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Brasília Online

30/10/2006

Os riscos do 2º mandato

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

A votação ainda transcorria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não estava reeleito, mas dois ministros importantes e que terão força no segundo mandato já prometiam mudanças na política econômica. Mau começo.

Tarso Genro (Relações Institucionais) falou em fim da "era Palocci". Dilma Rousseff (Casa Civil) disse que a economia passará para o "segundo momento" porque foi concluído um "conjunto de ajustes".

A credibilidade econômica do governo Lula foi conquistada a duras penas. Quando o presidente diz que recebeu o país quebrado em 2002, não reconhece que havia, sim, um temor do mercado em relação às idéias econômicas que implementaria no governo. Era a época do risco-país recorde, da falta de linhas de crédito para exportação etc.

No poder, Lula aplicou uma dura ortodoxia fiscal e monetária. Um dos fatores que ajudaram Lula a superar a crise política foi não ter havido uma crise econômica simultaneamente. Mesmo nos piores momentos dos escândalos do mensalão, a economia não foi afetada.

Diretores do Banco Central que Lula queria demitir no começo de 2005 (chegou a dar ordem a Palocci nesse sentido) sobreviveram porque os petistas "desenvolvimentistas" tinham de se preocupar com Roberto Jefferson e os desdobramentos de suas entrevistas à Folha.

Com o perdão da má poesia, quando José Dirceu falava de economia, o mundo caía. Tarso e Dilma abordam a economia muito mais do que tratam de suas respectivas áreas, articulação política e gerenciamento do governo. Estão fazendo o que o ex-ministro da Casa Civil fazia, a contragosto do presidente: tentar influenciar áreas que não estão diretamente sob comando.

Guido Mantega, ministro da Fazenda, virou um espécie de auxiliar da Casa Civil. Tenta se manter no cargo com apoio de Dilma e Tarso, além da fidelidade extrema ao presidente. É curioso e irônico que, no dia da reeleição de Lula, não tenha sido ele a dar a notícia de mudanças na economia.

Ora, achar que foi "concluído um período de ajustes" é de uma cegueira econômica tremenda. Houve ampliação dos gastos públicos no ano da reeleição de Lula. A questão fiscal é fundamental.

Lula foi ambíguo na sua primeira entrevista após reeleito. Disse que manteria uma forte política fiscal, mas soltou uma frase preocupante: "Conseguimos resolver o problema da macroeconomia". Não é verdade.

Lula corre dois riscos. O primeiro é não fazer nada na área fiscal. Fernando Henrique Cardoso cometeu o mesmo erro quando resolveu surfar nas ondas do populismo cambial. Adiou uma desvalorização que aconteceu à sua revelia em 1999, quando o país quebrou. Poderá contratar uma crise futura, ainda em sua gestão.

O segundo risco é o mercado começar a acreditar que Dilma e Tarso vão dar as cartas na economia. Se essa versão cola, Lula poderá jogar fora todo o sacrifício que fez nos últimos quatro anos.




Bastidores

Quando viu na TV a divulgação do resultado da Justiça Eleitoral que tornava irreversível a sua reeleição, Lula disse: "O povo me fez justiça". Num clima de emoção, um auxiliar muito próximo afirmou: "Essa vitória vai lavar as nossas dores".




Sinal preocupante

No pronunciamento e na entrevista, Lula foi pouco cordato com a oposição em geral e com Geraldo Alckmin em particular. Sinalizou que deseja um acordo, declarando que pretende conversar com todas as forças políticas até 15 de dezembro. Mas o tom do discurso o traiu.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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