Segredos
do Poder
Mendonça revela que sabia valor da oferta italiana
25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-13
Mendonça de Barros conversa com Renato Guerreiro, da Anatel. Consulta-o
sobre possibilidade de o BNDES ficar por um período de alguns meses
com mais poder na Telemar. Nessa conversa, o ministro comete uma
indiscrição: revela que o valor exato da proposta da italiana Stet
no leilão da Tele Norte Leste era de R$ 5,1 bilhões. Como a Stet
perdeu o leilão, o envelope com sua proposta foi destruído.
Mendonça de Barros revela a Guerreiro que está "com os italianos"
na sala. Constrangido, Guerreiro sugere: "Então é bom não falar".
Luiz Carlos Mendonça de Barros - A BNDESPar já é sócia da
Telemar, da holding lá, da Tele Centro Leste.
Renato Guerreiro - Tele Norte Leste.
Mendonça - Tele Norte Leste, tá?
Guerreiro - Hã, hã?
Mendonça - Ela era sócia da Telebrás e no split ficou uma
porra pequena, 1% ou 2%. O que nós queremos fazer, e eu queria que
você pensasse é, num primeiro momento, com os sócios que formaram
consórcio e portanto estão entrando individualmente no capital da
Tele Central do Norte, fazer uma acordo de acionistas, em qualquer
votação tem que incluir as ações do BNDESPar. Tá?
Guerreiro - Hã, hã?
Mendonça - Isso pra evitar qualquer decisão complicada aí
antes de acertar a formação da holding. Tá?
Guerreiro - Certo.
Mendonça - Que vai controlar a Telemar, né? Na holding, nós
vamos entrar com debêntures conversíveis, certo?
Guerreiro - Hã, hã.
Mendonça - E, a partir daí, a gente vai fazer um acordo de
acionistas em que a gente vai estabelecer um quórum mínimo para
as decisões mais importantes, exatamente pra não deixar eles sozinhos,
tá? Eu queria que você olhasse isso do ponto de vista de vocês.
Guerreiro - Veja, é por isso que os jornalistas estão afoitos.
Mendonça - Isso, isso.
Guerreiro - Eles tiveram aqui e me fizeram uma pergunta:
como é que fica a situação de entrar um outro sócio. Eu disse: olha,
desde que o grupo inicial não perca o controle...
Mendonça - Isso, isso, não tem problema.
Guerreiro - Isso pode acontecer.
Mendonça - Não, não. Não vai perder o controle porque o que
nós vamos fazer é um quórum qualificado do tipo assim de 80% dos
votos. Porque o que nós queremos montar é uma estrutura que tenha
o conselho de administração com os sócios, né, mas a gestão seja
toda ela profissional. Aí eu pedi para o Zilli (Ércio Zilli, que
era assessor especial do ministro), e ele vai te mostrar também,
uma lista de dez pessoas de confiança nossa da área, tipo aquele
japonês, aquele negócio todo, pra gente montar a administração com
esse tipo de gente. Para depois que a gente identificar qual foi
o problema realmente, que parece que tem coisa séria, a BNDESPar
vende as suas debêntures num leilão para que entre gente que dê
segurança pra a coisa, tá? Então, basicamente, vamos precisar de
um período de, sei eu, de três meses, quatro meses, cinco meses,
em que vai existir esse acordo de voto qualificado.
Guerreiro - Tá certo.
Mendonça - Você vê problema nisso, ou não?
Guerreiro - Não, não. Em princípio não. Desde que essa venda
em três ou quatro meses assegure que o consórcio vencedor que comprou
as ações mantenha mais de 50% das ações...
Mendonça - Não, não, isso vai manter. Deixa eu só te falar.
O problema é que foi montada uma maracutaia aí que nós estamos sabendo
agora, e que no fundo foi o Tesouro que sai perdendo, tá? Porque
o preço da Tele Norte ia ser 5.100. (R$ 5,1 bilhões)
Guerreiro - Nossa...
Mendonça - Aí, como saiu pelo mínimo, mais 1%, esse pessoal
está querendo ganhar essa diferença, tá? E só sobre o nosso cadáver
que vai acontecer isso (rindo).
Guerreiro - Pelo amor de Deus, pô.
Mendonça - Mas olha, foi uma coisa feia, viu?
Guerreiro - É?
Mendonça - Eu estou com os italianos aqui..
Guerreiro - Então é bom não falar.
Mendonça - Não vou falar não. Eu só queria saber disso e
eu vou pedir para o Zilli te passar a lista lá, tá?
Guerreiro - O Zilli também está sabendo desse esquema?
Mendonça - Não, não. Só você. Isso aí, quanto menos gente
souber, melhor.
Guerreiro - Tá legal. Porque eles tentando me colocar aqui,
Luiz, me colocaram uma questão de que está sendo criticado, que
teria sido criticado por você, que uma empresa que não tenha operadora
não tem competência.
Mendonça - Não, não foi isso não.
Guerreiro - E eu inclusive disse pra eles que eu acho que
o Brasil tem competência e que você várias vezes referendou a competência
das empresas.
Mendonça - Não. O que nós estamos preocupados é que foi montado
aí um...
Guerreiro - Tá. Não, tudo bem.
Mendonça - Tá? E como eles precisam do nosso dinheiro, do
nosso, do dinheiro aqui do banco, pra pagar nós estamos impondo
as coisas. Agora, eu não quero impor um a coisa que ... agora, tem
muita coisa podre aí que depois nós precisamos conversar, tá bom?
Guerreiro - Tá legal.
Mendonça - Tá bom?
Guerreiro - Um abraço.
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