Segredos do Poder
Mendonça omitiu gestões em favor do Opportunity ao depor em Procuradoria



26/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-4


da Sucursal de Brasília e da Sucursal do Rio

As 46 fitas com gravações inéditas de telefones grampeados na presidência do BNDES, publicadas em parte pela Folha, mostram que o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) omitiu, em depoimento ao Ministério Público Federal no Rio, suas gestões para aproximar a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, de consórcio formado pelo Banco Opportunity para o leilão de privatização da Telebrás, em julho de 98.
Segundo o Ministério Público, essas gestões de Mendonça de Barros configuram interferência do poder público na privatização da Telebrás. A interferência teria ocorrido também durante a concessão de cartas de fiança aos consórcios e na definição de regras de financiamento para os vencedores do leilão.
Em dezembro do ano passado, Mendonça de Barros disse ao Ministério Público que "não tomou nenhuma providência" para aproximar o fundo de pensão do Opportunity e que se limitou a acompanhar o desenrolar dos fatos, "respeitando a autonomia de decisão da Previ".
Nas fitas, no entanto, Mendonça de Barros, então no ministério, fala como se agisse intensamente em favor do consórcio liderado pelo Opportunity. Na véspera do leilão, telefonou ao então presidente da Previ, Jair Bilachi, e o colocou na linha com Pérsio Arida, na época sócio do Opportunity.
Ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso, em nota oficial divulgada pelo Palácio do Planalto, classificou de "sensacionalista" a reportagem da Folha sobre as fitas. O texto afirma ainda que o presidente "lamenta e manifesta sua indignação'' diante da publicação do teor de conversas gravadas.
As fitas trazem diálogos entre FHC e o então presidente do BNDES, André Lara Resende. Ao ser questionado por Lara Resende se poderia "usá-lo" para pressionar a Previ a entrar no consórcio do Opportunity, FHC diz: "Não tenha dúvida".
O ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), escalado pelo presidente para dar explicações sobre o episódio, classificou a reportagem de "café requentado" e reclamou do fato de o governo não ter sido ouvido antes para dar sua versão.
Aliados desencadearam no Congresso uma operação para preservar a imagem de FHC. Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Senado, disse que "não há nada que incrimine o presidente''. Para ACM, o que FHC fez "foi mostrar interesse em que houvesse concorrência no leilão''.
Já o presidente do PMDB, Jader Barbalho (PMDB-PA), disse que FHC "queria, mais do que o sucesso financeiro, era que o setor de telefonia não caísse nas mãos de gente despreparada''.
O senador do PMDB não poupou de críticas, porém, Mendonça de Barros e Lara Resende. "Acho que o presidente foi levado por essa gente a um gesto intuitivo pelo entusiasmo de ver o sucesso do leilão'', disse Jader.
A oposição defendeu a criação de uma CPI mista de deputados e senadores para investigar o leilão de privatização da Telebrás e anunciou que vai apresentar uma representação na Câmara acusando FHC de crime de responsabilidade, o que pode resultar num processo de impeachment.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), a quem cabe acatar ou não o requerimento da oposição, disse considerar "exagerado'' o pedido de impeachment. "O que se poderia imaginar é a hipótese de investigação'', afirmou.
No mercado financeiro, houve impacto negativo, intensificado pela instabilidade na Bolsa de Nova York. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou o pregão em queda de 4,95% _anteontem, já havia caído 4,88%, a maior queda desde 14 de janeiro (quando o governo abandonou as bandas cambiais).
O dólar comercial fechou cotado a R$ 1,732, com alta de 0,35% em relação a anteontem. Os C-Bonds, títulos brasileiros mais negociados no exterior, tiveram alta de 1,85%.


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