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01/06/2003 - 11h01

Artigo: eleição na SBPC

MARCELO LEITE
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

Termina em pouco mais de uma semana, dia 12, a eleição para a diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a gloriosa SBPC dos tempos de oposição ao regime militar. A apresentação de três candidatos a presidente, quando a regra tem sido de candidaturas únicas e consensuais, sugere que a sociedade ou está em crise profunda ou vive um momento rico de renovação.

Outra possibilidade, ainda, é que a reviravolta política com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva esteja a exigir uma reconfiguração do consenso morno na comunidade científica, no que respeita às relações com o governo federal (ainda a maior fonte de verbas para pesquisa). Apesar da oposição política ao governo de Fernando Henrique Cardoso, muitos cientistas na prática pareciam contentes com as políticas para o setor, que culminaram na criação dos fundos setoriais, uma inovadora fonte de recursos.

A lua-de-mel desandou antes mesmo de Lula tomar posse. As burras dos fundões começaram a fechar-se já em 2002, estranguladas pelo contingenciamento do qual os fundos deveriam escapar. A racionalidade desses fundos, aplaudidos dentro e fora do estamento científico, era garantir verbas estáveis para a pesquisa.

O alerta sobre o contingenciamento e sobre a discrepância entre discurso modernizante e prática encantatória da gestão FHC foi soado pela equipe de transição de Lula. Ela também inaugurou uma crítica mais visível e estridente dos pressupostos dessa gestão, como o repasse de certas funções estratégicas às chamadas organizações sociais, que firmariam contratos de gestão com o governo.

A marcha a ré nas organizações sociais já começou, com o corte nas verbas e nas atribuições do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), que deveria coordenar a destinação das verbas dos fundos setoriais. Outra que teve as asas cortadas foi a ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron), à qual caberia capitanear um programa nacional de nanotecnologia (desenvolvimento de materiais e dispositivos na escala do bilionésimo de metro).

Da presidência da ABTLuS vem o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite (também membro do Conselho Editorial da Folha), o terceiro candidato a se registrar para a presidência da SBPC. A julgar pela energia da polêmica que tem travado com o MCT, pode-se prever que, caso eleito, venha a mover a oposição mais vigorosa à administração Lula.

No outro extremo da coagulação de posições catalisada pelo governo do PT seria o caso de localizar o outro físico na disputa, Ennio Candotti, professor da Universidade Federal do Espírito Santo que já presidiu a SBPC duas vezes. Distanciado do centro de gravidade da pesquisa brasileira, Candotti parece ser o mais próximo da militância petista. Não é de estranhar, assim, que sua proposta privilegie a descentralização, para contrabalançar o peso desproporcional da comunidade de cientistas paulistas. Candotti é visto por seus adversários como um candidato "da máquina" da SBPC.

Entre os dois, de certo modo, encontra-se o filósofo Renato Janine Ribeiro, da USP. Destoa da candidatura tradicional por vir das ciências humanas, que não passa por fase positiva nestes tempos de inovação pela inovação. É o ungido da comunidade paulista, como fica evidente por uma carta de apoio de ex-presidentes da SBPC, como Crodowaldo Pavan, Sérgio Henrique Ferreira e Warwick Kerr. Embora declare abertamente ter votado em Lula, sua trajetória acadêmica e pública sugere que deverá passar longe de um alinhamento automático.

E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
 

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