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Blog do João

19/05/2004 - 19h46

Anos difíceis

Bem, para quem está chegando agora, o João completou há pouco dois anos e três meses. Nessa fase, é incrível a capacidade que ele tem de nos surpreender, seja com uma palavra nova, uma frase inusitada ou uma observação tão bem sacada suficiente para nos deixar de queixo caído. Mas também começam aqui as primeiras divergências e, por que não dizer, as primeiras "brigas".

Nunca tive a ilusão de que viveríamos para sempre em perfeita harmonia. Nada disso. Mesmo por que, se assim pensasse, nossa vida caminharia para uma chatice sem fim. Bah! O fato é que ninguém me avisou que tão cedo deveríamos encarar essas nossas diferenças. E isso tem sido doloroso.

São situações corriqueiras, mas que, dependendo do humor (bom ou mau) do dia, acabam se transformando em pequenas batalhas envolvendo direitos, deveres e limites.

Por exemplo, guardar os brinquedos e livros após a brincadeira. Aparentemente simples, a questão pode se transformar numa epopéia quando ele (diferentemente do que sempre faz) se recusa a recolhê-los, e, não apenas isso, se empenha em espalhar mais apetrechos pela sala, quartos, cozinha. Como proceder?

Num primeiro momento, o diálogo. Caso não surta o efeito desejado (e às vezes não surte mesmo), insisto num tom mais firme, deixando claro que ele está agindo de forma errada, que deve colaborar. Nada. Mais duro ainda, retomo a iniciativa até que, irritado, ele começa a chorar. No fim, os brinquedos continuam por toda a parte e estamos os dois esgotados. Não é sempre assim, é bom dizer, mas às vezes rola.

Outra situação: ele arma a maior confusão na troca de roupa (vestir o pijama, por exemplo). Conversamos, ele se mantém irrequieto. Insisto, ele esperneia, grita, até que me pego tentando gritar mais alto. Coisa de louco? Parece, mas somos pai e filho, nos amamos, medimos forças e, no fim, perdemos os dois. Ou melhor, talvez minha perda seja maior, pois dói mais, bate aquela sensação de estar fazendo algo indevido, de que não estou preparado para lidar com a situação, enfim, que não sou o pai que imaginava ser.

Angustiado, saí perguntando a amigos com filhos na mesma faixa etária ou um pouco mais velhos para tentar entender o que se passa. Todos disseram que é uma fase, que logo acaba, que faz parte do processo de aprendizado e formação e etc. Tudo bem, ajudou um pouco, mas ainda não consegui lidar direito com tudo isso. Estamos aprendendo, juntos.
Luiz Rivoiro é jornalista, editor-chefe do Núcleo de Revistas da Folha. Começou a escrever quando descobriu que a Mãe estava grávida, em agosto de 2001.

E-mail: lrivoiro@uol.com.br

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