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Blog do João

06/08/2004 - 16h04

Um mar de histórias

"Papai, conta uma história, por favor?". Todo dia é assim. Pode ser em casa, na padaria, no carro, na hora do almoço, no jantar, antes de dormir, enfim, apareceu a deixa, lá vem ele com um livrinho embaixo do braço. E aí, o que eu faço? Bem, eu conto, claro!

O fato é que o João, do alto de seus dois anos e meio de vida, é um aficionado por literatura. Tudo bem, ele também é fã de cinema, vídeo e DVD, sobretudo do Rei Leão, do Nemo e dos dois Toy Story, mas nada se compara à sua precoce paixão pelos livros.

Talvez fosse algo a se esperar, visto que os pais são jornalistas, mas o curioso é que tudo aconteceu meio que por acaso quando a vovó Didi apareceu com um livro de figuras (em inglês!) há mais de um ano. Foi amor à primeira vista. Desde então, ao notarmos esse seu amor, decidimos correspondê-lo, introduzindo aos poucos mais e mais títulos em sua pequena biblioteca particular.

Se no início ele se aventurava sozinho pelas páginas hipnotizado pelas formas, desenhos e cores, hoje ele busca ajuda (minha e da Mãe, além de avós, tias e quem mais estiver por perto) para conhecer (ou reconhecer) as histórias que vão das clássicas (João e Maria, Três Porquinhos, Pinóquio, João e o Pé de Feijão) às Contemporâneas (Nemo, Shreck). Na verdade, já percebi, ainda que exista o "livro da moda" por um determinado período, o título não importa muito. O que vale é o ritual do "contar a história".

Assim, além das narrativas com livros e figuras, foram surgindo outras igualmente apaixonantes e que, melhor ainda, não custam nada: as histórias do 'menino João'. Nelas recriamos passeios, viagens, festas ou simplesmente a rotina do dia-a-dia. O interessante é que nessa "modalidade" ele acaba se envolvendo ainda mais, acrescentando detalhes ou corrigindo eventuais falhas de memória dos 'contadores'.

Essa prática também nasceu por acaso, quando flagramos meu pai, deitado no sofá exausto após a festinha de dois anos do João, contando em detalhes para um compenetrado menininho como havia sido a festa. Nas mãos do avô, um pequeno livrinho, que não passava de uma agenda telefônica virada de cabeça para baixo. Ao seu lado, o garoto quase não piscava, fascinado com aquela história tão familiar e ao mesmo tempo tão emocionante.

Desde então, procuro seguir à risca o escritor Rubem Alves, que diz que os pais jamais devem se negar a contar histórias para seus filhos. E aí, com todo respeito aos valorosos contadores de histórias profissionais, não vale terceirizar. Pai é pai. Que tal começar agora?
Luiz Rivoiro é jornalista, editor-chefe do Núcleo de Revistas da Folha. Começou a escrever quando descobriu que a Mãe estava grávida, em agosto de 2001.

E-mail: lrivoiro@uol.com.br

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