15/04/2007
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10h50
Programas corporativos vão à casa do trabalhador
MARIA CAROLINA NOMURA
Colaboração para a Folha de S.Paulo
Trabalhar em casa não é novidade, principalmente para funcionários que prestam serviços para grandes empresas. A inovação é que já há quem cuide da saúde do profissional que não fica baseado na sede.
Um dos pioneiros é o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados). A empresa tem um sistema de "vigilância ergonômica" dos que atuam em casa, de acordo com Joselma Oliveira Pinto, coordenadora do projeto de teletrabalho.
"A cada seis meses, os teletrabalhadores recebem a visita de um engenheiro de ergonomia, que avalia desde a adequação da cadeira até os graus de luminosidade e ruído", diz.
A iniciativa, segundo ela, possibilitou a medição do resultado do trabalho prestado pelos funcionários. "Houve aumentos de 64% na qualidade de vida e de 50% na produtividade."
Sem leis
O Brasil não tem legislação específica sobre teletrabalho. Por isso o código adotado é a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), apesar de a OIT (Organização Internacional do Trabalho) ter uma convenção sobre o tema desde 1996 --ainda não ratificada pelo Brasil.
Algumas empresas, porém, adotam a recomendação da OIT de fornecer toda a infra-estrutura necessária para o funcionário trabalhar fora da sede.
Existem hoje cerca de 4,5 milhões de teletrabalhadores no Brasil, segundo a Sobratt (Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividade).
E o índice de profissionais que atuam em casa, ligados a um telefone e conectados à internet, aumenta de 10% a 15% ao ano. "São funcionários de grandes empresas", diz o vice-presidente, Álvaro Mello.
O diretor de vendas da Dell Ricardo Menezes, 45, faz parte desse grupo. Há dois anos, tem em casa um apêndice da firma. Apesar de a empresa não enviar um engenheiro de ergonomia para avaliar a sua saúde, a experiência, conta, é satisfatória. "Além de economizar horas de trânsito, consigo fazer atividade física", avalia.
A consultora da IBM Roberta Dubini, 35, faz coro: "Tenho mais tempo para a família".
Exagero
A cultura do teletrabalho, no entanto, ainda não está consolidada no país, segundo Mello. É comum que profissionais que atuam em casa exagerem no tempo de execução de tarefas.
"No começo, meu marido dizia: você não vem jantar? Eu ficava absorvida e me esquecia do resto. Agora, estou mais disciplinada", afirma a analista de desenvolvimento de sistema do Serpro, Maristela Slak, 41.
O excesso, segundo o professor de sociologia da USP Ruy Braga, é o grande malefício do sistema. "O trabalho em casa invade o tempo que a pessoa teria para atividades lúdicas. E ela sempre trabalha mais do que se estivesse na firma", diz.