Segredos do Poder
Opportunity pagaria R$ 5,1 bilhões



25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-16


em São Paulo

O então ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) informou ao presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Renato Guerreiro, logo depois do leilão da Telebrás, que o consórcio do Opportunity com os italianos ofereceu R$ 5,1 bilhões (50% de ágio) pela Tele Norte Leste. Ou seja, R$ 1,66 bilhão a mais do que os R$ 3,43 bilhões pagos pelo vencedor, o Telemar.
O valor exato da proposta dos italianos é uma informação inédita, porque o envelope com a oferta foi triturado pela Bolsa de Valores do Rio, ainda fechado.
Como os italianos venceram o leilão da Tele Centro Sul, foram automaticamente eliminados da disputa pela Tele Norte Leste. Nesse caso, as regras do leilão determinavam que o envelope fosse destruído antes de ser aberto, para que não fosse conhecida a proposta excluída da competição.
Em seu depoimento no Senado, em novembro último, Mendonça de Barros admitiu ter sido informado de que a proposta dos italianos ultrapassava a da Telemar em R$ 1 bilhão, mas não precisou a cifra. Na ocasião, disse ter recebido a informação de Carmelo Furcci, presidente da Telecom Italia no Brasil, com quem esteve no BNDES um dia depois do leilão.
Mendonça ligou da presidência do BNDES, no Rio, para Renato Guerreiro, em Brasília, e o diálogo foi gravado pela escuta clandestina. O então ministro disse que tinha havido "maracutaia'' no leilão da Tele Norte Leste.
"(...) No fundo, é o Tesouro que sai perdendo, tá? Porque o preço da Tele Norte Leste ia ser de cinco e cem (R$ 5.100 bilhões)''. Impressionado com a revelação, Guerreiro exclamou: "Nossa!!!''.
Mendonça prosseguiu afirmando que o consórcio ganhador, que pagara apenas 1% de ágio, estava querendo ficar com a diferença. "E só sobre o nosso cadáver que vai acontecer isso'', disse, rindo, sem explicar como os integrantes do Telemar embolsariam a quantia.
Na conversa, o ministro contou que estava com os italianos em seu gabinete e, constrangido, Guerreiro o aconselhou a interromper os comentários. Mesmo assim, Mendonça afirmou, antes de desligar o aparelho: " (...) Tem muita coisa podre aí, que depois precisamos conversar, tá bom?''.
Mendonça ligou para Guerreiro para consultá-lo sobre a viabilidade legal de o BNDES se tornar sócio temporário da Telemar, comprando debêntures conversíveis (títulos de dívida que poderiam ser trocados por ações) do grupo.
Guerreiro respondeu que não haveria problemas, desde que o grupo vencedor do leilão permanecesse com pelo menos 50% das ações com direito a voto. Mendonça disse que isso seria respeitado.
Até a divulgação das primeiras fitas, quatro meses depois do leilão, Mendonça defendeu a venda das ações do BNDES na Tele Norte Leste para o grupo Telecom Italia.
Em setembro, ele visitou a direção da Telecom Italia, em Roma, e voltou declarando que os italianos ofereceram R$ 1 bilhão pela posição do BNDES.
(ELVIRA LOBATO)


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