Grande
Prêmio Folha de Jornalismo 1999
A
carreira de PC Farias
24/03/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-8
Mario Magalhães
Do enviado especial a Maceió
A convivência com PC Farias durante um ano e quatro meses fez com
que Suzana Marcolino soubesse de muitas informações sobre a vida
do namorado. Desde janeiro, a Folha conversou com 17 pessoas
que a conheceram. Todas, alegando medo, só falaram reservadamente.
A seguir, algumas confidências de Suzana a pessoas sabidamente próximas
a ela, conforme os relatos ouvidos pela Folha.
1) PC bebia muito. Quanto maior o consumo de álcool, especialmente
uísque, ele ficava mais emotivo e chorava. Em uma noite, depois
de muitos drinques, disse a Suzana que sabia que sua mulher, Elma
Farias, não morrera naturalmente, mas sim assassinada.
Elma morreu em Brasília, no dia 20 de julho de 1994, quando o marido
estava preso. As causas da morte foram edema pulmonar agudo e insuficiência
cardíaca. PC acreditava que os problemas tinham sido provocados
voluntariamente, mas não citou nomes.
Antes de morrer, Elma insistiu em que ele contasse os segredos que
guardava. ''Paulo, você tem que tocar fogo neste país, entregar
todo mundo'', falava ao marido, conforme ela mesma afirmou em entrevista.
''Esse homem tem sangue frio, sangue de barata'', dizia. Quando
o marido foi preso, Elma atacou Fernando Collor: ''O que o Paulo
César fez foi conseguir fundos de empresários para a campanha de
Collor. Por que só o Paulo César? Ele não agiu sozinho. Tem alguém
que mandou, e o chefe maior foi quem mandou''.
A Folha tentou entrevistar a promotora de Justiça Eônia Pereira
Bezerra, irmã de Elma, que não aceitou. Por telefone, ela disse:
''Não recebo jornalistas, não faço declarações, principalmente sobre
a morte da minha irmã. Ainda estou muito fragilizada. Sei por que
você me procura, mas vou calar''.
Eônia, de acordo com testemunhos diversos, tem relacionamento difícil
com os irmãos de PC, principalmente com o deputado Augusto Farias
(PPB-AL). Mesmo assim, continua cuidando e morando com os sobrinhos.
Trabalhando em um motel de Maceió, a Folha encontrou a cozinheira
Irene França, que preparou a última refeição para Elma, em Brasília,
e para PC e Suzana Marcolino, em Maceió.
''A morte da dona Elma é um mistério'', disse Irene, sem manifestar
qualquer suposição.
2) No Carnaval de 1996, PC promoveu uma festa em sua casa no bairro
de Mangabeiras, em Maceió. Convidados repararam que não aparentava
o humor habitual.
Indagada sobre o comportamento do namorado, Suzana apontou para
um convidado que ela chamou de ''Jorge, um argentino''. PC estava
abatido, de acordo com a namorada, porque tivera uma fortíssima
discussão com Jorge por achar que ele estava sendo trapaceado em
negócios comuns.
Investigação da Polícia Federal posterior à morte de PC revelou
que o argentino Jorge Osvaldo La Salvia era procurador e um dos
responsáveis pelas operações financeiras do ex-tesoureiro de Fernando
Collor no exterior.
Na semana anterior ao assassinato de PC, La Salvia esteve em Maceió.
PC Farias nunca teria recuperado a confiança nele.
3) Numa noite, quando estavam juntos no quarto de PC Farias na casa
de Mangabeiras, Suzana teria ouvido a seguinte pergunta dele, pelo
telefone, a um interlocutor não-identificado:
''E aí, o leite chegou?'' Depois, segundo a lembrança que uma pessoa
próxima a Suzana guarda do relato dela, PC teria virado para a namorada
e perguntado: ''Você sabe o que é leite?''
Suzana Marcolino não respondeu, mas ficou com a impressão de que
se tratava de um eufemismo para designar alguma droga.
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