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Brasília Online

08/10/2006

Para PT, Datafolha confirma "voto castigo"

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Na avaliação dos estrategistas da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele não venceu a eleição no primeiro turno devido a um suposto "voto castigo". Parcela do eleitorado antes propensa a votar no petista teria optado pelos outros três principais candidatos a fim de forçar uma segunda fase. Ou seja, dividiu-se entre Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e Cristóvam Buarque (PDT).

O dossiêgate teria reavivado na memória desse eleitor "quase lulista" a série de escândalos de um governo que seria diferente de todos os outros, como prometeu o PT ao longo de sua história. Um certo "salto alto", como admitiu o próprio presidente, também teria incomodado esse tipo de eleitor.

Lula cantou vitória. Disse que a "oncinha", ele, beberia água no domingo do primeiro turno. A "oncinha" ficou com sede.

A atitude humilde de Lula no dia seguinte já seria uma forma de tentar recapturar esse eleitorado. Na opinião da cúpula da campanha e do governo, o "voto castigo" explicaria a liderança de Lula na primeira pesquisa Datafolha após o primeiro turno.

Depois de "dar uma lição" no presidente e no PT, essa parcela do eleitorado teria voltado a manifestar intenção de voto no presidente. Não estaria completamente satisfeita com o governo. Reprovaria casos de corrupção, mas não desejaria o retorno do PSDB ao poder, argumentam auxiliares de Lula.

Divulgada na sexta-feira (06/10), a pesquisa Datafolha mostrou que o presidente teria 50% de intenção de voto. Alckmin, 43%. Os brancos e nulos somariam 3%. E os indecisos, 4%. Em votos válidos (excluídos brancos e nulos), Lula teria 54% contra 46% de Alckmin.

Diante do susto que levou no primeiro turno, Lula e auxiliares se sentiram aliviados com o resultado da pesquisa. Mas continuam preocupados. Uma diferença de oito pontos percentuais não é confortável. E será preciso trabalhar nas próximas três semanas, avalia o estado-maior lulista, de modo a não provocar o eleitor a dar um castigo ainda pior no PT e no presidente.




O maior temor

A maior preocupação de Lula é a administração do potencial de estrago do dossiêgate. A tentativa de petistas de comprar um dossiê contra o PSDB dinamitou a vitória em primeiro turno. Teria ainda, na visão de auxiliares próximos, como complicar a vida de Lula na segunda fase.
Nas palavras de um ministro, seria um "câncer que não pode ser operado", mas combatido com "quimioterapia". Entretanto, esse auxiliar diz não saber se a terapia dará certo.




A aposta

Lula tem dito que os debates com Alckmin serão decisivos. Preparou-se muito para o confronto deste domingo à noite na Rede Bandeirantes. Um bom desempenho, crê o presidente, criaria um "fato positivo" para se contrapor ao "negativo" (dossiêgate).

Alckmin, que parece ter perdido o primeiro round pós-primeiro turno (alianças políticas), preparou-se muito para o segundo round (debate). Talvez esses duelos não sejam tão decisivos como Lula e muitos políticos e jornalistas imaginam. Muitos e diferentes fatores influenciam a decisão de voto. No entanto, a expectativa gerada em torno dos debates já vale o ingresso.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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