Segredos do Poder
BNDES até pensou em burlar edital



25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-16


em São Paulo

Uma conversa entre dois altos executivos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), na véspera do leilão de privatização da Telebrás, captada pelo grampo telefônico clandestino, revela que o banco admitiu burlar o edital de privatização para facilitar a participação do Opportunity no leilão da Embratel.
No telefonema gravado, o então vice-presidente do BNDES, José Pio Borges (atual presidente da instituição), autorizou o Opportunity a registrar como privados dois fundos de pensão estatais: o Sistel, da Telebrás, e o Telos, da Embratel.
O telefonema se deu entre Pio Borges e Nelson Rozental, diretor da BNDESPar (BNDES Participações). Como o banco foi gestor da privatização, ambos participaram ativamente do processo de venda. Rozental contou a Pio Borges que o Opportunity estava com um "problema'' na Câmara de Liquidação e Custódia da Bolsa do Rio para registrar o consórcio (Longdis) que iria disputar o leilão da Embratel.
Pelo edital de privatização, os fundos de pensão ligados a empresas estatais só poderiam comprar até o limite máximo de 25% das ações com direito a voto oferecidas pelo governo no leilão.
Rozental disse, no telefonema, que havia recebido uma ligação de Elena Landau _consultora do Banco Opportunity e ex-diretora de Desestatização do BNDES_ relatando as dificuldades.
"A Elena ligou. Eles tiveram um problema na CLC, no caso da Embratel, que estaria estourando o limite dos fundos. Eles não estavam pegando a participação dos fundos no 'private equity' (fundo de investimento do Opportunity). Na hora que somou tudo, a Bolsa está considerando que está extra-limite.''
Rozental disse que Elena Landau lhe perguntara se poderia considerar o Telos e o Sistel como privados, uma vez que suas mantenedoras, Embratel e Telebrás, seriam privatizadas no leilão. "Tá. Tudo bem. Pode considerar'', respondeu Pio Borges.

"Elefante"
Segundo o edital, o limite de 25% se aplicava aos fundos de pensão ligados direta ou indiretamente à administração pública. Rozental disse a Pio Borges que se trocassem a palavra direta por indireta, entraria "um elefante''.
"Assim, não. É específico. Ela vai estar te ligando sobre assunto, você dá o sinal verde'', prossegue o diretor da BNDESPar. "Tá ok. Vamos concentrar nossas baterias com Telemar'', responde Pio Borges. Rozental conclui: "(...) Viabilizou a Embratel, só sobra a Telemar''.
O Opportunity participou do leilão da Embratel com o consórcio Longdis, que acabou derrotado pela MCI, dos Estados Unidos, após intensa disputa de preço. Os fundos de pensão participavam diretamente do Longdis (com 24%) e indiretamente, pelo fundo CVC Opportunity Equity Partners. A Sprint norte-americana, que participaria com 25%, foi para o leilão com uma presença simbólica de apenas 1%. O controle da Embratel foi vendido pelo governo por R$ 2,65 bilhões e ágio de 47,2%.
A Câmara de Liquidação e Custódia não informa se os fundos Telos e Sistel foram registrados como privados na formação no consórcio Longdis. A instituição diz que esta não é uma informação pública.
(ELVIRA LOBATO)


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