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05/08/2003
-
09h33
da Folha de S.Paulo
O labirinto de montanhas e planícies submersas que compõe o leito do oceano junto ao litoral brasileiro acaba de ser mapeado por pesquisadores gaúchos. Criado com a ajuda de sons em alta frequência, o mapa abrange a costa do Brasil do Rio Grande do Sul à Bahia e pode trazer informações valiosas sobre as correntes e os seres vivos marinhos.
O trabalho, divulgado na edição deste mês da revista "Pesquisa Fapesp" (revistapesquisa.fapesp. br), tomou nada menos que seis anos de trabalho dos oceanógrafos Lauro Madureira, Christian Ferreira e colaboradores da Furg (Fundação Universidade Federal do Rio Grande).
Mesmo assim, o mapa ainda não cobre todo o litoral brasileiro. Vai somente do arroio Chuí, o ponto mais ao sul do Brasil, até a embocadura do rio Real, na fronteira entre os Estados da Bahia e de Sergipe.
A sondagem das profundezas do litoral se estendeu por uma faixa que vai de 60 milhas a 600 milhas marítimas (algo em torno de 110 km e 1.100 km, respectivamente). O ponto mais distante da costa atingido pelos pesquisadores gaúchos foi a cadeia de montanhas submersas Vitória-Trindade, a leste do Espírito Santo.
A técnica usada pelos pesquisadores da Furg examina o leito do oceano como se ele fosse uma imensa barriga de gestante, usando ultra-sonografia. Um pulso sonoro de 38 kHz (frequência alta demais para ser captada pelo ouvido humano) é disparado para o fundo do mar. "É uma frequência usada no mapeamento de recursos pesqueiros", diz Madureira.
O tempo que o eco leva para retornar ao barco dá aos pesquisadores uma idéia bastante precisa da profundidade. Mas, para montar um mapa de uma região tão extensa, é preciso juntar diversas medições: "A gente percorre perfis, linhas perpendiculares à costa traçadas de antemão. Quando acabamos um perfil, viramos para o norte e começamos outro", explica o oceanógrafo. "Quanto mais fechada essa malha de perfis, mais confiável é o dado obtido."
A equipe analisou principalmente as áreas mais rasas do litoral, que incluem a plataforma continental (uma planície levemente inclinada, com até 200 m de profundidade), o talude (onde acaba a plataforma e começa uma descida abrupta) e as regiões abissais, cuja profundidade está na casa dos quilômetros.
Não basta receber os dados de profundidade: para montar o mapa tridimensional, é preciso fazer uma série de correções na escala. "Imagine que o trecho entre Cabo Frio [no Rio de Janeiro] e a divisa com Sergipe tenha uns 1.500 km de extensão, enquanto a profundidade está em torno de 3.000 m. Nessa escala, diferenças pequenas no relevo nem apareceriam". Para contornar esse problema, os pesquisadores realçam o relevo marinho de forma que as variações nele apareçam mesmo num mapa abrangendo vários Estados.
De acordo com Madureira, o mapeamento é o primeiro do gênero no Brasil a ser feito com dados recolhidos em barco e pode ajudar no estudo de diversos recursos marinhos. "Vai ser possível conectar esse mapa virtual a um banco de dados e uni-lo às informações que existem sobre salinidade, cardume de peixes e tipo de fundo, por exemplo. Clicando em qualquer ponto da costa, você poderia puxar informações sobre em que contexto estão esses recursos vivos e não-vivos."
Outra possibilidade seria usar as informações de relevo para entender a dinâmica das correntes marinhas, ainda pouco compreendidas pelos cientistas. E, como o mapa é virtual, é possível acrescentar novos dados e aumentar sua precisão.
Gaúchos mapeiam 1.200 km do fundo do mar brasileiro
REINALDO JOSÉ LOPESda Folha de S.Paulo
O labirinto de montanhas e planícies submersas que compõe o leito do oceano junto ao litoral brasileiro acaba de ser mapeado por pesquisadores gaúchos. Criado com a ajuda de sons em alta frequência, o mapa abrange a costa do Brasil do Rio Grande do Sul à Bahia e pode trazer informações valiosas sobre as correntes e os seres vivos marinhos.
O trabalho, divulgado na edição deste mês da revista "Pesquisa Fapesp" (revistapesquisa.fapesp. br), tomou nada menos que seis anos de trabalho dos oceanógrafos Lauro Madureira, Christian Ferreira e colaboradores da Furg (Fundação Universidade Federal do Rio Grande).
Mesmo assim, o mapa ainda não cobre todo o litoral brasileiro. Vai somente do arroio Chuí, o ponto mais ao sul do Brasil, até a embocadura do rio Real, na fronteira entre os Estados da Bahia e de Sergipe.
A sondagem das profundezas do litoral se estendeu por uma faixa que vai de 60 milhas a 600 milhas marítimas (algo em torno de 110 km e 1.100 km, respectivamente). O ponto mais distante da costa atingido pelos pesquisadores gaúchos foi a cadeia de montanhas submersas Vitória-Trindade, a leste do Espírito Santo.
A técnica usada pelos pesquisadores da Furg examina o leito do oceano como se ele fosse uma imensa barriga de gestante, usando ultra-sonografia. Um pulso sonoro de 38 kHz (frequência alta demais para ser captada pelo ouvido humano) é disparado para o fundo do mar. "É uma frequência usada no mapeamento de recursos pesqueiros", diz Madureira.
O tempo que o eco leva para retornar ao barco dá aos pesquisadores uma idéia bastante precisa da profundidade. Mas, para montar um mapa de uma região tão extensa, é preciso juntar diversas medições: "A gente percorre perfis, linhas perpendiculares à costa traçadas de antemão. Quando acabamos um perfil, viramos para o norte e começamos outro", explica o oceanógrafo. "Quanto mais fechada essa malha de perfis, mais confiável é o dado obtido."
A equipe analisou principalmente as áreas mais rasas do litoral, que incluem a plataforma continental (uma planície levemente inclinada, com até 200 m de profundidade), o talude (onde acaba a plataforma e começa uma descida abrupta) e as regiões abissais, cuja profundidade está na casa dos quilômetros.
Não basta receber os dados de profundidade: para montar o mapa tridimensional, é preciso fazer uma série de correções na escala. "Imagine que o trecho entre Cabo Frio [no Rio de Janeiro] e a divisa com Sergipe tenha uns 1.500 km de extensão, enquanto a profundidade está em torno de 3.000 m. Nessa escala, diferenças pequenas no relevo nem apareceriam". Para contornar esse problema, os pesquisadores realçam o relevo marinho de forma que as variações nele apareçam mesmo num mapa abrangendo vários Estados.
De acordo com Madureira, o mapeamento é o primeiro do gênero no Brasil a ser feito com dados recolhidos em barco e pode ajudar no estudo de diversos recursos marinhos. "Vai ser possível conectar esse mapa virtual a um banco de dados e uni-lo às informações que existem sobre salinidade, cardume de peixes e tipo de fundo, por exemplo. Clicando em qualquer ponto da costa, você poderia puxar informações sobre em que contexto estão esses recursos vivos e não-vivos."
Outra possibilidade seria usar as informações de relevo para entender a dinâmica das correntes marinhas, ainda pouco compreendidas pelos cientistas. E, como o mapa é virtual, é possível acrescentar novos dados e aumentar sua precisão.
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