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Brasília Online

29/08/2006

Lula deve temer a própria força

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

As pesquisas recentes sobre a corrida presidencial revelaram mais do que a provável reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. Elas mostraram que o presidente poderá obter a maior vitória desde a redemocratização do Brasil em 1985.

Uma conquista dessa magnitude após um escândalo como o do mensalão deveria assustar o próprio conquistador, inspirando-lhe cautela para não meter os pés pelas mãos.

Vamos aos números das disputas presidenciais desde a redemocratização:

Em 1989, Fernando Collor de Mello e Lula passaram ao segundo turno com 30,48% e 17,19% dos votos válidos. Na segunda fase, Collor derrotou o petista por 53,03% a 46,97%.

Em 1994, o Plano Real vitaminou o tucano Fernando Henrique Cardoso, dando-lhe vitória no primeiro turno. Placar de 54,28% dos votos válidos contra 27,04% do petista.

Quatro anos depois, FHC se reelegeria em primeiro turno e imporia nova derrota ao PT. O tucano bateu Lula por 53,06% a 31,71%. Após três derrotas sucessivas, o petista chegou ao Palácio do Planalto em 2002. Lula venceu o tucano José Serra, mas teve de fazê-lo em duas etapas. No primeiro turno, o petista recebeu 46,44%. O tucano, 23,20%. Na segunda fase, Lula marcou 61,27%. E Serra, 38,73% dos votos válidos.

Na terça (29/08), pesquisa do instituto Sensus mostrou que Lula obteria uma vitória no primeiro turno com 62,3% dos votos válidos. Geraldo Alckmin, candidato da aliança PSDB-PFL, teria 23,8%.

A pesquisa Datafolha também confirma a possibilidade de vitória histórica. Desconsiderado o resultado do segundo turno de 2002, seria a melhor performance numa corrida pelo Palácio do Planalto desde 1989. De acordo com o Datafolha apurado e divulgado na terça, Lula tem 50% de intenção de voto contra 27% de Alckmin. Em votos válidos, são 56% a 30%.

Na mesma terça, porém, o próprio presidente e o seu partido deram sinais preocupantes. Tornado público, o texto do programa de governo de Lula começa com um ataque virulento ao PSDB e ao PFL. Para um presidente que havia falado em "entendimento nacional" na semana passada, foi uma bola fora.

De tarde, ao ser informado de novos ataques de FHC, Lula teve uma reação irada num hotel paulistano. Usou as palavras "golpista", "inveja" e "mau perdedor" para se referir ao ex-presidente.

Com esse espírito, Lula e o PT vão apenas acirrar ânimos que já estão para lá de Bagdá de tão exaltados.




Autocrítica e oposição

Se é compreensível que a oposição adote duro discurso de curto prazo para tentar evitar a vitória de Lula, é recomendável que modere o seu bombardeio caso o petista seja reeleito.

Que o PSDB e PFL cumpram o papel de oposição, se as urnas assim desejarem. Mas que o façam tentando compreender que prolongar um clima de guerra política poderá prejudicar o país e o plano de reencontrar a maioria do eleitorado em 2010.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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