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Brasília Online

31/12/2006

Lula e a opinião pública

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a maioria dos dirigentes petistas gostam de dizer que venceram as eleições contra a opinião pública. Puro erro de avaliação. Presidente e partido confundem opinião pública com "opinião publicada": os artigos e reportagens da mídia impressa que atingem público muito pequeno para um país com mais de 187 milhões de habitantes.

O Brasil possui uma opinião pública complexa. Além das camadas médias e ricas, ela também é formada pelas parcelas mais pobres da população graças à presença da TV em praticamente 100% do território nacional. Há ainda o tremendo peso da Rede Globo (leia-se "Jornal Nacional") na formação de uma opinião pública do Oiapoque ao Chuí. A reta final do primeiro turno deu prova disso.

Duas obviedades, portanto. Os mais pobres se informam por meio da TV. E o povo faz parte da nossa opinião pública.

Lula e o PT, porém, acham que apenas uma elite intelectual e econômica, a grande consumidora da mídia impressa, forma a opinião pública. Misturam as bolas e passam a fazer análises equivocadas e conspiratórias.

Apesar do mensalão, a maioria da opinião pública reelegeu o presidente porque viu qualidades reais em seu governo. A inflação baixa, cesta básica mais barata, reajustes significativos do salário mínimo, crédito consignado e o programa social Bolsa-Família foram alguns dos benefícios que a maioria da população enxergou e aprovou.

A pesquisa Datafolha que mostrou Lula como o melhor presidente de nossa história retrata um encantamento da opinião pública com o atual governo porque ele é bom. É uma administração com méritos na economia e na área social e que cometeu erros graves na política.

Agora, o presidente parte para uma segunda etapa. Seria inteligente entender que a aprovação da opinião pública se deveu sobretudo a uma política econômica que, apesar das imperfeições, assegurou margem de manobra para que o governo melhorasse a vida dos mais pobres. Tivesse ficado na pura ideologia esquerdista em suas ações administrativas, Lula estaria agora terminando muito mal o primeiro governo de um operário na Presidência. Que resista a essa freqüente e "sedutora" tentação no segundo mandato.




Vivíssima

A forte rejeição popular ao reajuste de 91% dos salários dos parlamentares federais é prova da existência de uma forte opinião pública no Brasil.




Segundo mandato

Na imprensa e no PT, lamenta-se muito que Lula tenha mudado quando assumiu o poder. Muita queixa de não ter aplicado o receituário econômico "alternativo-de esquerda-salvador do mundo". É um equívoco esse tipo de crítica. Não tivesse amadurecido, Lula teria cumprido a profecia de fracasso feita pela cúpula tucana no segundo semestre de 2002. A economia estava em crise naquele momento, e não era apenas temor do PT no poder, não. Ou 60% de relação entre PIB e dívida pública foram invenção do Lula oposicionista?

Havia uma dura realidade a enfrentar. E ainda bem que Lula soube lidar com ela na economia e na área social. Errou feio na política, como já comentado à exaustão neste espaço.

A política social foi possível graças à política econômica, não apesar dela. Mas é difícil isso entrar na cabeça de alguns ministros do presidente, que pedem que ele reviva o figurino pré-2002. Se topar, Lula fará um mal ao país.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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