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Blog do João

21/07/2003 - 15h17

A mais longa das semanas

Desculpem o atraso, amigos, mas quinta-feira passada o bicho pegou. Não para o lado do João, mas para o meu. O fato é que tive uma febre animal, daquelas que vêm com calafrios grátis. Sorte que os avós maternos estavam ali, firmes, e acabaram salvando a situação, buscando o menino no berçário enquanto eu tiritava de frio sob as cobertas. Ele, de humor refeito, parecia ter compreendido a situação e se comportou muito bem, sem dar trabalho e dormindo tranquilo.

No dia seguinte, na sexta, acordei quase bom, mas marquei consulta, claro. Vai saber se esse troço é contagioso? Nada disso. Depois de um exame e algumas perguntas, o diagnóstico quase com 100% de certeza: a culpa é da pizza. Como assim? Pois é, como na quarta-feira havia sido aniversário do vovô, sugeri que ele escolhesse o sabor da redonda comemorativa. Lombinho canadense, disparou. Claro, por que não?, respondi já ligando para encomendar. Bem, o resultado, para o meu lado, foi essa intoxicação alimentar já descrita. E quanto a eles, os avós? Nada. Estão acostumados, me disseram.

Com esse tumulto todo, na sexta não tive tempo de sentar no meu terminal para atualizar esse diário. Mas continuando minha saga de "pai e mãe em um só", nesse mesmo dia recebemos mais um reforço: a minha mãe (meu pai, gripado, ficou impossibilitado de vir). Importada de Ribeirão Preto, chegou cedo, a tempo de me pegar ainda na cama. Um pouco assustada com o que viu, logo percebeu que o foco de atenção era --e não poderia deixar de ser-- outro, o João. Em segundos já estavam todos brincando na sala, feito crianças. Menos eu, que permaneci na minha, ainda à espera do diagnóstico. Envolvido numa sessão "aperta-estica-e-puxa", o menino estava definitivamente em boas mãos.

É bom dizer que a Mãe ligou todos os dias à cata de notícias. Contamos sempre tudo que estava se passando --ou quase. No caso do meu problema, achei melhor poupá-la. Afinal, o que ela poderia fazer desde os EUA? No mais, fomos atualizando as informações em boletins diários, como o combinado. Se ela falou com ele? Não, não falou. Achamos melhor assim, pois à medida que os dias foram se passando, a intensidade de chamados pela mãe foram diminuindo. Dessa forma, achamos que seria mais prudente deixar a coisa como estava. E assim foi.

O fim de semana transcorreu muito, mas muito tranquilo. Os avós maternos voltaram para Campinas, mas minha mãe, minha irmã e o tio Vivi ficaram aqui para dar aquela força. Com o tempo bom, passeamos, fomos tomar café-da-manhã na padoca e até chegamos a ir ao clube. Parece até que ele já estava se preparando para a volta da Mãe. Sim, pois além de disposto, o menino voltou a comer feito uma draga, já retomando o peso perdido com aqueles dias de jejum. Então, por que não ajudá-lo?

Neste item, o da ajuda, além do apoio incondicional de toda a tropa de choque (avós e tios), tivemos ainda o valoroso auxílio da turma do berçário. É inegável o fato de que à medida que ele foi voltando a frequentá-lo, seu humor e disposição foram se alterando --sempre para melhor, sempre. Talvez o retorno à rotina e ao convívio dos amigos tenham trazido mais confiança ao garoto. Foi ótimo.

Bem, hoje a última avó se foi. Estamos só eu e ele. Ainda que durante todo o período estivesse rodeado de gente, senti os laços entre nós se estreitarem. É como se tivéssemos nos tornado ainda mais amigos, mais próximos, cúmplices. Claro que rusgas e desentendimentos aconteceram, daquelas que cercam qualquer grande relacionamento, pois somos, os dois, um tanto quanto teimosos. Mas, sem dúvida, foi um aprendizado e tanto numa semana que durou uma eternidade e deixou bases de uma amizade para a vida toda.

E amanhã, bem cedo, ela chega. É festa!
Luiz Rivoiro é jornalista, editor-chefe do Núcleo de Revistas da Folha. Começou a escrever quando descobriu que a Mãe estava grávida, em agosto de 2001.

E-mail: lrivoiro@uol.com.br

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