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Brasília Online

03/12/2006

Lula articula contra Serra e Aécio

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

"Vocês vão ficar parados esperando que o Serra e o Aécio decidam qual dos dois será o presidente em 2010?." Num misto de provocação e ironia, essa pergunta foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a petistas e peemedebistas com os quais se reuniu nas últimas duas semanas.

Lula não está empenhado apenas em viabilizar uma coalizão governamental entre PT e PMDB. Quer criar uma alternativa de poder ao PSDB pensando longe. Como não poderá ser candidato em 2010, avalia que precisa desde já fazer florescer no seu campo político uma expectativa de poder real para daqui a quatro anos, quando ele deixar a Presidência.

Nesse contexto, começa a alinhavar o que seria uma grande coligação eleitoral para a sucessão de 2010. Sua intenção é formar uma aliança formal com três legendas centrais: PT, PMDB e PSB. Outros partidos poderiam se integrar ao plano, mas esses três seriam a base de sua coalizão governamental e o eixo de uma forte coligação para se opor aos tucanos na próxima disputa presidencial.

As eleições de 2006 fizeram surgir no PT um novo presidenciável: Jaques Wagner, governador eleito da Bahia. Wagner terá o mais importante Estado sob comando do PT, num momento em que a forte seção paulista do partido está em crise.

A ex-prefeita Marta Suplicy é a única liderança paulista que sobrou com força após as crises do mensalão e do dossiegate. No entanto, lida em território tucano contra um poderoso José Serra, governador eleito de São Paulo. Marta não terá vida fácil. E Wagner, além de político habilidoso, é amigo do peito de Lula.

Nomes do PMDB e do PSB, respectivamente o ex-presidente do STF Nelson Jobim e deputado federal eleito Ciro Gomes (CE), também são aventados como possíveis candidatos a presidente da coligação que Lula já costura nos bastidores. O fato é que o presidente, apesar dos afagos que pretende fazer em Serra e no governador Aécio Neves, com os quais se reunirá em breve, não pretende se aposentar. Vai lutar para fazer o sucessor.

Obviamente, precisará terminar bem o governo. Se isso se concretizar, um candidato apoiado por ele poderia bombardear o antecipado favoritismo dos tucanos.




Os quatro preferidos

Da nova safra de governadores, Lula está "apaixonado" por quatro. Wagner, que lhe deu o maior presente nos Estados ao derrotar o carlismo. Sérgio Cabral, governador eleito do Rio e peemedebista que o apoiou firmemente no segundo turno. Eduardo Campos, governador eleito de Pernambuco que venceu uma forte coligação entre PSDB e PFL. E o governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda, um "amor antigo" como Wagner. Aliás, Wagner e Déda sempre mantiveram distância prudente do "núcleo de aloprados" do PT.




No deserto

Governadores eleitos, Serra e Aécio não pediram a Geraldo Alckmin indicações para suas equipes de governo. O tucano Alckmin foi derrotado na eleição presidencial, na qual se apresentou como o craque do "choque de gestão".




Em respeito aos leitores

No domingo 26 de novembro, reportagem da versão impressa da Folha assinada por este jornalista revelava que a Polícia Federal e o Ministério Público federal "firmaram a convicção de que a decisão de compra do dossiê contra tucanos partiu de Ricardo Berzoini, então presidente do PT e coordenador-geral da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva". E dava-lhe bastidores com novos personagens e revelações inéditas.

O texto não dizia que o relatório parcial do delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito do dossiegate, acusaria Berzoini. Logo no início da reportagem, houve o cuidado de registrar que informações ali reveladas poderiam não estar no relatório parcial. Talvez não venham a público tão cedo, dada a operação montada pelo PT e os "aloprados" para proteger Berzoini.

O jornal cumpriu o seu papel. Deu amplo espaço aos personagens para que apresentassem as suas versões. Mostrou os bastidores da investigação. Fez jornalismo, apesar de o PT não gostar disso quando as suas mazelas são escarafunchadas. A movimentação da PF e do Ministério Público na semana que passou só reforçou os dados trazidos a público pelo jornal.

Por último, não é verdadeira a versão que Berzoini e seu advogado divulgaram a respeito de um telefonema entre o delegado Curado e este jornalista.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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