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02/09/2002
-
04h15
CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo, em Johannesburgo (África do Sul)
Não bastasse o fato de excluir as metas obrigatórias de energia renovável, a proposta apresentada pelo G-77 (grupo dos países em desenvolvimento) ainda abre um precedente que deixa os ambientalistas de cabelos em pé: a possibilidade de transferência de tecnologia para geração de energia nuclear para os países pobres.
A brecha está numa das formulações complicadas e cheias de sutilezas do palavrório diplomático, num parágrafo que fala no desenvolvimento de "tecnologias avançadas, mais limpas, baratas e economicamente viáveis de energia e combustíveis fósseis e sua transferência para países em desenvolvimento (...)".
Uma versão anterior do mesmo texto falava apenas em "combustíveis fósseis". A inclusão de uma única palavra, "energias", mudou todo o sentido do artigo.
A proposta do G-77 deverá ser apoiada por países como Japão, Estados Unidos e França, que detêm tecnologia nuclear e têm interesse em exportá-la. Mas, no que depender de alguns países desenvolvidos, ela não passará em Johannesburgo.
"Muitos países dizem que energia nuclear não é renovável. Isso deveria se refletir na formulação [do texto final de Johannesburgo]", disse ontem, em entrevista coletiva, o ministro alemão do Ambiente, Jürgen Trittin. A Alemanha, governada por uma aliança que inclui o Partido Verde, quer desativar todas as suas usinas nucleares até 2030.
O Brasil não tem posição fechada sobre o assunto, apesar de ter excluído a energia atômica da sua proposta de 10% de energias renováveis para todos os países.
"É um tema importante a ser discutido", disse ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. Segundo o chanceler, é preciso "respeitar especificidades" entre as posições dos vários países sobre o tema.
A Constituição brasileira já permite o uso da energia nuclear para fins pacíficos (o país tem duas usinas atômicas em Angra dos Reis, RJ). Segundo Lafer, o argumento a favor da tecnologia é que, apesar de não ser renovável, ela é limpa (no que respeita a emissões).
"É um argumento a ser considerado, mas eu não tenho posição definida nessa matéria."
Leia mais no especial Rio +10
Documento do G-77 abre brechas até para o uso de energia nuclear
ELIANE CANTANHÊDECLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo, em Johannesburgo (África do Sul)
Não bastasse o fato de excluir as metas obrigatórias de energia renovável, a proposta apresentada pelo G-77 (grupo dos países em desenvolvimento) ainda abre um precedente que deixa os ambientalistas de cabelos em pé: a possibilidade de transferência de tecnologia para geração de energia nuclear para os países pobres.
A brecha está numa das formulações complicadas e cheias de sutilezas do palavrório diplomático, num parágrafo que fala no desenvolvimento de "tecnologias avançadas, mais limpas, baratas e economicamente viáveis de energia e combustíveis fósseis e sua transferência para países em desenvolvimento (...)".
Uma versão anterior do mesmo texto falava apenas em "combustíveis fósseis". A inclusão de uma única palavra, "energias", mudou todo o sentido do artigo.
A proposta do G-77 deverá ser apoiada por países como Japão, Estados Unidos e França, que detêm tecnologia nuclear e têm interesse em exportá-la. Mas, no que depender de alguns países desenvolvidos, ela não passará em Johannesburgo.
"Muitos países dizem que energia nuclear não é renovável. Isso deveria se refletir na formulação [do texto final de Johannesburgo]", disse ontem, em entrevista coletiva, o ministro alemão do Ambiente, Jürgen Trittin. A Alemanha, governada por uma aliança que inclui o Partido Verde, quer desativar todas as suas usinas nucleares até 2030.
O Brasil não tem posição fechada sobre o assunto, apesar de ter excluído a energia atômica da sua proposta de 10% de energias renováveis para todos os países.
"É um tema importante a ser discutido", disse ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. Segundo o chanceler, é preciso "respeitar especificidades" entre as posições dos vários países sobre o tema.
A Constituição brasileira já permite o uso da energia nuclear para fins pacíficos (o país tem duas usinas atômicas em Angra dos Reis, RJ). Segundo Lafer, o argumento a favor da tecnologia é que, apesar de não ser renovável, ela é limpa (no que respeita a emissões).
"É um argumento a ser considerado, mas eu não tenho posição definida nessa matéria."
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