Segredos do Poder
André Lara Resende propõe estratégia a Malan



25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-14


Segunda-feira, dia 3 de agosto. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, telefona para a presidência do BNDES. Nesse dia está ocorrendo uma reunião do Conselho de Administração do Banco do Brasil, à época presidido pelo então secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente.
Malan e André conversam sobre o financiamento à seguradora do Banco do Brasil. André defende a estratégia acertada com Mendonça de Barros no telefonema anterior, mas demonstra estar um pouco desconfortável, pois gagueja várias vezes.

Pedro Malan - Alô?
André Lara Resende - Oi Pedro.
Malan - Aí, André.
André - Tudo bem?
Malan - Você tá onde?
André - Tô no Rio.
Malan - Ah, achei que 'cê vinha hoje, não?
André - Não. Pô, isso aqui tá...
Malan - Olha aqui. O assunto daquela nossa conversa de sexta-feira, o problema é o seguinte: eu mandei o Pedro (Parente) ir lá (no Banco do Brasil), como presidente do Conselho (de Administração do Banco do Brasil), ele tá lá agora. Ele diz o seguinte: que o... tem... Primeiro, eles não teriam problema em aceitar aquilo que eu entendi que era a sua grande mensagem, os termos do acordo de acionistas tal como está sendo proposto pelo BNDESPar.
André - Certo.
Malan - Agora, eles têm problemas graves, e eles alegam até que isso envolve TCU e discussão de outra natureza em considerar a BB, a Previ, e a BB Seguros como empresas públicas, o que não o são, e que devem ser tratadas como as outras. E que, em sendo assim, que eles não têm problemas de aceitar os termos do acordo de acionistas da BNDESPar, tal como proposto pela BNDESPar. Mas ele têm uma enorme dificuldade em aceitar que o BNDES defina se são públicas ou não são, se são privadas. Que isso abre uma caixa de pandora aí.
André - Não, o BNDES só define quem não financia ou quem não financia. Agora, ia até ver, como eles já... como isso já bateu aqui em mim. Essa mesma... E não é sobre a Previ, porque a Previ não está em questão. É limitado, nunca teve... Nós sempre dissemos que o fundo de pensão não teria financiamento. É a seguradora que eles estão reclamando. Que eles dizem que isso os fragiliza, os enfraqueceria diante do TCU. De que eles são... eles querem ser como uma seguradora privada. Eu acho que a solução é dizer o seguinte: olha, dizer, não, nós até... nós... tudo bem, até poderíamos ter, mas, mas eles não estão demandando. Agora, tem um problema seguinte, Pedro. Tem um problema de... de... inclusive de... nós... nós não podemos... eles aceitam, mas nós dissemos isso o tempo todo, dissemos na imprensa, esse pessoal fez o di... e, agora, nós vamos voltar a atrás?
Malan - Hum.
André - Perfeito? Então eu disse, não, nós não estamos financiando porque não queremos financiar. Pronto. Hoje... O ideal é dizer não, nós não queremos o teu financiamento. E, aliás... (gaguejando) me... me... me... telefonou uma moça do "Globo" hoje, que só foi a única pessoa que eu atendi, que ontem eu tratei ela muito mal, ela me ligou em casa, e perguntou sobre... E fez essa pergunta, engraçado, antes do problema, ela me fez essa pergunta. Eu disse, não, eles não estão pedindo.
Malan - Hum.
André - Perfeito? Eles não pediram o financiamento. Essa que é a solução: eles não pedem financiamento. Então, eles não pediram não entra nessa questão. Nós não negamos.
Malan - Ééé... Eu notei uma certa... assim... um desconforto com o fato dessa discussão ter ido para a imprensa sem que eles tivessem tido a oportunidade de discutir de maneira não pública, tal. Mas que que você quer que eu diga ao Pedro (Parente), lá, então?
André - Mas você acha que fomos nós que fomos para a imprensa, Pedro?
Malan - A percepção deles é que foi o banco, é... é...
André - Mas não foi, né.
Malan - Mas... que que acha... Que que 'cê quer que eu diga lá para o Pedro, então? Que eles não peçam?
André - O ideal é que eles digam: "Não, nós não precisamos de financiamento". Manda uma carta dizendo, olha, "nós não precisamos de financiamento, nós não vamos"... E nós falamos: "Ok".
Malan - Humhum. Sei.
André - Da seguradora, só.
Malan - Da seguradora, só. E quanto ao negócio lá do acordo do BNDESPar, que você insistiu tanto?
André - Isso já tá... já... tá... foi...
Malan - Eu entendi que o Pedro (Parente) quis dizer _eu estava aqui em outra reunião, com outras pessoas, sai rápido para ver_, ele disse que se tiver o financiamento eles não tem problema de aceitar o acordo com o BNDESPar. Mas isso aí se aplica ao conjunto mais amplo, né, do consórcio, não é isso?
André - É. E vai.. e... e o acordo, que na verdade acaba sendo com o... vai ter o... BNDESPar entra, e fica com uma participação de 25% nisso.
Malan - Você sugere que eu diga ao Pedro que eles digam que eles não estão pedindo financiamento do BNDESPar.
André - Que eles não precisam do financiamento. O que é verdade.
Malan - Humhum.
André - Eles não precisam. Aliás, não vai... não vai ter financiamento... Na verdade ninguém vai precisar como tá agora... O BNDESPar vai ficar com uma participação de 25%. Tem um acordo lá transitório até vender de... ter um... ter um quórum qualificado de organização a empresa e tal, e pronto, e vai em frente.
Malan - Tá bom. Então, tá.
André - Então, o ideal é dizer o seguinte, nós, eles dizem nós não precisamos do financiamento. Então, nós damos... Ok.
Malan - Tá bom.
André - Essa não é a questão. Nós já, inclusive, flexibilizamos uma coisa que... coisa que é importante. O seguinte: eles, eles vão ficar com... lá eles ficam com 5% do capital votante, mais ficam com a seguradora... eles ficam com 10%, têm as preferenciais, então eles têm uma participação maior do que 5%, porque soma. Então, nós não estamos limitando eles nem nos 25%, eles mais o fundo de previdência, de 25%...
Malan - Tá bom.
André - Agora, Pedro, só por você achar... Não acha que esse é um assunto muito complicado. Não é que nós fomos para a imprensa sobre isso, não. A imprensa é que foi... A imprensa é que abriu isso no primeiro momento. Até porque as ações caíram... foi a primeira coisa que caiu. Quem é, como é que faz etc. Foi muito complicado.
Malan - Entendi. Precisamos conversar com mais calma, heim?
André - Tá bom.
Malan - Olha aqui. É... é... Eu não abandonei aquele seu convite para um dia passar um fim-de-semana lá na sua... no seu latifúndio.
André - O próximo?
Malan - Não. O próximo já estou no Rio. Mas, ainda antes das eleições.
André - Tá bom.
Malan - Tá bom?
André - Então, tá bom.
Malan - A gente se fala.
André - Tá bom.
Malan - Final de setembro 'cê tá lá?
André - É possível. É uma data.
Malan - É? Então, pensa aí.
André - Então, tá bom.
Malan - Tá bom (risos).
André - Tá bom.
Malan - Um abraço.
André - Um abraço, tchau.


Leia mais
"Malan é um babaca", diz Mendonça


Prêmio Folha

Segredos do Poder

Conexão Manágua

Mercado de Voto

Educação

Conflito no Líbano

Folha revela como empreiteiras e bancos financiaram o jogo eleitoral

Fotos e documentos derrubam versão oficial do caso PC


Prêmio Folha Categoria Fotografia
Pátria armada
Dia de terror
São Paulo de patins
Tentativa de assalto
PC no IML
Socorro. Polícia
Miragem
Garimpeiros do lixo


Veja todos os vencedores dos anos anteriores
1999

1998

1997

1996

1995

1994

1993

subir

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.