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Blog do João

22/07/2003 - 15h52

O reencontro

Ela chegou. Finalmente. Era bem cedo, e o bebê ainda dormia. Se controlando para não acordá-lo, esperou até que ele abrisse os olhos e assumisse a posição tradicional de todas as manhãs, em pé, segurando na grade do berço. Eu entrei primeiro, conversei com ele, mas sem estragar a surpresa. Segundos depois, ela apareceu.

Por instantes, o menino pareceu não acreditar. Acho que pensou que ainda estava sonhando. Talvez tenha sido por isso que não sorriu, tampouco gritou "mamanhê". Estava visivelmente ressabiado. "Dessa vez vocês não pegam! Daqui a pouco eu acordo, ela some e cá estou eu de novo...", devia estar pensando.

A Mãe talvez esperasse uma outra reação, mais efusiva e vibrante. Afinal, depois de tanto sofrimento, não seria essa a reação mais natural? Mas não foi bem assim. Mas ela nem ligou. Tomou-o nos braços, abraçou, apertou e dizia o tempo todo que a mamãe havia voltado, que ele não precisa ficar preocupado. Funcionou.

Aos poucos, ele foi se soltando, o riso se abrindo e suas mãozinhas passaram a percorrer aquele rosto tão conhecido. Enquanto isso, eu, máquina em punho, tentava captar esse momento até agora inédito para nós: o reencontro. Nem sei se consegui, mas logo ele se comportava como se ela nunca tivesse ido. "Mamanhêêêê!", disparou a gritar cada vez que ela se enfiava pela cozinha ou sumia quarto adentro. Normal.

Saímos todos, tomamos café na padoca, fomos ao clube brincar no parquinho até que eu fui trabalhar. Ela, bem, mesmo depois de uma viagem de 12 horas sem pregar os olhos, sequer cogitou levá-lo ao berçário. Ficaram lá, os dois, em casa, se curtindo. Afinal de contas, eles merecem.
Luiz Rivoiro é jornalista, editor-chefe do Núcleo de Revistas da Folha. Começou a escrever quando descobriu que a Mãe estava grávida, em agosto de 2001.

E-mail: lrivoiro@uol.com.br

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