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23/10/2000 - 09h52

Estudo demonstra viabilidade de uma base tripulada na Lua

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A Lua é bom lugar para visitar, mas não para morar. Foi assim que a Nasa (agência espacial dos EUA) encarou a exploração do único satélite natural da Terra, depois de ter feito seis viagens tripuladas -as missões Apolo- entre 69 e 72. Agora, alguns cientistas começam a questionar essa idéia.

Para dois pesquisadores da empresa Boeing, a volta do homem à Lua e a construção de uma base lunar traçam o caminho mais curto para a exploração dos recantos mais distantes do Sistema Solar.

Harvey Willenberg e William Siegfried desenvolveram um projeto que analisa as principais dificuldades que envolveriam o retorno do ser humano à Lua, passando inclusive pela delicada questão orçamentária, principal justificativa da Nasa para a interrupção do programa de missões tripuladas ao satélite.

"Não voltamos à Lua porque é muito caro. Na época das missões Apolo, havia a Guerra Fria e a pressa de chegar à Lua antes dos russos", diz Daniel Goldin, diretor da Nasa. Para ele, a situação é clara: nos anos 60 a agência abocanhava 5% do orçamento dos EUA, sendo um terço só para o projeto Apolo. Hoje, esse valor não passa de 0,7%.

Entretanto, não é essa a avaliação de Siegfried e Willenberg. A dupla acredita ser possível projetar novas missões tripuladas à Lua, visando a futura construção de uma base habitada por humanos na superfície lunar, dentro do orçamento que atualmente é gasto na construção da ISS, a Estação Espacial Internacional.

"O sr. Goldin parece temer que, se voltarmos à Lua, nunca iremos mais adiante", disse o engenheiro Siegfried, em entrevista à Folha.

Ele estima que, tirando os gastos com transporte de equipamentos da superfície para a órbita terrestre, procedimento que pode ser feito com os veículos atuais (foguetes como o Delta-4 ou os ônibus espaciais da Nasa), o custo ficaria em cerca de US$ 20 bilhões.

A ISS estará concluída em 2006. Segundo os pesquisadores, será o momento de criar um novo consórcio internacional, dessa vez mirando a Lua.

Caso isso seja feito, as primeiras missões tripuladas poderiam ocorrer entre 2010 e 2012, com custo compatível com os atuais investimentos americanos na estação, que vão de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões por ano.

Levantando o moral

A Nasa está apostando suas fichas em uma missão tripulada a Marte _um evento que está marcado para ocorrer em duas ou três décadas_, mas os pesquisadores da Boeing não acham que o público esteja disposto a esperar tanto.

"Precisamos ter humanos em nosso próximo grande projeto. Uma missão humana de curto prazo além da órbita terrestre estimularia enormemente a confiança pública em nossas agências espaciais", escreveram, em trabalho apresentado no 51º Congresso Internacional de Astronáutica, no início deste mês no Rio de Janeiro.

Mas nem só de holofotes vive a exploração espacial. Os cientistas apresentam boas razões científicas para investir na volta do homem à Lua, desta vez para ficar.

A mais contundente é a possibilidade de usá-la como ponto de partida para missões a lugares distantes do Sistema Solar. Isso porque a Lua pode ser uma boa fonte para o processamento de combustível para naves espaciais.

Já se sabe que as rochas lunares são ricas em oxigênio, e hidrogênio também está presente na superfície, só não se sabe se em minerais ou em gelo. Essas duas substâncias são propelentes comumente utilizados em foguetes.

A vantagem de produzir combustível na Lua é não ter de levá-lo todo da Terra. Além de ser mais fácil lançar alguma coisa da superfície lunar _já que a gravidade é menor_, em alguns projetos, como uma missão tripulada a Marte, é impossível levar da Terra todo o combustível necessário.

Outro bom uso para a Lua é fazer dela uma área de testes das tecnologias que levarão o homem ao planeta vermelho. "Vejo a Lua como um campo de provas para os desenvolvimentos humanos, de sistemas e de operações necessários para a viagem a Marte", afirma Siegfried.

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