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18/10/2002
-
11h21
Editor-assistente de Ciência da Folha
A demanda mundial por telefones celulares, diamantes e móveis feitos com madeira tropical tem alimentado guerras que matam milhões nos países subdesenvolvidos --especialmente na África-- e pioram a situação ambiental nessas nações. A conclusão é de um estudo que acaba de ser publicado pelo Worldwatch Institute, uma das principais organizações ambientais do planeta.
Segundo o relatório "Anatomy of Resource Wars" (anatomia dos conflitos relacionados a recursos), que o Worldwatch lançou ontem, a exploração de recursos naturais como petróleo, madeira, cobalto e coltan (um composto usado na fabricação de telefones celulares) rendeu, da década de 90 até o ano passado, cerca de US$ 12 bilhões a grupos rebeldes e governos para financiar conflitos civis e com outros países.
Nesse período, tais conflitos mataram e deslocaram 20 milhões de pessoas em países como Angola, Ruanda, Camboja, Indonésia, Libéria e Serra Leoa.
"É preciso ressaltar que esses US$ 12 bilhões são apenas estimativas. Os valores reais devem ser vários bilhões de dólares mais altos", disse à Folha o autor do relatório, Michael Renner.
As "guerras de recursos" são assim chamadas por terem sido provocadas ou agravadas pela presença de recursos naturais. Um exemplo típico foi a guerra civil angolana, na qual a facção rebelde Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola) comprava armas e abastecia tropas por meio da venda de diamantes a grandes empresas, em especial a sul-africana De Beers.
O coltan (columbita-tantalita), minério usado na fabricação de capacitores para telefones celulares, também foi explorado por grupos beligerantes rivais na República Democrática do Congo, onde há abundância do minério.
A partir de 1998, forças contrárias ao governo de Laurent Kabila, apoiadas por Ruanda, Uganda e Burundi, contrabandearam coltano do Congo com apoio de empresas européias -aviões da belga Sabena levavam carregamentos de Ruanda para a Europa.
Segundo Renner, as guerras têm causado impacto ainda difícil de medir em "hotspots" de biodiversidade, como as florestas congolesas.
O parque nacional de Virunga foi invadido por quase 1 milhão de refugiados ruandeses, que desmataram 75 km2 de área protegida. Em outros parques, populações de gorilas, hipopótamos e elefantes foram dizimadas por grupos guerrilheiros.
Renner diz que ainda faltam políticas internacionais de embargo aos recursos "sujos". Isso começou a ser feito com os diamantes africanos, mas "muitas empresas inescrupulosas ainda caminham na escuridão".
Segundo ele, "investir em desenvolvimento humano e educação deve ser prioridade para os países ricos, que até agora têm se beneficiado de suprimentos baratos de material bruto, fechando os olhos para a destruição nas suas fontes".
Consumo de países ricos fomenta guerra nos países pobres
CLAUDIO ANGELOEditor-assistente de Ciência da Folha
A demanda mundial por telefones celulares, diamantes e móveis feitos com madeira tropical tem alimentado guerras que matam milhões nos países subdesenvolvidos --especialmente na África-- e pioram a situação ambiental nessas nações. A conclusão é de um estudo que acaba de ser publicado pelo Worldwatch Institute, uma das principais organizações ambientais do planeta.
Segundo o relatório "Anatomy of Resource Wars" (anatomia dos conflitos relacionados a recursos), que o Worldwatch lançou ontem, a exploração de recursos naturais como petróleo, madeira, cobalto e coltan (um composto usado na fabricação de telefones celulares) rendeu, da década de 90 até o ano passado, cerca de US$ 12 bilhões a grupos rebeldes e governos para financiar conflitos civis e com outros países.
Nesse período, tais conflitos mataram e deslocaram 20 milhões de pessoas em países como Angola, Ruanda, Camboja, Indonésia, Libéria e Serra Leoa.
"É preciso ressaltar que esses US$ 12 bilhões são apenas estimativas. Os valores reais devem ser vários bilhões de dólares mais altos", disse à Folha o autor do relatório, Michael Renner.
As "guerras de recursos" são assim chamadas por terem sido provocadas ou agravadas pela presença de recursos naturais. Um exemplo típico foi a guerra civil angolana, na qual a facção rebelde Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola) comprava armas e abastecia tropas por meio da venda de diamantes a grandes empresas, em especial a sul-africana De Beers.
O coltan (columbita-tantalita), minério usado na fabricação de capacitores para telefones celulares, também foi explorado por grupos beligerantes rivais na República Democrática do Congo, onde há abundância do minério.
A partir de 1998, forças contrárias ao governo de Laurent Kabila, apoiadas por Ruanda, Uganda e Burundi, contrabandearam coltano do Congo com apoio de empresas européias -aviões da belga Sabena levavam carregamentos de Ruanda para a Europa.
Segundo Renner, as guerras têm causado impacto ainda difícil de medir em "hotspots" de biodiversidade, como as florestas congolesas.
O parque nacional de Virunga foi invadido por quase 1 milhão de refugiados ruandeses, que desmataram 75 km2 de área protegida. Em outros parques, populações de gorilas, hipopótamos e elefantes foram dizimadas por grupos guerrilheiros.
Renner diz que ainda faltam políticas internacionais de embargo aos recursos "sujos". Isso começou a ser feito com os diamantes africanos, mas "muitas empresas inescrupulosas ainda caminham na escuridão".
Segundo ele, "investir em desenvolvimento humano e educação deve ser prioridade para os países ricos, que até agora têm se beneficiado de suprimentos baratos de material bruto, fechando os olhos para a destruição nas suas fontes".
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