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Brasília Online

04/10/2006

Debate é maior aposta de Lula

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Mais do que uma propaganda eleitoral que será bastante agressiva na comparação com a do primeiro turno, a principal aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é tentar vencer o tucano Geraldo Alckmin nos debates de TV.

Esse seria o "fato novo" para contrabalançar a vitória política de Alckmin, que passou à segunda fase após Lula cantar vitória antecipada. Um bom desempenho nos debates também ajudaria, na visão da cúpula do governo, a diminuir o desgaste do dossiêgate, este o calcanhar-de-aquiles do petista na avaliação dos próprios auxiliares.

Já estão confirmados os debates nas redes Bandeirantes (próximo domingo) e Globo (dia 27). As duas campanhas resistem ao encontro da TV Gazeta (dia 17), que teria menos audiência. E negociam eventual confronto na Rede Record.

"Não troque o certo pelo duvidoso", trecho do jingle da reta final do primeiro turno, "e o PSDB e Alckmin não são donos da ética", discurso que petistas entoam, deverão ser duas linhas estratégicas do programa de TV de Lula. Outras duas: continuar a vender Lula como o presidente que mais fez para os mais pobres e forte comparação com o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Um exemplo do que seria a linha "não troque o certo pelo duvidoso": a campanha lulista deverá tentar mostrar que a eleição de Alckmin colocaria em risco programas sociais, como o Bolsa Família. A exemplo do que o PSDB fez na campanha de 2002, quando dizia que votar em Lula significaria o final da estabilidade econômica da gestão FHC, o PT fará uso do que à época o próprio partido chamou de "terror eleitoral". Desta vez, em relação às medidas para os mais pobres.

O dossiêgate será respondido com a lembrança de casos de corrupção dos governos FHC e Alckmin. Lula usará os dados da Polícia Federal, dizendo que realizou número de operações bem superior do que FHC para mostrar que combate a corrupção.

No discurso lulista, não foi a corrupção que teria crescido em seu governo. Mas se tornado pública por ação da PF com seu aval. Apesar de tentado impedir CPIs, Lula dirá, como fez anteontem, que permitiu investigações congressuais em seu governo. Já FHC e Alckmin teriam abafado Comissões Parlamentares de Inquérito, como falou na segunda-feira.

Nos últimos dias, ministros e auxiliares do presidente têm dito que Lula deseja debater. Leia-se: vai para o ataque.

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Falta combinar com os russos

Convém lembrar que Alckmin foi muito bem nos debates de segundo turno contra José Genoino na eleição de 2002. O marqueteiro Luiz González, principal estrategista do tucano, tem muita experiência nesse tipo de confronto. Em 1998, Mário Covas foi bem contra Paulo Maluf num debate, o que foi fundamental para que virasse o jogo. Ou seja, Lula pode se dar mal, muito mal, se subestimar mais uma vez o tucano.

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Efeito Garotinho

Há satisfação na cúpula do governo com o apoio do casal Garotinho a Alckmin. Avalia-se que o tucano perderá pontos no Rio para Lula. Em termos de aliados, porém, Lula não tem lição de moral a dar.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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