a partir de energia solar de um modo que seria competitivo em custo com combustíveis fósseis", diz. A proposta dele é combinar painéis fotovoltaicos com espelhos côncavos que concentrassem a luz solar. Mas o sistema só seria competitivo se instalado em grande escala. "Infelizmente, eu não tenho verba suficiente para provar minha afirmação", diz.

Combustível estelar
Um dos problemas da energia renovável é sua aplicação. É fácil imaginar uma casa, ou mesmo uma cidade, alimentada por uma fonte de energia eólica. Mas o que fazer com os automóveis, que hoje se movem em sua maioria queimando combustíveis fósseis?

O uso da biomassa pode ser uma boa opção em alguns casos, mas não resolve todo o problema. O segredo definitivo pode estar no mesmo combustível usado pelas estrelas -o hidrogênio.

A tecnologia que permite o uso do hidrogênio de forma limpa na produção de energia é a famosa célula de combustível. Inventada para alimentar as naves que levaram o homem à Lua, essa peça de engenharia usa hidrogênio e oxigênio para gerar uma corrente elétrica, produzindo água como resíduo, em vez de carbono.

Claro, gasta-se energia para separar a água em hidrogênio e oxigênio. "Portanto, o hidrogênio não é uma fonte de energia, é um vetor energético", diz Ennio Peres da Silva, secretário-executivo do Centro Nacional de Referência em Energia do Hidrogênio da Unicamp. "É como se ele fosse uma moeda energética comum."

As células de combustível estão em amadurecimento. A tecnologia ainda é cara, mas oferece um ganho ambiental que compensa o resto. E seu custo está em queda.

"A emissão global de gases-estufa por veículos automotores é da ordem de 20%", diz Peres da Silva. Com a implantação do hidrogênio como força motriz para veículos, mesmo que a tecnologia não vingue como fonte para residências e indústrias, o ganho ambiental já terá sido significativo.

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