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Brasília Online

29/10/2006

A política pós-Lula

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Reeleito hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará obrigatoriamente fora da cédula eleitoral de 2010. É um fato muito significativo. Lula concorreu a presidente nas últimas cinco eleições presidenciais, incluindo a que termina hoje. Perdeu as disputas de 1989, 1994 e 1998. Conquistou o Palácio do Planalto em 2002. E deverá ser confirmado no cargo neste domingo.

Como ficará o jogo político pós-Lula? O PT terá o imenso desafio de construir uma nova liderança capaz de concorrer com chance daqui a quatros anos. Na esteira dos escândalos do mensalão e do dossiegate, parece tarefa hercúlea. Pelo menos, aos olhos de hoje. Se Lula fizer um bom segundo mandato, terá cacife para ditar o rumo do PT e até obrigar o partido a fazer aliança com outra sigla na condição de vice ou apoiador.

E o PSDB, partido que desde 1994 disputa o poder central com o PT, lançará quem em 2010? Haverá espaço no mesmo partido para José Serra, governador eleito de São Paulo, e Aécio Neves, reeleito ao governo de Minas Gerais? Surgirão novas agremiações políticas, como resultado do enxugamento do quadro partidário em curso?

A seguir, uma avaliação sobre os futuros presidenciáveis e seus desafios:




Marta Suplicy

A ex-prefeita de São Paulo deverá integrar o primeiro escalão do segundo mandato. Cotada para a pasta das Cidades, é uma aposta do PT pós-Lula. Em 2004, ela perdeu a prefeitura para Serra. Ganhará agora a chance de voltar ao topo da política.

Marta disputará a prefeitura novamente em 2008? E se Geraldo Alckmin atrapalhar os planos de Serra de apoiar a reeleição do atual prefeito, o pefelista Gilberto Kassab? Alckmin sai desta eleição maior do que entrou, independentemente da votação que obterá hoje. Fixou seu nome nacionalmente. Tem forte imagem em São Paulo. Pode ser osso duro de roer para Marta em 2008. E atrapalhar um pouco os planos de Serra, se se inclinar por Aécio na disputa interna tucana.

Há quem aposte que a ex-prefeita preferirá continuar ministra até 2010, evitando o desgaste de ter de abandonar a prefeitura no meio do mandato se a conquistá-la. Basta lembrar o tanto que ela cobrou Serra por ter feito isso.




Uma revelação petista

Antes de cair em desgraça política no início de 2006, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, era o nome de Lula para a sucessão de 2010. Revelação, Palocci conquistou apoio empresarial e político ao conduzir com competência e habilidade a área econômica.

Será possível que outro petista repita o lado bom de sua ascensão política? Sim, mas não é fácil. Se Guido Mantega deixar a Fazenda, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, são os petistas cotados para substituí-lo.

Gabrielli é afinado com o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, político hábil e amigo de Lula. Não é mera especulação elencar Wagner no time de herdeiros de Lula. Taí uma possibilidade de surpresa.

Pimentel tem boa relação com Aécio e deseja suceder o tucano no governo mineiro em 2010. Tentaria um atalho para a Presidência se viesse a ter sucesso na Fazenda? Esses mineiros estão sempre surpreendendo na política.




Ciro Gomes

No campo lulista, é outro nome cotado para a sucessão de 2010. O presidente gosta muito dele, um ex-ministro que se elegeu deputado federal pelo PSB do Ceará. Ciro tem força no Nordeste. Aceitaria fazer uma aliança com Aécio, como aventam alguns petistas da cúpula? Ou seria o candidato de Lula daqui a quatro anos em parceria com Marta? O PT e a petista aceitariam a vice dele? Se Lula estiver forte e bancar, sim.




Aécio x Serra

Esse é o grande duelo. Os dois tucanos, com vantagem para Serra, encabeçam a lista dos candidatos mais fortes à sucessão de Lula. Alckmin vai querer entrar nessa briga? Talvez, mas já teve a sua chance.

Serra tem feito articulações para garantir o apoio do PFL à sua candidatura em 2010. Chega até a pensar em construir num novo partido político, de centro-esquerda, para não ter de ficar brigando com Aécio no ninho tucano. O governador eleito de São Paulo é uma espécie de queridinho do establishment, sobretudo empresariado e mídia.

Serra não deverá estar na linha de frente dos ataques da oposição ao presidente. Mas sabe que, daqui a dois ou três anos, terá de vestir os trajes de anti-Lula. O caminho da conciliação é de Aécio, que já aposta numa aproximação com o PT e o PMDB para tentar ser candidato a presidente em 2010.

Para dificultar a vida de Serra, o governador mineiro já estimula tucanos a estimular Alckmin a ser presidente do PSDB, em substituição ao senador Tasso Jereissati, e a concorrer a prefeito de São Paulo em 2008, numa manobra para dificultar a candidatura de Kassab à reeleição.

Como reza o surrado dito popular, muita água passará debaixo da ponte até 2010, mas a sucessão de Lula já está no centro das articulações de todos os grandes partidos.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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