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Brasília Online

03/09/2006

Se vencer, Lula muda ministério em novembro

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Se reeleito em primeiro turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará pausa para descanso após 1° de outubro para se isolar um pouco e pensar na montagem do novo ministério. Sua intenção é começar o mês de novembro com alterações na equipe.

As pesquisas atuais mostram muita chance de a maioria das principais eleições estaduais serem decididas logo no primeiro turno.

A região Sudeste é o melhor exemplo. Hoje, os tucanos José Serra e Aécio Neves ganhariam as eleições em São Paulo e em Minas. E os peemedebistas Sérgio Cabral Filho e Paulo Hartung venceriam as disputas no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.

Lula ainda mantém, por exemplo, a esperança de que o amigo Jaques Wagner (PT) consiga ir ao segundo turno na Bahia contra o governador Paulo Souto (PFL). No entanto, crê que uma articulação com os eleitos no Sudeste será fundamental para a formação do governo e de uma base de sustentação no Congresso.

São Paulo, Minas e Rio têm grandes bancadas no Congresso Nacional. Com cerca de 70% de intenção de voto no Nordeste, espera contar com o suporte de parte das bancadas parlamentares dessa região.

É sabido que Lula deseja formar um governo de coalizão com o PMDB. Assim, teria em torno de 200 deputados federais na Câmara (estimativa da soma das futuras bancadas peemedebista, petista e socialista).

A partir daí, selaria alianças menos fisiológicas com as siglas mais afetadas pelos escândalos do mensalão e do sanguessugas: PL, PTB e PP.

Faltaria a "agenda comum" com setores da oposição. "A idéia do presidente é trazer o PMDB para o conjunto e conversar com algumas lideranças do PSDB sobre a reforma política e outros assuntos fundamentais para uma governabilidade madura", diz reservadamente um auxiliar presidencial.

Serra e Aécio serão os "vencedores" do PSDB com os quais Lula tentará estabelecer alguma convivência pacífica no início do eventual segundo mandato. Claro que Serra tenderá a fazer contraponto mais duro ao petista. O presidente sabe disso e o entende.

No entanto, Lula e Serra têm pontos em comum sobre reforma política. Vêem com simpatia o final da reeleição em todos os níveis do Executivo e a volta de um mandato de cinco anos para o presidente.

Alguns perguntam o que Serra ganharia com isso, já que, se eleito, poderia concorrer a governador em 2010 na hipótese de naufrágio do projeto presidencial.

A proposta de final de reeleição em debate reservado entre membros da cúpula do governo e da oposição prevê a manutenção do direito de concorrer a um segundo mandato para os eleitos em 2006 que possam aplicá-lo em 2010.

Ou seja, como deverá ser reeleito em Minas, Aécio não poderia concorrer ao governo das Alterosas daqui a quatro anos. O mesmo valerá para Lula. Já Serra fará parte da leva de governadores eleitos pela primeira vez, como Sérgio Cabral.

Nesse contexto, o tucano paulista teria duas opções eleitorais em 2010. E poderia bancar as opiniões já sabidas de que acha a reeleição prejudicial ao país e de que um mandato de cinco anos para presidente seria melhor.

Além do final da reeleição, esse acordo com os tucanos preveria a instituição da fidelidade partidária e a criação de um fundo público para financiar os candidatos.

Concluir a reforma tributária, unificando as alíquotas estaduais do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), seria outro ponto de uma rodada de conversas com governadores eleitos.

Há real disposição do presidente de buscar um acordo com setores da oposição. É do interesse de todos. Nada a ver com manobra para dividir adversários. Lula tem pouca ilusão quanto a uma grande aliança ou a armistício que garanta dois anos de trégua com a oposição. No entanto, fará esforço para costurar a agenda mencionada linhas acima.

Se vingar algum entendimento, terá influência na formação da nova equipe do presidente em novembro. Quem conhece Lula diz que, se ele obtiver um eventual segundo mandato, buscará realizações históricas que não aconteceram no primeiro governo. Estenderá a mão a setores do PSDB. Mas não ficará na defensiva se a oposição recusar e mantiver a guerra política.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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