05/02/2006
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11h50
Para empresas, "santo de casa faz milagre"
LARA SILBIGER Colaboração para a Folha de S.Paulo
Dentro de casa podem estar as idéias mais criativas e inovadoras. É o que têm observado as empresas que decidiram apostar no potencial de seus colaboradores realizando concursos e premiações para as melhores sugestões.
Alessandro Tomao, 28, teve uma idéia que lhe rendeu bônus de R$ 1.800 e uma viagem à Ilha de Comandatuba (BA). Em um concurso interno, Tomao, que é supervisor jurídico do Banco Itaú, propôs reduzir o número de vias de boletos bancários para economizar em um terço o papel usado.
A sugestão veio ao encontro das necessidades da instituição. 'O objetivo era justamente criar uma nova cultura de economia e racionalização de gastos', conta Geraldo Martins, 41, superintendente de relações sindicais.
Ao todo, foram enviadas 21.095 recomendações a um comitê. Destas, 2.000 foram implementadas, o que levou a uma economia de até R$ 100 milhões por ano.
Como forma de gratificação, cada um dos 37 mil funcionários do banco recebeu R$ 800. Os mentores das cem melhores idéias tiveram um bônus de R$ 1.000, e os 15 finalistas ganharam a viagem.
"Todas as empresas deveriam otimizar o capital intelectual de que dispõem e que já está incluído na folha de pagamento", afirma Antonio Carlos Teixeira, diretor da Consultoria Pense Diferente.
"Assim, a organização pode agregar valor ao processo e ao produto, além de motivar o colaborador", assegura Ricardo Farah, professor do Ibmec.
A política de ouvir os empregados é uma prática antiga nas empresas que valorizam as sugestões internas. "A grande novidade é estruturar programas formais para oficializar o reconhecimento das boas idéias e estabelecer critérios objetivos de premiação", destaca Carlo Hauschild, diretor da consultoria Hewitt Associates.
Fábrica de idéias
Há um ano e meio, a Nokia implementou na fábrica em Manaus um programa de melhoria contínua, no qual os 3.200 colaboradores têm um papel-chave.
O desafio é trazer inovações com os recursos já disponíveis, dentro de normas como qualidade, custo, necessidades do cliente, segurança, ambiente e motivação.
"O que temos não é um programa de sugestões, mas de implementação de idéias", diz o chefe de qualidade, Marcos Nunes.
A fábrica utiliza 40 novas sugestões por mês, encaminhadas por times de funcionários. No final do ano, as 12 melhores soluções são apresentadas e um júri escolhe a equipe que será brindada com uma viagem.
O último grupo vencedor da campanha da Nokia é formado por seis funcionários que propuseram alteração na lente da câmera do celular para melhorar a qualidade da foto tirada com flash.
"Sempre que tínhamos uma idéia, nos reuníamos, no intervalos do expediente ou fora dele", relata o engenheiro Paulo Maciel, 24, porta-voz do grupo.
Vitória reconhecida
Além de recompensas que materializam a vitória, como viagens, brindes e dinheiro, há também formas imateriais de bonificação. "O reconhecimento profissional por parte da chefia já é um prêmio por si só", ressalta Teixeira.
"Ser um dos finalistas trouxe a possibilidade de destacar-me na empresa", recorda Tomao. "Até recebi um telefonema do diretor-executivo parabenizando-me."
Para as empresas, mais do que efeitos imediatos, a principal vantagem é poder criar um ambiente aberto ao diálogo constante.
"O maior benefício é promover a cultura participativa, bem como comprometer o funcionário com os resultados", destaca Hauschild.
Outro aspecto está ligado à credibilidade dos programas de sugestões. Para solicitar a colaboração dos empregados, a companhia tem de estar madura para receber as idéias, avaliá-las, dar um "feedback" para o mentor e, se aprovadas, levá-las a cabo.
"Caso contrário, cria-se um clima desmotivador e as promessas tornam-se vazias", alerta Farah.
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