02/05/2005
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21h10
Trabalho é a principal fonte de estresse
da Folha de S.Paulo
"Minha vida era só o trabalho, tinha abandonado o lado pessoal. Até que um dia, ao chegar em casa após uma crise de choro, desmaiei. Quando acordei, estava num quarto do [hospital] São Luiz, sem vontade de viver."
Histórias como a vivenciada pela gerente de recursos humanos Flávia Pettine Gaeta, 28, longe de serem casos isolados, refletem uma situação cada vez mais visível no ambiente profissional: o brasileiro está estressado.
Essa é a constatação da pesquisa anual sobre estresse realizada pela Isma-BR (International Stress Management Association) com 752 profissionais de empresas brasileiras ao final de 2004.
Os resultados do levantamento, que serão apresentados em junho e foram obtidos com exclusividade pela Folha, revelam que 65% dos entrevistados consideram seu nível de estresse de regular a péssimo, o que compromete a qualidade de vida de 66% deles.
O dado mais alarmante, entretanto, é o de que, pela primeira vez, a principal fonte de estresse do brasileiro é o trabalho: 58% apontaram a profissão como causa da doença (leia quadro abaixo). "Em 2003, os problemas pessoais ainda sobressaíam: foram mencionados por 53% dos respondentes", compara a presidente da Isma-BR, Ana Maria Rossi.
Primeiro de Maio
Entre as principais causas do distúrbio, destaca-se a reclamação da sobrecarga profissional, citada por 48% das pessoas. E, em meio às festividades do Dia do Internacional do Trabalho, as notícias não são das mais animadoras: outro estudo, recentemente divulgado pela Families and Work Institute, entidade norte-americana sem fins lucrativos, revela que um terço dos profissionais se sentem cronicamente sobrecarregados nos EUA, país que costuma ditar tendências para o ambiente de trabalho brasileiro.
"Percebemos que o principal problema não é a carga horária, mas o modo como as pessoas trabalham", ressalta a presidente do instituto, Ellen Galinsky.
Outra pesquisa, a ser concluída em maio pela consultoria PriceWaterhouseCoopers, também aponta "uma tendência de aumento da geração de receita por empregado", ou seja, o funcionário deve produzir cada vez mais.
Lado bom
Mas, para os profissionais, nem tudo está perdido. Há quem consiga tirar do estresse lições de vida. "É a chance de perceber que é o momento de refletir e mudar. Nada é por acaso", diz a analista de sistemas E.Z., 29, que já passou por crise da doença.
Foi o que aconteceu com Flávia Gaeta. "Percebi que eu me levei à doença, então mudei. Hoje aceito a vida como é, sem tentar controlar tudo. Sinto-me mais humana."
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