Segredos
do Poder
FonteCindam queria US$ 46 milhões
25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-16
da Sucursal do Rio
Em um dos telefonemas de Mendonça de Barros para André Lara Resende,
captado pela escuta clandestina em 3 de agosto do ano passado, o
então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros disse
que o Banco FonteCindam cobrou comissão de US$ 46 milhões dos fundos
de pensão por assessorá-los na compra de 19,9% do consórcio Telemar.
Sem saber que a conversa estava sendo gravada, o ministro contou
a Lara Resende que os fundos baixaram a comissão para US$ 13 milhões,
mas que, ainda assim, o banco recusava-se a assinar o acordo de
acionistas com o BNDES, enquanto não tivesse garantia do recebimento
da comissão.
No telefonema a Lara Resende, Mendonça de Barros disse que daria
um ultimato a Eduardo Modiano, diretor do FonteCindam. Disse que
iria ligar para Modiano com a seguinte ameaça: "Você tem dez minutos
para assinar isso, certo? Porque, senão, é outro que vai ter que
torcer pro Lula ganhar''.
Ou seja, cogitou ameaçar o diretor do FonteCindam com retaliação
do governo, caso não assinasse imediatamente o acordo de acionistas,
na condição de representante dos fundos de pensão.
"Prá cá, prá lá"
No mesmo dia 3 de agosto (véspera da liquidação financeira do leilão),
Mendonça faz uma outra ligação para Lara Resende e se refere, de
forma enigmática, ao pagamento de comissões:
Lara Resende - Impressionante. Olha, um negócio, Luiz Carlos,
inacreditável. Uma história...
Mendonça de Barros - Comissão prá cá, comissão prá lá.
As novas fitas obtidas pela Folha mostram que, nos cinco dias que
se seguiram ao leilão da Telebrás, houve intenso confronto entre
governo, empresas privadas e fundos de pensão pelo controle da Telemar
(que comprou a Tele Norte Leste), com manobras, ameaças e artimanhas
de todos os lados.
O primeiro confronto ocorreu logo depois do leilão, quando os empresários
Carlos Jereissati (grupo La Fonte) e Atilano de Oms Sobrinho (grupo
Inepar) foram até a presidência do BNDES, para uma reunião com Lara
Resende, sem nem sequer marcarem audiência.
Em depoimento ao Ministério Público Federal, em dezembro do ano
passado, Jereissati disse que foi ao BNDES fazer uma "visita de
cortesia, como recomenda a boa educação'' e que encontrou Lara Resende
"transtornado''.
Para se ter uma dimensão da temperatura do encontro, Jereissati
disse em seu depoimento que Lara Resende teria chamado o consórcio
Telemar de "chapa branca'' e afirmado que, por esse motivo, não
teriam o financiamento do BNDES. Jereissati afirmou ter sido também
chamado de"testa-de-ferro'' do Banco do Brasil.
Depois do leilão, o BNDES exigiu ficar com 25% das ações da Telemar
como contrapartida para a liberação de financiamento ao grupo vencedor,
e os sócios tiveram de abrir mão de parte de suas ações na empresa.
Para complicar o troca-troca, Jereissati, que não fazia parte do
bloco inicial que foi ao leilão, comprou 14,5% das ações dos demais
acionistas.
As duas seguradoras do Banco do Brasil reduziram sua participação
de 20,1% para 10%. Macal, Inepar e Andrade Gutierrez baixaram de
cerca de 20% cada um para cerca de 11%, enquanto os fundos de pensão
ficaram com 19,9%. Apesar da queda-de-braço entre os sócios, a divisão
não está oficializada.
Leia mais
Fita derruba versão do governo sobre
interferência em leilão
|
|
Segredos
do Poder
Conexão Manágua
Mercado de Voto
Educação
Conflito
no Líbano
Folha
revela como empreiteiras e bancos financiaram o jogo eleitoral
Fotos
e documentos derrubam versão oficial do caso PC
Prêmio Folha Categoria Fotografia
Pátria
armada
Dia
de terror
São
Paulo de patins
Tentativa
de assalto
PC
no IML
Socorro.
Polícia
Miragem
Garimpeiros
do lixo
Veja todos os vencedores dos anos anteriores
1999
1998
1997
1996
1995
1994
1993
|