Colunas

Brasília Online

22/08/2004

"Projeto Gabão" é o tema da hora no PT

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

"Projeto Gabão". Ao lado da recuperação da economia, esse é o assunto predileto das conversas reservadas das cúpulas do governo e do PT. O projeto passa pela definição do futuro de oito estrelas petistas, incluído o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tudo gira em torno da reeleição de Lula em 2006 e do futuro político-eleitoral de outros sete caciques do PT de São Paulo que vivem trocando cotoveladas nos bastidores.

Os caciques são os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil), a prefeita Marta Suplicy, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, o presidente do PT, José Genoino, e o senador Eduardo Suplicy.

Os cenários otimistas traçados na cúpula petista e no governo partem dos pressupostos de que Lula será reeleito em 2006 e de que, na sucessão de 2010, terá um sucesso econômico e administrativo capaz de eleger um petista. Três nomes são apontados hoje como presidenciáveis: Palocci, Marta e Mercadante.




PSDB sonhou com 20 anos de poder

O "Projeto Gabão" é ambicioso e guarda semelhança com o entusiasmo que tomou conta do primeiro mandato do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-98). Na época, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) previu 20 anos de poder tucano. FHC se elegeu presidente duas vezes no primeiro turno (1994 e 1998), mas não conseguiu fazer o sucessor em 2002.

Apesar das ressalvas, o fato é que a discussão do xadrez político das estrelas paulistas domina as cúpulas do governo e do PT.

Em conversas recentes com seus principais ministros e auxiliares, o próprio Lula achou equivocado debater publicamente sua reeleição. No entanto, nos últimos dias foram desencadeadas várias articulações que objetivam definir o futuro de petistas com base política em São Paulo.




Inspiração africana

O "Projeto Gabão" tem origem numa brincadeira de Lula com o presidente da Costa Rica, Abel Pacheco, na terça-feira (17/08). O brasileiro cometeu um ato falho ao falar de sua recente visita ao Gabão. Segundo relato de Pacheco, confirmado por Lula em conversas reservadas, ele disse: "Eu fui agora ao Gabão aprender como é que um presidente consegue ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar à reeleição".




Trégua paulista

Ao debater o "Projeto Gabão", Lula e o PT apaziguam caciques paulistas que vivem às turras uns com os outros. Assim, crê o presidente, diminui o número de atritos criados por petistas.

É por isso que a primeira fase do "Projeto Gabão" é um acordo da cúpula de que o candidato do PT a governador de São Paulo em 2006 deverá ser Mercadante, hoje com 48 anos.

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), 46, não tem chance de obter essa indicação. Mas, para compensar João Paulo, há uma esforço do governo para aprovar a emenda constitucional que permitiria a reeleição dele e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

No eventual segundo mandato de Lula, João Paulo viraria ministro ou presidente nacional do PT, posto hoje ocupado por José Genoino, 58. Já Genoino concorrerá a deputado federal em 2006 e tentará presidir a Câmara se Lula, atualmente com 58 anos, reeleger-se e o PT seguir com maioria na Casa.

Dentro das maquinações otimistas do PT, a prefeita Marta, 59, caso ela se reeleja em São Paulo, faria um segundo mandato com maior folga de caixa, viraria ministra em 2009 e assumiria a pré-candidatura à Presidência. Além de Mercadante, ela teria Palocci como concorrente.

Apesar de paulista, Palocci é o mais mineiro dos petistas. Nega até a alma qualquer projeto político. Mas mira na Presidência. Avalia que, se conduzir com sucesso uma recuperação econômica prolongada do país, será o preferido de Lula. O presidente hoje não esconde de ninguém a sua predileção pessoal e política por Palocci na categoria ministro.

Entre os membros da Esplanada dos Ministérios, Palocci, 43 anos e mais jovem cacique petista do "Projeto Gabão", é o presidenciável de 2010 no qual são depositadas mais fichas.




E o Dirceu?

Ex-presidente do PT e ministro influente, o chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, 58, não tem entrado nas discussões da cúpula petista sobre cargos majoritários.

Motivo: o caso Waldomiro Diniz diminuiu suas chances de sonhar com vôos mais altos. Waldomiro, ex-auxiliar de Dirceu, foi o pivô do maior escândalo do governo Lula até aqui. Pela proximidade com o chefe da Casa Civil, Waldomiro será sempre razão de desgaste em campanhas majoritárias, como ao governo de São Paulo ou à Presidência.

No máximo, pode sonhar em tentar um assento no Senado quando houver duas vagas em disputa por Estado. Isso só acontecerá nas eleições de 2010. Nas eleições de 2006, só haverá uma vaga por Estado. Pelo PT paulista já há um candidato tido como muito forte, o atual senador Eduardo Suplicy, 63.




Super-Varig

Deve sair em breve uma solução para o caso Varig, empresa que tem dívidas estimadas em cerca de US$ 2 bilhões. A posição preponderante no governo é repetir o que foi feito no primeiro mandato do tucano Fernando Henrique Cardoso com os bancos. Naquela época, foi lançado o Proer, sigla de Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.

Basicamente, a empresa quebra, separa-se o joio do trigo e o governo coloca, via BNDES, dinheiro público na parte boa. Ou seja, na Super-Varig, como tem sido chamada a eventual nova empresa.




Pressão alta

A sexta-feira 13 de agosto foi um dia duro para a administração Lula. O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, quase pediu demissão pela ação do dia anterior da Polícia Federal e do Ministério Público que apreendeu documentos na sede da instituição que dirige. Foi preciso intervenção direta do Palácio do Planalto para segurá-lo no cargo.

Na mesma sexta, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, entrou em parafuso. Achou que o BC sofreria ação parecida. Teve ministro que pensou que ele poderia sofrer um ataque cardíaco, de tão tenso que estava nas conversas internas do governo.

Nesse clima, Meirelles pressionou e ganhou a MP (medida provisória) que o blindou, dando-lhe foro privilegiado --responder a ações judiciais somente no Supremo Tribunal Federal e poder ser denunciado apenas pelo procurador-geral da República.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca