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Brasília Online

30/09/2006

Tenso, Lula teme segundo turno

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega ao primeiro turno da eleição à beira de um ataque de nervos. Nos bastidores, tem oscilado entre momentos de angústia, quando desanima e se isola para refletir, e de raiva, soltando palavrões pela contrariedade com o risco de perder uma reeleição que parecia assegurada depois de sobreviver ao escândalo do mensalão.

A pesquisa Datafolha divulgada sábado à noite revela indefinição: vitória de Lula no primeiro turno ou realização de uma segunda etapa na qual o petista teria de enfrentar o tucano Geraldo Alckmin.

No Datafolha, Lula teria 50% dos votos válidos contra 50% da soma dos adversários. Em eventual segundo turno, o petista marcaria 49% contra 44%. Ou seja, diferença muito pequena e que poderia ser revertida em um mês.

É um momento bastante ruim para o presidente, que demonstra ter sentido o golpe nas conversas reservadas. Irritadiço e cansado, avalia que o dossiêgate foi, sim, o responsável pela perda do favoritismo que ostentava nas pesquisas até uma semana atrás. O episódio reacendeu uma poderosa agenda negativa na hora H.

Nesse contexto, o presidente e seus principais auxiliares avaliavam no final de semana que o mais provável era a possibilidade de segundo turno. E temiam essa segunda fase, cujo resultado julgavam "imponderável".

Quem disputa a reeleição e enfrenta segundo turno corre sério risco de derrota. A tendência é o eleitorado dos oposicionistas se unir contra o situacionista. No PT, há especial curiosidade para saber qual destino tomará o eleitor de Heloisa Helena (PSOL), que ficou com 9% dos votos válidos no Datafolha. Cristovam Buarque teve 2% dos válidos; e os demais candidatos, 1%.

Lula tem chance de liquidar a fatura neste domingo, mas, como ele vem perdendo cacife pouco a pouco, a possibilidade maior é ocorrer uma segunda fase. A vitória em primeiro turno, se acontecer, tende a ser no olho mecânico.

Em qualquer cenário, o presidente se afastará um pouco mais do PT. Ele sabe que tem parcela de responsabilidade pelos erros do governo e do partido, mas culpa principalmente o PT pelos dissabores que enfrentou na administração e na reta final deste primeiro turno.

Se vencer neste domingo, diminuirá o peso da própria legenda na formação de um novo ministério e na aliança para compor maioria parlamentar. Se enfrentar um segundo turno, fará uma campanha algo distante do próprio partido e muito voltada para a suas realizações sociais. Ou seja, figurino "pai dos pobres" e ataques com comparações entre a sua gestão e os oito anos do tucano Fernando Henrique Cardoso. Lula será obrigado a descer do pedestal e entrar no ringue com Alckmin.

Em qualquer cenário, o presidente dará tratamento diferenciado aos líderes da oposição. Acenará para os mais moderados que não têm interesse na vitória de Alckmin, como José Serra e Aécio Neves. E chamará de "golpistas" e "conspiradores" os dirigentes mais radicais, como FHC e os presidentes do PSDB e do PFL, respectivamente os senadores Tasso Jereissati (CE) e Jorge Bornhausen (SC).
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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